Apocalipse 2 — Comentário Evangélico
Apocalipse 2
Nos capítulos 2—3, Cristo lida com as sete igrejas. Ele examina a condição espiritual delas com seus olhos de fogo ao ficar no meio delas. Ele faz isso hoje. O importante é o que Cristo pensa a respeito da igreja, não o que os homens e as denominações acham. Observe que as cartas para as sete igrejas repetem os diferentes elementos usados na descrição de Cristo apresentada nos versículos 13-16. A mensagem das cartas enfatiza os atributos de Cristo que se aplicam à necessidade específica da igreja. O perigo para as igrejas é Cristo remover o testemunho delas (2:5). Antes, ele teria uma cidade nas trevas que um candeeiro fora da sua vontade divina.Adiante, o relato repetirá grande parte do simbolismo desse capítulo. Ele não receberá ênfase excessiva se você usar seu guia de referência cruzada quando estudá-lo.
III. As sete igrejas da Ásia Menor
Se Apocalipse 1:19 é o esboço inspirado do relato, então Apocalipse 2—3 lida com “as coisas [...] que são”. Em outras palavras, Cristo selecionou sete entre as muitas igrejas da Ásia Menor a fim de transmitir sua mensagem específica para cada uma delas. Sem dúvida, as outras igrejas têm pecados, contudo os assuntos discutidos com essas sete igrejas cobrem todas as circunstâncias possíveis. Cristo selecionou essas sete igrejas para ilustrar as possíveis condições espirituais das igrejas até seu retorno.Alguns estudiosos creem que essas igrejas também ilustram a “história profética” da igreja da época apostólica até o fim das eras: a de Éfeso é a igreja da era apostólica, que começa a perder aquele amor inicial por Cristo; a de Esmirna é a igreja perseguida do século I (c. 100-300 d.C.); a de Pérgamo é a ligada a Roma, a igreja estatal; a de Tiatira representa o domínio do catolicismo romano; a de Sardes simboliza a igreja reformada; a de Filadélfia (“amor fraternal”) é a igreja missionária dos últimos dias; e a de Laodiceia é a igreja indiferente, apóstata dos últimos dias. Entretanto, lembre-se que todas essas condições apresentadas estiveram presentes na igreja em uma época e estão presentes hoje. Além disso, se essa sequência é a “história profética” da igreja, então Jesus não pode retornar para seu povo até que se cumpra a era da igreja laodicense, o que impossibilita que ele retorne em breve. As sete igrejas ilustram o desenvolvimento geral da igreja ao longo das eras, porém esse não é o principal objetivo das sete cartas.
Observe o uso da palavra “vencedor” para cada igreja (Ap 2:7,11,17,26; 3:5,12,21). Esses “vencedores” não são os Supersantos” de cada igreja, um grupo especial que receberá privilégios especiais, mas os verdadeiros crentes de cada uma delas. Não ousemos presumir que todo membro de cada igreja local ao longo da história é um verdadeiro filho de Deus. Aqueles que realmente pertencem a Cristo são “vencedores” (1 Jo 5:4-5). Em cada período da história, houve verdadeiros santos na igreja professa (muitas vezes, chamada de “igreja invisível”). Cristo envia uma palavra especial de encorajamento para eles, e, com certeza, podemos aplicá-la a nós mesmos.
Veja também que ele associa Satanás a quatro igrejas: (1) ele é a causa da perseguição em Esmirna (2:9); (2) tem seu “trono” em Pérgamo (2:13); (3) ensina “coisas profundas” em Tiatira (2:24); e (4) usa sua “sinagoga” de falsos cristãos a fim de opor-se aos esforços para ganhar almas em Filadélfia (3:9).
Cristo menciona vários perigos que cercam essas igrejas:
A. Os nicolaítas (2:6,15)
O nome “Nicolau” significa “conquista o povo” e sugere a separação de clérigos e de leigos nas igrejas. Em Efeso, esse pecado se iniciou como “obras” (v. 6); todavia, em Pérgamo, torna-se uma doutrina. Isso acontece desta forma: os enganadores introduzem atividades falsas na igreja, e, depois de um tempo, elas são aceitas e encorajadas.
B. A sinagoga de Satanás (2:9; 3:9)
Provavelmente, refere-se a congregações que afirmam ser crentes, mas, na verdade, são filhos do diabo (Jo 8:44). A palavra “sinagoga” significa apenas “reunião”, é uma assembleia de pessoas religiosas. Portanto, Satanás tem uma igreja!
C. A doutrina de Balaão (2:14)
Leia Números 22—25. Balaão levou Israel a pecar ao dizer-lhe que, como era o povo da aliança de Deus, podia misturar-se com os pagãos que não seria julgado por isso. Balaão não podia amaldiçoá- lo, mas tentou-o com os pecados da carne. Assim, sua doutrina era que a igreja podia casar com o mundo e ainda servir a Deus.
D. A paga Jezabel (2:20)
Leia de 1 Reis 16 a 2 Reis 10. Jezabel era a esposa pagã do rei Acabe e levou Israel à adoração de Baal. Ela seduziu Israel com seus ensinamentos falsos.
IV. A mensagem pessoal
Observe os problemas espirituais dessas igrejas, e as instruções de Jesus para elas a fim de que alcançassem suas bênçãos:
A. Éfeso
Ocupa-se bastante com o trabalho para o Senhor, mas não tem amor sincero por ele. Programa sem paixão. Essa é a igreja ocupada que tem estatísticas excelentes, todavia desvia-se da devoção sincera a Cristo.
B. Esmirna
Essa igreja não recebe críticas do Senhor, no entanto um perigo a ronda. Essa é uma igreja pobre e sofredora. Seria fácil fazer concessões, enriquecer e escapar da perseguição. Devia sentir-se muito desencorajada por não ser rica como a igreja laodicense.
G Pérgamo
Essa igreja tinha membros que abraçavam a doutrina falsa de que é possível professar Cristo e, ao mesmo tempo, viver em pecado. As pessoas também estavam sob o jugo pesado de ditadores espirituais que promoviam a si mesmos, não ao Senhor.
A. Tiatira
Essa mulher, a falsa profetisa Jeza bel, não podia ensinar, e a doutrina dela levava as pessoas a pecar. Na igreja local, temos de manter a ordem de Deus (1 Tm 2:11-15).
B. Sardes
Reputação sem vida. Os melhores dias dessa igreja ficaram no passado. Essa é a igreja do “foi”; tinha um grande nome no passado, mas nenhum ministério hoje. Ela está pronta para morrer, todavia pode ter vida nova se fortalecer o que tem.
C. Filadélfia
A igreja que tinha diante de si uma porta aberta e leva o evangelho para o mundo. Essa é a igreja que guarda a Palavra e honra o nome de Cristo. No entanto, sempre há o perigo de se fazer concessão, porque a sinagoga de Satanás não está muito longe deles.
D. Laodiceia
A igreja apóstata e indiferente que tem muita disponibilidade financeira, mas não tem bênção. Essa é a igreja com riqueza material e pobreza espiritual. O mais triste é que nem mesmo sabia como era pobre e miserável! Cristo esta à porta da igreja e pede que, pelo menos, um crente se entregue a ele.
I. Éfeso: a igreja que voltou (2:1-7)
Essa passagem exalta as mãos e os pés de Cristo: ele conserva as estrelas (os mensageiros das igrejas) e anda em meio às igrejas em julgamento (candeeiros). Ele inicia com Éfeso, a cidade mais próxima de Patmos e grande centro comercial. O imperador libertara Éfeso, e esta recebeu o título de “metrópole suprema da Ásia”. Sua construção mais importante era o grande templo de Diana, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Ele tinha 129,5 metros de comprimento por 67 de largura e 18 de altura, com grandes portas duplas e 127 pilares de mármore, alguns cobertos com ouro. A adoração a Diana era a “imoralidade religiosa” em seu pior aspecto. Leia Atos 19;20.A igreja efésia tinha obras, trabalho e paciência —, mas faltava-lhe amor por Cristo. Em contraste a isso, a igreja tessalonicense foi recomendada pela “operosidade da [sua] fé, [pel]a abnegação do [seu] amor e [pel]a firmeza da [sua] esperança” (1 Ts 1:3). O que conta não é o que fazemos para Cristo, mas o motivo e o incentivo que nos impulsionam. A igreja efésia era ativa e tinha padrões espirituais elevados. Seus membros não suportavam “homens maus” e não escutavam os falsos mestres. O trabalho fora difícil, mas eles não esmoreceram. Do ponto de vista humano, era uma igreja bem-sucedida sob todos os aspectos. Algumas igrejas ativas de hoje, com sua programação intensa e seus trabalhadores fatigados, se encaixam nessa descrição.
Todavia, o Homem que estava no meio das igrejas viu o que faltava à igreja efésia: ela abandonara [não perdera] seu primeiro amor Jr 2:2). A igreja local é casada com Cristo (2 Co 11:2), e sempre há o risco do amor esfriar. Às vezes, ficamos, como Marta, tão ocupados com o trabalho para Cristo que não temos tempo para amá-lo (Lc 10:38-42). Cristo preocupa-se mais com o que fazemos com Ele do que com o que fazemos por ele. O trabalho não substitui o amor. A igreja efésia era bem-sucedida para o público, mas falhara para Cristo.
Ele aconselha-a: “Lembra-te [...], arrepende-te e volta à prática das primeiras obras” (v. 5). Se voltarmos ao nosso primeiro amor, repetiremos nossas primeiras obras, aquelas obras de amor que marcaram nosso primeiro encontro com Cristo. O candeeiro da igreja será removido, se ela não voltar à condição de coração correta. A igreja local deve brilhar como uma luz no mundo. A luz se apaga sem amor verdadeiro por Cristo.
Jesus elogia essa igreja por odiar as obras dos nicolaítas. O nome grego “Nicolau” significa “conquistar o povo”. Ele se refere ao desenvolvimento da classe sacerdotal (clerical) na igreja que deixa de lado os crentes comuns. Ao mesmo tempo que deve haver liderança pastoral na igreja, não deve haver distinção entre “clérigos” e “leigos”, em que os primeiros assumem ares arrogantes e dominam os últimos.
II. Esmirna: a igreja sofredora (2:8-11)
Observe como cada descrição de Cristo volta ao retrato de 1:13-16 e refere-se a uma necessidade especial da igreja específica. Cristo lembra a igreja de Esmirna de seu sofrimento, morte e ressurreição porque ela é perseguida (2:8). Esmirna significa “amargo” e relaciona-se com a palavra “mirra”. A pessoa pensa no aroma liberado por causa da pesada perseguição. A igreja sempre é mais pura e a romântica quando passa por períodos dê sofrimento.Cristo não crítica essa igreja. Os Santos eram fiéis, apesar do sofrimento. Eles pensavam ser pobres, mas eram ricos, em contraste com a laodicense, que pensava ser rica e era pobre (Ap 3:17). Os falsos cristãos (da “sinagoga de Satanás”; Jo 8:44; Fp 3:2) blasfemavam (caluniavam) os santos. Satanás está por trás de toda perseguição, mesmo a realizada em nome da religião. Cristo avisa-os de que terão mais perseguição pela frente; talvez os “dez dias” (v. 10) refiram-se às dez grandes perseguições que a igreja sofreu nos séculos iniciais de sua existência. Satanás vem como leão e tenta devorar (1 Pe 5:8), mas a perseguição apenas fortalece a igreja.
O inimigo matará o corpo, porém os santos não precisam temer a segunda morte, que é o inferno (20:14; 21:8). Os que nasceram duas vezes morrerão apenas uma vez. Aqueles que nasceram apenas uma vez morrerão duas vezes.
III. Pérgamo: a igreja mundana (2:12-17)
Pérgamo significa “casado”, e essa igreja casou-se com algumas doutrinas e práticas erradas. Ela apresentava três problemas sérios:A. O trono de Satanás (v. 13)
Essa passagem refere-se às “seitas misteriosas” da Babilônia que estabeleceram seus “quartéis-generais” em Pérgamo. Entre elas, estava a adoração ao imperador, que exerceu um papel importante nessa cidade pagã.
B. A doutrina de Balaão (v. 14; veja também Nm 22—25)
Balaão foi um profeta mercenário que levou o povo de Israel ao pecado em troca de riqueza e de prestígio. Ele encorajou Israel a adorar ídolos pagãos e incentivava a prostituição. A igreja de Pérgamo casara- se com o mundo a fim de conseguir vantagens mundanas.
C. A doutrina dos nicolaítas (v. 15; veja também v. 6)
O que se iniciou como “obras” em uma igreja, agora estabelece-se como doutrina em outra. Essa igreja dividiu- se entre “sacerdotes” e “pessoas”.
IV. Tiatira: a igreja impenitente (2:18-29)
Os olhos de fogo e os pés de bronze veem e julgam, mas essa igreja perversa não se arrepende. A igreja tinha obras, serviço e perseverança, mas estava cheia de pecado. Nessa passagem, temos Jezabel, a rainha perversa, esposa do rei Acabe (1 Reis 16-2 Reis 10), a única mulher mencionada nas sete cartas. Ela era pagã, filha de um sacerdote de Baal, e promoveu a adoração a este em Israel. Ela era culpada de “prostituição” e de “feitiçaria [...]” (2 Reis 9:22) e também de idolatria, assassinato, fraude e de se declarar profetisa. E a igreja de Tiatira seguia o exemplo e a liderança dela!
Veja que essa falsa profetisa da igreja usava doutrinas falsas para seduzir (enganar) o povo de Deus. Ela deu-lhes licença para pecar (veja 2 Pe 2 e Jd). A tragédia é que, embora Deus lhe dê oportunidade, ela não se arrepende. Nunca é tarde para a igreja se arrepender e voltar ao Senhor, porém devemos estar atentos para não perder as oportunidades oferecidas por Deus.
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