Apocalipse 4 — Comentário Evangélico

Apocalipse 4

4:1 Esse é um retrato vivido do arrebatamento da igreja. O versículo 1:19 apresenta um resumo divino do re­lato de Apocalipse, da mesma forma que agora estamos para ver “o que deve acontecer depois destas coi­sas”. A partir de 4:1, todo o relato é profético. Outra evidência de que a igreja não passará pelo período da tribulação é o fato de, nesse ponto, João ser arrebatado. Observe como a experiência dele assemelha-se ao arrebatamento da igreja: (1) o céu abre-se para receber os filhos de Deus; (2) há uma voz como de uma trombeta (1 Ts 4:16; 1 Co 15:52); (3) é um acontecimento repentino; (4) acontece no fim da “era da igreja” (Ap 2;3); (5) introduz João na sala do trono do céu; (6) sinaliza o início do julgamento de Deus so­bre o mundo. Vejamos as diferen­tes portas de Apocalipse: (1) a porta do serviço (Ap 3:8); (2) a porta fechada diante de Cristo (Ap 3:20); (3) a porta para o céu (Ap 4:1); e (4) a porta fora do céu (Ap 19:11).

4:2-3 A pessoa sentada no trono é Deus Pai, já que as tochas de fogo (Ap 4:5) representam o Espírito, e, em Ap 5:6, o Filho vem para o trono. João usa pedras preciosas como símbolos da glória do Pai. O jaspe é uma pedra límpida que fala da pureza de Deus; o sardônio é vermelho e refere-se à ira e ao julgamento do Senhor; e a esmeralda é verde, cor associada à graça e à misericórdia. Encontramos todas essas pedras no peitoral do sumo sacerdote (Êx 28:17-21).

Há um arco-íris cor de esmeral­da, o que nos leva a Gênesis 9:11-17, em que Deus fez sua aliança com a humanidade e a natureza de que não destruiría de novo o mundo com água. O arco-íris refere-se à promessa do Senhor e a sua aliança de misericórdia. O trono de Deus ainda é misericordioso (veja Hc 3:2) em sua ira, apesar de estar para en­viar um julgamento terrível sobre a humanidade. Apocalipse 10:1 apresenta Cristo com o arco-íris sobre a cabeça, pois a graça e a misericórdia vieram ao mundo intermédio dEle. Noé viu apenas um arco ires no céu; mas João viu o arco-íris completo em volta do trono. Hoje, não vemos a misericórdia total de Deus, pois “vemos como em es­pelho, obscuramente” (1 Co 13:12); todavia, quando chegarmos ao céu, veremos o todo.

4:4 Há diversas razões para que esses anciãos não sejam anjos: (1) nunca vimos anjos sentados em tronos; (2) nem com coroas; (3) em 7:11, há distinção entre anciãos e anjos; (4) em 5:8-10, os anciãos entoam um hino de louvor e não há registro de anjos cantando; (5) no cântico, eles dizem que foram redimidos, algo que os anjos não podem dizer; (6) em 5:12, os anjos falam, e, em 5:9, o anciãos cantam; (7) os anjos nun­ca foram contados (Hb 12:22); (8) o nome “ancião” significa maturida­de, e os anjos são seres eternos.

Vinte e quatro sacerdotes servi­ram no templo do Antigo Testamen­to (1 Cr 24:3-5,18 e Lc 1:5-9). É pro­vável que esses anciãos representem os santos arrebatados que reinam, em glória, com Cristo. Os tronos es­tavam vazios quando Daniel os viu postos (Dn 7:9; e não subjugados), porém João os vê ocupados porque, agora, o povo de Deus foi chamado para casa. Somos reis e sacerdotes com ele (1:6).

4:5a O versículo 5 não descreve um tro­no de graça, mas de julgamento. Trovões e relâmpagos são avisos de que a tempestade está para che­gar! No Sinai, Deus lançou trovões e relâmpagos quando deu a Lei (Êx 19:16) e o fará de novo quando for julgar os que violaram a Lei (veja Sl 29 e 77:18). O Senhor usou esse método para avisar o Egito (Êx 9:23- 28) e também avisará este mundo perverso da mesma maneira. Veja Salmos 9:7.

4:5b-11 Representam o Espírito Santo (1:4) que é o Espírito purificador (Is 4:4). Cristo tem a plenitude do Espírito, pois sete é o número da plenitude (3:1). Durante essa era de graça, representa-se o Espírito como uma pomba da paz (Jo 1:29-34); mas o Espírito ministrará um julgamento de fogo após o arrebatamento da igreja.

Aqui, temos um templo celestial semelhante ao do Antigo Testamen­to (veja 11:19 e Hb 9:23). As sete tochas de fogo correspondem aos sete candelabros; o mar de vidro, ao mar de fundição; e o trono, à arca da aliança de onde Deus rei­nou em glória. Apocalipse 6:9-11 indica que no céu há um altar de sacrifício, e 8:3-5, que também há um para incenso. Os 24 anciãos referem-se aos sacerdotes do tem­plo, e os seres viventes, aos que­rubins bordados nas cortinas. Veja 1 Reis 7:23-27 em relação ao “mar” (ou bacia) do templo. O mar celes­tial retrata a santidade de Deus; o fogo, seu julgamento do pecado por causa de sua santidade.

Quatro é o número da terra; portan­to, aqui, temos a aliança de Deus com a criação. Leia Gênesis 9:8-13 e veja a aliança que o Senhor fez com a hu­manidade, com as aves, com os ani­mais domésticos e selvagens; eles estão representados na face de cada ser vivente. Deus deu ao homem o domínio sobre a criação, porém o homem perdeu-o por causa do peca­do (Gn 1:28-31; SI 8). Todavia, esse domínio será reconquistado quando o reino for estabelecido; veja Isaías 11:6-8 e 65:25. Os quatro seres viventes (símbolos da criação) diante do trono de Deus mostram que ele controla a criação e que, um dia, cumprirá sua promessa de libertá-la do pecado (Rm 8:19-24).

Esses quatro seres viventes são uma combinação dos serafins de Isaías 6 com as criaturas de Ezequiel 1 e 10. Os seres viventes não têm nome. Em Apocalipse 4:7, cada ser vivente tem quatro faces que correspondem às quatro da visão de Ezequiel. Esses seres diante do trono louvam, glorificam e honram a Deus. O salmo 148 mostra como todas as criaturas louvam ao Senhor.

É uma tragédia que o mundo peca­dor se recuse a louvá-lo. Os anciãos juntam-se ao louvor e colocam a coroa diante do trono. A coroa deles representa o prêmio pelos serviços prestados enquanto estiveram na terra. Perceberemos, de uma maneira nova, que todo louvor pertence a Deus e somente a ele. O versículo 11 apresenta a primeira das diversas doxologias de Apocalipse. Aqui, as criaturas celestiais louvam a Deus porque ele é o Criador de todas as coisas. Em 5:9-10, os seres viventes e os anciãos louvam-no por causa da redenção por intermédio do sangue de Cristo, pois até a cria­ção é redimida pela cruz. Em Apoca­lipse 11:1 6-19, o céu louva-o por ser o Juiz que punirá o mundo por seus pecados com justiça.

Agora, o cenário está montado: a igreja foi arrebatada para o céu, o Senhor está assentado no trono, to­das as criaturas do céu louvam-no e esperam o derramamento de sua ira. E interessante notar que essa passa­gem usa o nome de “Senhor Deus, o Todo-Poderoso” (4:8). A história re­gistra que esse era o título oficial do imperador Domiciano, responsável pela perseguição que levou João para Patmos. Os homens e as mu­lheres podem honrar a si mesmos, mas chegará o dia em que todos — pequenos e grandes — reconhece­rão que Jesus Cristo é o Senhor de todos e de tudo.

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