Estudo sobre Hebreus 13:5-8
Estudo sobre Hebreus 13:5-8
Adultério e ganância violam o amor verdadeiro. Amor fraternal autêntico, porém, pureza do matrimônio e santa despreocupação são as marcas das pessoas que participam do “reino imutável de Deus” (Hb 12.28). Quem possui a cidadania no mundo de Deus (Ef 2.19; Fp 3.20) deve ser interiormente livre de posses terrenas, porque sabe que está guardado pela providência e proteção de Deus. Novamente são duas palavras do AT nas quais o apóstolo verifica a promessa e a confissão da igreja de Jesus. Em consequência, a palavra do AT não somente nos descerra a deliberação salvadora de Deus acerca da criação, redenção e consumação. Ela tampouco fornece apenas a chave para compreendermos corretamente a trajetória e a situação atual da igreja (cf. Hb 12.5,6). Pelo contrário, ela também nos dirige exortações práticas e estímulos para o cotidiano da fé. De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei. Nesta palavra, o apóstolo não está nem um pouco preocupado por estar retirando as promessas do AT do contexto lógico em que estiveram originalmente. Porque “todas as promessas de Deus são sim e amém” (2Co 1.20 [tradução do autor]) para a pessoa que vive na comunhão com Cristo. Por meio da exortação que ele antepõe às duas citações do AT o autor, porém, também deixa claro que as promessas de Deus no AT constituem declarações de Deus que, embora sejam sem reservas, não são isentas de condições. Somente aquele que não está empenhado em alcançar seus alvos pessoais, que coloca a causa de Deus no primeiro lugar da sua vida, que leva a sério as palavras de Jesus: “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça!” (Mt 6.33) também experimentará o auxílio de Deus em todas as situações e poderá confessar com o orador do AT: “O Senhor está comigo; não temerei. Que me poderá fazer o homem?” (Sl 118.6).
Leia mais
O apóstolo dá grande valor a que o âmbito pessoal na vida de um cristão e também o convívio dos fiéis na igreja sejam regidos e determinados pelo Espírito Santo. A vida de fé não é viável sem condução e obediência. Três vezes ele menciona os “guias”448 no presente capítulo. No v. 17 os destinatários são instruídos a obedecer-lhes, no v. 24 o apóstolo os incumbe de saudar a todos os guias, e aqui no v. 7 ele exorta os fiéis a lembrarem dos dirigentes que já faleceram. Os guias da igreja são homens que dirigem a vida da igreja com responsabilidade, que lhe explicam a Palavra de Deus de maneira compromissiva. Com base em sua capacidade de discernimento espiritual (Hb 5.14), eles decidem sobre as questões concretas da vida comunitária. Com certeza devemos situar estas pessoas entre os “presbíteros e bispos” (At 20.17,28). Sua conduta deve estar inequivocamente orientada pela Palavra de Deus, devem ser exemplos (1Tm 4.12; 1Pe 5.3), é a eles que a igreja deve seguir. A memória dos pais da fé (Hb 11) possui importância duradoura, assim como a dos guias da igreja em gerações passadas. Porque não somente na vida, mas também no “desfecho de nossa caminhada” (em grego, ékbasis), na morte do fiel, deve ser manifesta a glória de Deus.449 A fé da igreja é paradigmática no fato de que na mudança das gerações ela sempre se ateve ao Senhor imutável. Também dirigentes, guias de uma igreja, servos de Deus abençoados pelo Senhor, falecem. Porém Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre. Enquanto a forma terrena da igreja na transição das gerações está sujeita a uma contínua mudança, Jesus Cristo é sempre o mesmo. Como o “Cristo ontem” ele é o Filho de Deus, que viveu antes de todos os tempos na glória de Deus, que veio na carne e foi crucificado, que conquistou a redenção de um mundo perdido. Como o “Cristo hoje” ele é o Filho de Deus ressuscitado, que está entronizado como Sumo Sacerdote à direita de Deus e atua através de seu Espírito Santo nos fiéis, a fim de reunir e aperfeiçoar sua igreja na terra. Como o “Cristo eterno” ele é o Filho de Deus que retorna, para instaurar seu reino perpétuo neste mundo.
O v. 8 remete à revelação de Deus no Sinai, na qual Deus se deu a conhecer a Moisés como o “Eu sou quem sou” (Êx 3.14 [blh]). Jesus participa da eternidade de Deus. Assim como ele próprio é eterno, também recebeu um serviço eterno (Hb 7.17,25). Desta maneira, o apóstolo leva seus leitores de volta à ideia que ele havia colocado no começo de sua carta (Hb 1.12), quando interpretou a palavra do Sl 102.27 para Cristo: “Tu, porém, és sempre o mesmo, e os teus anos jamais terão fim!”
Índice:
Hebreus 13:5-8
Notas:
448 O termo grego hegoúmenoi tem significado análogo a prohistámenoi em Rm 12.8; 1Ts 5.12.
449 Também a palavra do moribundo possui um peso singular na Bíblia (Gn 48.21; 49.1); cf. o comentário a Hb 11.20-22.