Comentário de A.T Robertson: João 1:13-14

1:13 Que nasceram (Gr.: hoi egennethesan). Primeiro aoristo passivo indicativo de gennao, gerar, “que foram gerados.” Por generação espiritual (de Deus, Gr.: ek theou), não fisicamente (Gr.: ex haimaton, o plural que é comum nos clássicos e no A.T., embora a razão não seja clara, a não ser sangue de ambos o pai e a mãe; ek thelematos sarkos, do desejo sexual; ek thelematos andros, do desejo do homem). mas b do antigo Latim que lê qui natus est e o refere a Cristo e assim expressamente ensina o Nascimento Virginal de Jesus. Da mesma forma, Irineu lê qui natus est como faz Tertuliano que argumenta que qui nati sunt (Gr.: hoi egennethesan) é uma invenção dos Gnósticos Valentinos. Blass (Philology of the Gospels, p. 234) se opem a essa leitura, mas todos os antigos uniciais Gregos leem hoi egennethesan e assim deve ser aceito.O Nascimento Virginal é, sem dúvida, subentendido em João 1:14, mas não está afirmado em João 1:13.

1:14 E a Palavra se tornou carne (Gr.: kai ho logos sarx egeneto). Veja João 1:3 com respeito a esse verbo e note seu uso para o evento histórico da Incarnação do que en de João 1:1. Note, também, a ausência do artigo com o predicativo substantivo sarx, de forma que não pode significar “a carne se tornou a Palavra.” A preexistência do Logos já tem sido plenamente afirmado e argumentado. João aqui não diz que o Logos entrou em um homem ou habitou em um homem, ou possuiu um homem. Pode-se fica à vontade para ver uma alusão as narrativas do nascimento em Mat 1:16-25; Luc 1:28-38, se ele desejar, visto que João claramente tinha os Sinóticos diante dele e os suplementou principalmente na sua narrativa. De fato, pode-se, também, estar à vontade para se perguntar que significado inteligente alguém pode dar à linguagem de João aqui à parte do Nascimento Virginal? Que pai ou mãe, alguma vez, falou de um filho “tornando-se carne”? Para a Encarnação, veja também 2Cor 8:9; Gal 4:4; Rom 1:3; 8:3; Flp 2:7; 1Tim 3:16; Heb 2:14. “Para explicar o exato significado de egeneto nessa sentença está além da capacidade de qualquer interprete” (Bernard). A menos que, de fato, como parece pleno, João está se referindo ao Nascimento Virginal como registrado em Mateus e Lucas. “O Logos da filosofia é, declara João, o Jesus da história” (Bernard). Assim, João afirma a divindade e a real humanidade de Cristo. Ele dá uma resposta aos Gnósticos Docéticos que negavam a Sua humanidade.


Habitou entre nós (Gr.: eskenosen en hemin). Primeiro aoristo ingressivo aoristo ativo indicativo de skenoo, verbo arcaico, armar uma tenda ou tabernáculo (skenos ou skene), no N.T. apenas aqui e Ap 7-15; 12:12; 13:6; 21:3. Em Apocalipse é usado com referência a Deus tabernaculando com os homens e aqui do Logos tabernaculando, a glória da Shekinah de Deus aqui entre nós na pessoa de Seu Filho

Nós observamos a sua glória (Gr.: etheasametha ten doxan autou). Primeiro aoristo médio indicativo de theaomai (de thea, espetáculo). A experiência pessoal de João e de outros que, de fato, reconheciam Jesus como a glória (Gr.: doxa) da Shekinah de Deus como Tiago, o irmão de Jesus, assim O descreve (Tg 2:1). João emprega theaomai norvamente em João 1:32 (O Batista contemplando o Espírito descendo como uma pomba) e João 1:38 do Batistao em êxtase olhando para Jesus. Assim também João 4:35; 11:45; 1Jo 1:1.; 4:12, 4:14. Por essa palavra João insiste que no Jesus humano ele contemplou a glória da Shekinah de Deus que é o Logos que existia anteriormente com Deus. Por esse plural, João fala de si mesmo e todos aqueles que viram em Jesus o que ele viu.

Como do unigênito do Pai (Gr.: hos monogenous para patros). Estritamente, “como de um unigênito de um pai,” visto que não há qualquer artigo com monogenous ou com patros. Em João 3:16; 1João 4:9, nós temos ton monogene referindo-se a Cristo. Esse é o primeiro uso no Evangelho de pater de Deus em relação com o Logos. Monogenes (único nascido, ao invés de único gerado) aqui se refere a relação eterna do Logos (como em João 1:18) ao invés de Encarnação. Isso distingue, portanto, entre o Logos e os crentes como filhos (Gr.: tekna) de Deus. A palavra é usada dos relacionamentos humanos como em Luc 7:12; 8:42; 9:38. Ela ocorre também na LXX e Heb 11:17, mas em canto algum no N.T. apenas nos escritos de João. É uma palavra antiga na literatura Grega. Não é claro se as palavras para patros (do Pai) devam ser conectadas com monogenous (cf. João 6:46; 7:29, etc.) ou com doxan (cf. João 5:41, 5:44). João claramente quis dizer que “a glória manifestada da Palavra era, por assim dizer, a glória do Pai Eterno compartilhada com Seu Filho único” (Bernard). Cf. João 8:54; 14:9; 17:5.

Cheio (Gr.: pleres). Provavelmente acusativo adjetive em harmonia com doxan (ou genitivo com monogenous) do qual nós temos os exemplos do papiro (Robertson, Grammar, p. 275). Como o nominativo pleres pode concorda com o sujeito de eskenosen.

De graça e verdade (Gr.: charitos kai aletheias). Curiosamente, essa grande palavra charis (graça), tão comum com Paulo, não ocorre no Evangelho de João, exceto em João 1:14, 1:16, 1:17, embora aletheia (verdade) é uma das palavras chaves no Quarto Evangelho e em 1João, ocorrendo 25 vezes no Evangelho 20 nas Epístolas Joaninas, 7 vezes nos Sinóticos e nenhuma vezes sequer em Apocalipse (Bernard). Em João 1:17 essas duas palavras retrata o Evangelho em Cristo, em contraste com a lei de Moisés. Veja as Epístolas de Paulo para a origem e o uso de ambas as palavras.


Fonte: The Robertson's Word Pictures of the New Testament de Archibald Thomas Robertson. Copyright © Broadman Press 1932,33, Renewal 1960. Todos os direitos reservados. (Southern Baptist Sunday School Board)