Estudo sobre Hebreus 13:20-21
Estudo sobre Hebreus 13:20-21
Há pouco o apóstolo ainda conclamava a igreja à intercessão. Agora ele ora pessoalmente pelos fiéis aos quais dirigiu sua carta. Neste voto de oração ele resume sua instrução doutrinária e todas as exortações que escreveu à igreja. Com palavras bem simples de louvor e intercessão a carta é encerrada, dirigindo mais uma última vez o olhar dos fiéis para a pessoa e obra de Jesus Cristo, que é o eixo de toda a sua carta. Estes versículos possuem importância especial porque representam um hino. Depois que o apóstolo falou sobre a pessoa exaltada de Jesus e sua obra extraordinária de redenção, resta-lhe tão somente uma coisa: a adoração! Deste modo, o apóstolo quer conduzir também a nós hoje pelos grandes pensamentos da salvação de Deus, ajudar-nos na concretização da fé no cotidiano e finalmente levar-nos à adoração a Deus adequada.
Em meio à aflição e tribulação, em vista de uma iminente onda de perseguição e martírio, o apóstolo se volta ao “Deus da paz”. Através desta interpelação de Deus ele expressa a experiência de todos os fiéis da antiga e nova alianças. Gideão já havia experimentado a presença e o socorro do Senhor na luta contra o poder muitas vezes maior dos midianitas, construindo um altar com a confissão: “O Senhor é paz!” (Jz 6.24).467 O Deus da paz era o Deus dos pais, ele é também o Deus dos fiéis da nova aliança, que se sentem seguros na sua paz. O apóstolo faz referência à figura do bom pastor do AT, a fim de falar da obra salutar de Jesus, que ele consumou em nosso favor. O que o Deus onipotente foi de modo abscôndito para Israel, o “Pastor de Israel” (Sl 23; 80.2), Jesus Cristo, o Filho de Deus manifesto na carne, é para a igreja do NT.468 Jesus declarou: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). Jesus é o grande Pastor das ovelhas, que exerce seu ministério pastoral de modo único (cf. 1Pe 5.4). Ele enfrentou por nós a morte. Deus o ressuscitou por nós. “(Ele) foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm 4.25). Através de sua paixão e morte, com o seu sangue, Jesus fundamentou a aliança eterna, que nos assegura a inalterável comunhão com Deus.469 O Deus da paz nos presenteou com a sua paz na reconciliação e redenção. Jesus consumou a obra redentora por nós na cruz. Agora o Senhor exaltado também está aperfeiçoando a sua obra de salvação em nós. O que o apóstolo descortinou aos olhos da igreja como caminho da fé e da santificação (Hb 11–13), Cristo efetua pessoalmente nos fiéis por intermédio de seu Espírito Santo.470
O apóstolo se inclui na oração pela igreja (cf. blh, nvi, vfl, bj): vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós (“em nós”) o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo. O “bem” é a vontade de Deus. Portanto, na vida dos fiéis é bom somente o que corresponde à vontade de Deus.471 Por ser avesso, sim impossível, ao nosso ser natural realizar a vontade de Deus (Gl 5.17), o próprio Deus, pelo poder de seu Espírito, transforma a vida dos seres humanos que se entregam inteiramente a ele de acordo com a sua vontade. Deus o realiza através daquele que está invisivelmente presente na igreja, Jesus Cristo. Assim como na terra o Filho não podia fazer nada sem a vontade e a autorização do Pai (Jo 5.19), assim inversamente o Pai, no tempo da igreja, não realiza nada de modo direto, porém efetua tudo através de Cristo.472
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A igreja de Jesus vive na certeza de que Cristo consumou por nós a obra da redenção e que aperfeiçoará sua obra de salvação em nós. Por isto, toda a proclamação da palavra de Deus perante o mundo e toda a instrução bíblica na igreja, incluindo a aprovação de nossa fé no cotidiano, servem agora a um só alvo – a glorificação de Jesus Cristo. É por esta razão que o voto de oração do apóstolo desemboca na adoração: a quem seja a glória para todo o sempre. Amém! Nestas palavras, o apóstolo se une às multidões dos anjos, que louvam a Deus acima dos campos de Belém (Lc 2.14), ao louvor da multidão humana que celebra, saudando o Senhor Jesus por ocasião da entrada na cidade santa (Lc 19.38), e ele se soma ao apóstolo Paulo, que adora diante da infindável riqueza dos pensamentos de salvação de Deus: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! […] Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.33,36).
Índice:
Hebreus 13:20-21
Notas:
467 Jz 6.24, em hebraico shalom, em grego eiréne kyríou (lxx).
468 Cf especialmente a profecia messiânica em Ez 34.11-16,23,24.
469 No profetismo do AT a nova aliança já é descrita como uma aliança eterna: Is 55.3; 61.8; Jr 32.40; 50.5; Ez 16.60; 37.26.
470 J. Calvino, pág 178: “Afinal, não somos de modo algum hábeis para o bem, até que Deus nos tenha criado de novo. Nem somos capazes de permanecer nele, quando ele não nos fortalece. Porque perseverar no estado da salvação constitui exclusivamente uma graça sua.”
471 Cf Rm 12.1,2; 2Ts 2.17; 1Pe 5.10.
472 Cf 2Co 3.17,18.