Interpretação de João 11

João 11

Em João 11, Jesus realiza um de seus milagres mais famosos ao ressuscitar Lázaro dentre os mortos. Lázaro já estava morto há quatro dias quando Jesus chega ao seu túmulo e ordena que ele saia, demonstrando seu poder divino sobre a morte. Este evento aumenta tanto a fé de alguns como a oposição de outros, preparando o cenário para a escalada do conflito entre Jesus e os líderes religiosos. O capítulo destaca temas da autoridade de Jesus sobre a vida e a morte e o impacto de seus milagres naqueles que os testemunharam.

Interpretação

11:1-57 Esta narrativa inclui a doença, morte e ressurreição do amigo de Jesus e a reação do Judaísmo oficial diante do milagre. Conclui com a notícia do despertamento do interesse popular por este homem que estava emocionando a nação. Esse Alguém que provara ser a Luz do mundo restaurando a vista de um cego provou agora ser a Vida dos homens, o Vencedor da morte.

11:1-4 João dá o cenário do milagre – a doença de Lázaro e a comunicação desse fato a Jesus. Maria e Marta são mencionadas como se já fossem conhecidas do leitor (cons. Lc. 10:38-42), mas Lázaro precisa de apresentação porque seu nome não aparece na narrativa de Lucas. É interessante notar que todos esses três nomes aparecem em inscrições de ossuários escavados na Judeia ultimamente, mostrando que os nomes eram comuns nesse período (V. F. Albright, The Archaeology of Palestine, pág. 244). O escritor antecipa-se a sua própria narrativa de 12:1-9 identificando Lázaro como o irmão da Maria que ungiu o Senhor (11:2). Transmitindo a informação da doença de Lázaro a Jesus, as irmãs demonstraram notável reserva, satisfazendo-se em declarar o fato, sem fazer nenhum pedido (v. 3). A menção do amor de Jesus por Lázaro foi, contudo, uma espécie de apelo em si mesmo, ainda que delicado. Esta enfermidade não é para morte. No exato momento em que falava, Lázaro já estava provavelmente morto (cons. v. 39). As palavras pertencem a um significado mais elevado, associado com a glória de Deus, a qual também é do Filho. Uma ressurreição demonstraria essa glória (uma revelação do poder divino) melhor do que a restauração de um doente.

11:5, 6 Nota-se o amor de Jesus por toda essa família, desafiada contudo, ainda que aparentemente, por sua inatividade em permanecer onde estava por dois dias, sem se preocupar em retornar a Betânia. A última parte do capítulo ajuda a decifrar este mistério. Esperando, para depois vir e ressuscitar Lázaro dos mortos, Jesus suscitou tal oposição que a sua morte parecia certa. Essa foi a medida do Seu amor pela família de Betânia.

11:7-16 Discussão entre o Senhor e seus discípulos sobre a crise de Lázaro. Jesus propôs uma volta à Judéia – não Betânia, como se fossem visitar a família e depois retornar – mas Judéia mesmo, o centro da oposição. Os discípulos ficaram imediatamente preocupados. Parecia-lhes temeridade, como andar na direção de uma armadilha. Jesus acabara de escapar de um apedrejamento (11:8; cons. 10:31, 39). A resposta do Mestre pode ter sido enunciada logo após a madrugada. Aplicava-se a Ele e a Seus seguidores. Podia voltar seguramente à Judeia contanto que andasse na luz da vontade do Pai. Seus inimigos não lhe tocariam até que chegasse a Sua hora. Então, por um pequeno espaço de tempo, as trevas espirituais da oposição teriam permissão de se fecharem sobre Ele (v. 9). Quanto aos discípulos, cabia-lhes não andar nas trevas da vontade própria e separação dEle. Na falta da sua luz, eles realmente tropeçariam (cons. 9:4, 5). Nosso amigo Lázaro, adormeceu. Não sabendo da sua morte, os discípulos interpretaram estas palavras do Senhor literalmente e acharam que havia esperanças para a sua recuperação. Mas Jesus usou a palavra “dorme” num sentido especial, referindo-se à morte do crente (cons. Atos 7:60; I Ts. 4:13). Logo a seguir anunciou bruscamente que Lázaro estava morto (Jo. 11:14). Outro paradoxo é que o Salvador disse que se alegrava por não ter estado lá. O motivo está claro. Se estivesse lá, Lázaro não teria morrido (nunca ninguém fê-lo em Sua presença); e nesse caso uma das maiores lições de fé a serem dadas aos discípulos através da ressurreição de Lázaro teria se tornado impossível (v. 15). Os discípulos nunca chegaram a um ponto de adiantamento que não necessitassem de confirmação e desenvolvimento de Sua fé. Tomé, chamado Dídimo (gêmeo), foi o primeiro a responder à segunda proposta de Jesus de ir para a Judéia (11:15, 16; cons. v. 7).

11:17-19. Quatro dias. Ao que parece Lázaro morreu logo depois que o mensageiro foi enviado. Dando um dia para a sua viagem, dois dias para a demora de Jesus, e um dia para a sua volta, chegamos a esse total. A distância entre a Betânia além do Jordão e a Betânia perto de Jerusalém era de cerca de 32 quilômetros. Considerando que a casa ficava a apenas pouco mais de 3 quilômetros da cidade de Jerusalém (v. 18), muitos dentre os judeus acharam possível vir e oferecer condolências. Judeus aqui não se refere aos líderes. Sua presença era, entretanto, ambígua. Vindo a Betânia para acompanhar um enterro, alguns deles retornaram a Jerusalém como informantes (11:46).

11:20-27 O encontro entre Jesus e Marta. As duas irmãs aparecem nesta narrativa em papéis característicos. Marta, pronta para ação, foi aquela que deu as boas-vindas a Jesus. Maria, absorvida em sua dor, ficou quieta. Marta tinha uma queixa Jesus não estivera lá. Que diferença sua presença teria causado! Mas ela não estava criticando. Como já notamos, Lázaro já estava morto quando a notícia de enfermidade foi levada a Jesus. Marta encontrou em Jesus uma fortaleza. Suas palavras (v. 22), entretanto, quase desafiam a análise. Elas são uma expressão da confiança nEle, considerando-O tão achegado a Deus e capaz de obter um favor dEle; mas ressurreição imediata não parecia estar em sua mente (cons. v. 24). Ao afirmar a ressurreição de Lázaro, Jesus não mencionou a hora (v. 23). Marta subentendeu – no último dia; mas ela o disse sem entusiasmo, pois enquanto isso seu irmão permaneceria nos braços da morte. O Senhor tomou a iniciativa de corrigir a fé imperfeita de Marta (cf. v. 22) chamando sua atenção para o poder que tinha sobre a morte. Eu sou a ressurreição e a vida. Neste caso a revelação da palavra precedeu a revelação do feito. O ensinamento vai além do caso de Lázaro e inclui todos que creem. Duas verdades foram aqui declaradas. O crente pode morrer, como Lázaro, mas pelo poder de Cristo viverá, isto é, experimentará a ressurreição. Mas ainda mais importante é a posse da vida eterna obtida mediante a fé em Cristo. Aqueles que têm esta vida não podem morrer nunca no sentido de serem separados da fonte da vida (vs. 25, 26). Desafiada a crer nisto, Marta fez aquela confissão por causa da qual este livro foi escrito (11:27; 20:31), mas ela não compreendeu as implicações de sua própria declaração. Para ela, Cristo ainda não era o Senhor absoluto da vida e morte, um Salvador completo (cf. vs. 39, 40).

11:28-32 Jesus e Maria. Marta contou calmamente (em particular) à Maria a notícia de que o Mestre viera, provavelmente esperando tornar possível um encontro particular de sua irmã com Jesus. Mas os judeus que estavam presentes seguiram Maria ao lugar fora da aldeia onde Jesus e Marta tinha se encontrado, porque pensaram a princípio que ela estivesse deixando a casa para ir à sepultura. Em prova de reverência e de seu desamparo, Maria lançou-se-lhe aos pés. Suas primeiras palavras foram iguais às de Marta. Provavelmente esse sentimento foi expresso repetidas vezes entre as duas depois da morte do irmão.

11:33-37 A tristeza de Jesus. Agitou- se no espírito. A palavra grega para agitou-se, repetida no versículo 38, parece que normalmente transmite a ideia de raiva por causa de alguma coisa. Considerando que Cristo não poderia ter sentido raiva para com Maria e os amigos que choravam com ela, é provável que essa profunda emoção fosse devido ao seu íntimo protesto contra a devastação que o pecado introduziu no mundo, com enfermidade e morte e tristeza por terrível consequência. A caminho da sepultura, Jesus chorou, vertendo lágrimas. Foi um choro silencioso contrastando com o clamor audível sobre Jerusalém ((Lc. 19:41). Os judeus que estavam presentes viram também evidências de Sua limitação. Ele dera vista aos cegos (Jo. 11:9), mas a morte era grande demais para o Seu poder (v. 37). Talvez na segunda vez em que se perturbou houvesse um misto de indignação por causa dessa visão míope do Seu poder.

11:38-44 O milagre propriamente dito. Essa gruta em Betânia já foi descrita por alguém que a visitou atualmente como profundamente cavada na rocha. Tirai a pedra. Só Cristo podia ressuscitar mortos, mas outros podiam participar de acordo com a sua capacidade. Marta, perturbada diante de uma ordem tal, vinda de Jesus, tentou interpor objeção; ela achava que o corpo certamente já tinha começado a se decompor. Quatro dias já tinham passado desde a morte. Sem dizer o que propunha-se a fazer, Jesus incentivou a fé de Marta, fazendo-a lembrar -se de suas palavras anteriores, aparentemente voltando ao assunto do versículo 23. Mas desta vez Ele declarou o iminente acontecimento em termos de glória de Deus (cons. 11:4). A glória aqui era o poder de Deus em operação, declarando a sua soberania (cons. 2:11). Não poderia haver agora um retorno; a pedra já fora removida (v. 41). Só uma coisa restava a ser feita. Por amor da multidão era preciso esclarecer que aquilo que ia ser feito seria feito através da comunhão de vida e poder desfrutada pelo Filho com o Pai – para que eles cressem. Não era um pedido para ser ouvido mas uma ação de graças pelo constante laço de comunhão e compreensão.

As garras da morte foram quebradas pela voz de autoridade que chamou, Lázaro, vem para fora. Cristo declarou que virá o dia quando todos os mortos justificados obedecerão semelhantemente a essa mesma autoridade (cons. 5:28, 29). O Senhor não tocou no trabalho das mãos amorosas que preparam o corpo para o sepultamento, para que elas mesmas pudessem ter a alegria de desfazer esse trabalho libertando Lázaro (Lembre-se da participação humana em remover a pedra.)

11:45, 46 O milagre resultou em uma resposta caracteristicamente diferente. Muitos... dentre os judeus... creram; outros foram ter com os fariseus e contaram o que tinha acontecido.

11:47-50 O efeito sobre o Sinédrio. Este foi um dentre os muitos sinais. Os líderes sentiam-se completamente frustrados. O que deviam fazer? Expressaram seus temores de que todo o povo cresse nEle – no sentido de lhe dar seu apoio e segui-lo como o Messias. Isto certamente provocaria os romanos que viriam sobre os judeus com força, uma vez que interpretariam tal coisa como revolução política. Então os judeus perderiam o seu lugar (Templo) e a nação. Sob o poderio dos romanos, desde o tempo de Júlio César, eles desfrutavam de certos privilégios como “a nação dos judeus”. Exatamente a situação que eles temiam desenvolveu-se em resultado da guerra dos judeus contra Roma, nos anos 66-70 A.D. Repreendendo o grupo com “Vós nada sabeis”, Caifás idealizou um plano que era cruel, mas simples: Acabar com o ofensor. Fazê-lo morrer pelo povo, para que toda a nação não perecesse. Naquele ano. Não foi uma referência ao mandato do ofício, mas à importância daquele ano para Israel e o mundo.

11:51, 52 João queria que seus leitores se conscientizassem do fato de que estas palavras do sumo sacerdote eram proféticas. As palavras, de certo modo, foram colocadas em sua boca. Profetizou. Aqui temos um Balaão que teria amaldiçoado a Jesus, mas da profecia surgiu a concretização do propósito de Deus de que Cristo morreria pela nação, num sentido vicário e redentivo, e até para um grupo ainda maior, todos os filhos de Deus dispersos, numa perspectiva futura, que seriam reunidos nEle. (Conf. 10:16.) Como foi bom que um homem que exerceu o cargo de sumo sacerdote tivesse, sem saber, apresentado a obra de Cristo como o Cordeiro que tira o pecado do mundo!

11:53, 54 O conselho do sumo sacerdote solidificou o propósito do concílio de modo que, daquele momento em diante, ficou plenamente estabelecido que Jesus tinha de morrer. Por causa disso Jesus achou melhor retirar-se daquela área e foi para um lugar chamado Efraim, perto do deserto. Tem-se tentado identificar esse lugar como situado a doze milhas mais ou menos ao norte de Betânia, perto do lugar onde o planalto começa a descer abruptamente para o vale do Jordão.

11:55- 57 Com a Páscoa que se aproximava, Jesus não podia se ausentar da cidade por muito tempo. Embora o momento não estivesse ainda chegado, Efraim não era o substituto do cenáculo. Os próximos passos de Jesus ficaram envoltos em silêncio. João chama nossa atenção para os peregrinos que começavam a dirigir-se para Jerusalém. Na sua maioria eram simpáticos para com Jesus, contrastando com as autoridades, e trocavam ideias uns com os outros sobre se o seu herói teria a coragem de enfrentar a oposição do concílio indo à festa. Se os líderes tinham alguma autoridade sobre o povo, deviam ter muitos informantes (v. 57).

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