Apocalipse 8 — Comentário Evangélico

Apocalipse 8


A. Silêncio (v. 1)

Essa é a calmaria que antecede a tempestade; veja Zacarias 2:13; Ha bacuque2:20; Isaías 41:1 e Sofonias 1;7,14-18. Apocalipse 7:10-12 apresenta uma grande expressão de louvor das hostes celestiais; aqui, há um silêncio pesado no céu quando o julgamento está para ser liberado.

B. Súplica (vv. 2-6)

No capítulo 4, vimos a existência de um santuário celestial; aqui, surge o altar de incenso, símbolo de oração. Veja Levítico 16:12 e Salmos 141:2. Pode ser que esse anjo seja Cristo, o Sacerdote divino. As “orações dos santos” não são dos santos em glória. Em 5:3, não há nenhum ho­mem digno de abrir o livro, a não ser Jesus Cristo, então por que haveríamos de orar por qualquer outro nome? Essas orações são do povo de Deus. “Venha o teu reino!” Esse incenso, em particular, representa o clamor dos mártires (6:9-11; 20:4). Muitas das orações de vingança de Salmos serão, justamente, usadas pelo povo do Senhor nesse período de sofrimento intenso. O fogo do al­tar atirado sobre a terra fala da ira do Senhor a ser derramada sobre os descrentes. Compare o versícu­lo 5 com 4:5, 11:19 e 16:18 e veja que os trovões avisam a chegada de tempestades. Os sete anjos estão posicionados para a ação; a seguir, eles, um a um, soam as trombetas.

II. A desolação sobre a terra (8:7-11)

O primeiro julgamento faz parale­lo com a sétima praga do Egito (Êx 9:18-26). Há lógica nessa repetição das pragas dos tempos de Moisés em escala mundial durante a tribulação, já que, nos tempos passados, o Egito era o centro do sistema ím­pio do mundo. As chuvas de gra­nizo podem causar danos terríveis e, quando misturadas com fogo, a possibilidade de devastação atinge graus inacreditáveis. O julgamento da primeira trombeta queimou um terço das árvores e das ervas verdes da terra. Apocalipse 8—9 refere-se 8 vezes à “terça parte”. Alguns es­tudiosos acreditam que isso diz res­peito apenas à área ocupada pelo Império Romano revivido sob o go­verno do anticristo.

A segunda trombeta afeta o mar, cuja terça parte vira sangue e mata um terço dos seres que viviam nele, como também destrói um terço das embarcações. Esse evento faz para­lelo com a primeira praga do Egito (Êx 7:19-21). O objeto em fogo que cai sobre o mar não é uma monta­nha real, mas algo “como que” uma grande montanha. Aqui, talvez, o “mar” seja apenas o Mediterrâneo, mas é provável que diga respeito a todos os mares do globo terrestre.

A terceira trombeta afeta os rios, deixando suas águas amargas. No versículo 10, apenas Deus conhe­ce a “grande estrela”, ele chama as estrelas pelo nome (Jó 9:9-10). Jere­mias profetizou que, um dia, Israel beberia águas amargas (Jr 9:14-15). Tudo indica que esse amargor das águas persistirá até a constituição do reino milenar, pois Ezequiel 47:6-9 profetiza que haverá cura para as águas amargas, consequência do julgamento do período da tribulação.

Devemos entender esses julgamentos de forma literal? Acredita­mos que sim. Se, na época de Moi­sés, Deus pôde mandar esses mes­mos julgamentos sobre o Egito, o que o impediria de mandá-los sobre o mundo inteiro? Nós conseguimos apenas imaginar os terríveis consequências econômicas oriundas da perda de fazendas, e de pastagens, e da poluição das águas puras. A hu­manidade nunca valorizou as bên­çãos da bondade de Deus na na­tureza. Contudo, os pecadores não se arrependerão, mesmo quando ele retirar algumas dessas bênçãos (9:20-21).

III. A agitação no céu (8:12)

O quarto anjo soa a trombeta e cau­sa uma tremenda calamidade no céu apagando a luz de um terço dos cor­pos celestes! Esse é o cumprimento da profecia de Cristo apresentada em Lucas 21:25-28 (veja também Am 8:9). É interessante notar que Deus criou os corpos celestes no quarto dia da criação e os apagará no soar da quarta trombeta.

Quais serão as consequências disso? O terror cobrirá a terra. A humanidade sempre temeu os si­nais vindos dos céus. Todavia, esse terror não fará com que os homens se arrependam. O primeiro julga­mento devastará a vida vegetal, e o encurtamento dos dias tirará a luz solar da vegetação. Jesus disse que, no período da tribulação, a abreviação dos dias significaria o salva­mento de vidas (Mt 24:22). Contu­do, é fácil imaginar que o pecado, o crime e o terror governarão as ruas das cidades com a abreviação dos dias, e nesse período as noi­tes serão mais escuras que nunca. “Quem pratica o mal odeia a luz!” Qo 3:19-20, NVI). A humanidade jamais viu uma onda de crimes como essa que assolará a terra.

IV. A proclamação do anjo (8:13)

Esse anjo é um mensageiro de Deus que alerta o mundo de que os três julgamentos seguintes serão ainda piores! Pensaríamos que os homens prestariam atenção em Deus e se arrependeriam, mas não é esse o caso.

Em Ap 3:10, 6:10, 11:10, 13:8, 13:14, 14:6 e 17:8, também encon­tramos referência aos habitantes da terra. Ela não se refere aos que mo­ram sobre a terra, mas aos que vi­vem para a terra. Eles são “terrenais” — pessoas que rejeitam o céu e a Cristo pelos confortos deste mundo. Filipenses 3:18-20 descreve-os com perfeição. Êxodo descreve-os como um “misto de gente” que deseja os alimentos do Egito e rejeita o maná do céu. Essas pessoas passarão pela tribulação (Ap 3:10) e serão res­ponsáveis pela morte dos santos de Deus (Ap 6:10). Eles se regozijarão com o assassinato das duas testemu­nhas do Senhor (11:10); todavia, em contraste a isso, observe o regozijo do céu com a expulsão de Satanás (12:12)! Apocalipse 13:8 deixa evi­dente que esses habitantes da terra adorarão a besta, uma indicação de que rejeitarão totalmente a Cristo. Eles acreditarão na mentira ao rejei­tar a Verdade.

Toda alma deve responder à pergunta: Minha cidadania é ce­lestial ou pertenço apenas a este mundo?

O dr. Wilbur M. Smith, estudioso bí­blico e especialista em Apocalipse muito conhecido, escreve: “É prová­vel que afora a identificação da Ba­bilônia nos capítulos 17 e 18, o sen­tido desses dois julgamentos, nesse capítulo, seja a maior dificuldade em um problema importante de Apocalipse”. Em 8:13, o anjo pro­meteu enviar três “ais” sobre a ter­ra, e cumpre-se essa promessa com o soar da quinta (9:1-12), da sexta (9:13-21) e da sétima (11:15-19) trombetas. Reveja a sugestão de es­boço de Apocalipse e verifique que agora nos aproximamos do meio da tribulação, em que acontecerão eventos mais críticos.