João 15 — Exposição do Evangelho de João

Exposição do Evangelho de João 



João 15

15.1 EU SOU A VIDEIRA VERDADEIRA. Nesta parábola ou alegoria, Jesus se descreve como “a videira verdadeira” e aqueles que se tornaram seus discípulos, como “os ramos”. Ao permanecerem ligados nEle como a fonte da vida, frutificam. Deus é o lavrador que cuida dos ramos, para que deem fruto (vv. 2,8). Deus espera que todo crente dê fruto (ver a próxima nota).
15.2 TODA VARA. Jesus fala de duas categorias de varas: infrutíferas e frutíferas. (1) As varas que cessam de dar fruto são as que já não têm em si a vida que provém da fé perseverante em Cristo e do amor a Ele. A essas varas o Pai tira, i.e., Ele as separa da união vital com Cristo (cf. Mt 3.10). Quando cessam de permanecer em Cristo, Deus passa a julgá-las e a rejeitá-las (v. 6). (2) As varas que dão fruto são as que têm vida em si por causa da sua perseverante fé e amor para com Cristo (ver o estudo AS OBRAS DA CARNE E O FRUTO DO ESPÍRITO). A essas varas o Pai “limpa”, poda, a fim de ficarem mais frutíferas. Isso quer dizer que Ele remove de suas vidas qualquer coisa que desvia ou impede o fluxo vital de Cristo. O fruto é o caráter cristão, como qualidades, que no crente glorifica a Deus, mediante sua vida e seu testemunho (ver Mt 3.8; 7.20; Rm 6.22; Gl 5.22,23; Ef 5.9; Fp 1.11)
15.4 ESTAI EM MIM. Quando uma pessoa crê em Cristo e recebe o seu perdão, recebe a vida eterna e o poder de estar ou permanecer nEle. Tendo esse poder, o crente precisa aceitar sua responsabilidade quanto à salvação e permanecer em Cristo. Assim como a vara só tem vida enquanto a vida da videira flui na vara, o crente tem a vida de Cristo somente enquanto esta vida flui nele pela sua permanência em Cristo. A palavra grega aqui é meno, que significa “continuar”, “permanecer”, “ficar”, “habitar”. As condições mediante as quais permanecemos em Cristo são: (1) conservar a Palavra de Deus continuamente em nosso coração e mente, tendo-a como o guia das nossas ações (v. 7); (2) cultivar o hábito da comunhão constante e profunda com Cristo, a fim de obtermos dEle forças e graça (v. 7); (3) obedecer aos seus mandamentos e permanecer no seu amor (v. 10) e amar uns aos outros (vv. 12,17); (4) conservar nossa vida limpa, mediante a Palavra, resistindo a todo pecado, ao mesmo tempo submetendo-nos à orientação do Espírito Santo (v. 3; 17.17; Rm 8.14; Gl 5.16-18; Ef 5.26; 1 Pe 1.22)
15.6 SERÁ LANÇADO FORA, COMO A VARA. A alegoria da videira e das varas deixa plenamente claro que Cristo não admitia que “uma vez na videira, sempre na videira”. Pelo contrário, Jesus nessa alegoria faz aos seus discípulos uma advertência séria, porém amorosa, mostrando que é possível um verdadeiro crente abandonar a fé, deixar Jesus, não permanecer mais nEle e por fim ser lançado no fogo eterno do inferno (v. 6). (1) Temos aqui o princípio fundamental que rege o relacionamento salvífico entre Cristo e o crente, a saber: que nunca é um relacionamento estático, baseado exclusivamente numa decisão ou experiência passada. Trata-se, pelo contrário, de um relacionamento progressivo, à medida que Cristo habita no crente e comunica-lhe sua vida divina (ver 17.3 nota; Cl 3.4; 1 Jo 5.11-13). (2) Três verdades importantes são ensinadas nesta passagem. (a) A responsabilidade de permanecer em Cristo recai sobre o discípulo (ver v. 4 nota). É esta a nossa maneira de corresponder ao dom da vida e ao poder divinos concedidos no momento da conversão. (b) Permanecer em Cristo resulta em Jesus continuar a habitar em nós (v. 4a); frutificação do discípulo (v. 5); sucesso na oração (v. 7); plenitude de alegria (v. 11). (c) As consequências do crente deixar de permanecer em Cristo são a ausência de fruto (vv. 4,5), a separação de Cristo e a perdição (vv. 2a,6).
15.7 PEDIREIS TUDO O QUE QUISERDES. O segredo de resposta divina à nossa oração é permanecer em Cristo. O princípio que Cristo ensina aqui é que, quanto mais perto o homem vive de Cristo, pela meditação, estudo das Escrituras e comunhão com Ele, tanto mais suas orações estarão em harmonia com a sua natureza e as suas palavras e, portanto, mais eficazes serão essas orações (ver 14.13 nota; 15.4 nota; também Sl 66.18; ver o estudo A ORAÇÃO EFICAZ)
15.9,10 PERMANECEI NO MEU AMOR. O crente deve viver na atmosfera do amor de Cristo. Jesus, a seguir, declara que isso se dá quando guardamos os seus mandamentos.
15.16 PARA QUE VADES E DEIS FRUTO. Todos os cristãos são escolhidos “do mundo” (v. 19) para “dar fruto” para Deus (vv. 2,4,5,8). Essa frutificação se refere (1) às virtudes espirituais tais como as mencionadas em Gl 5.22,23 - amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança (cf. Ef 5.9; Cl 1.10; Hb 12.11; Tg 3.18); e (2) à conversão a Cristo, doutras pessoas (João 4.36; 12.24).
15.20 TAMBÉM VOS PERSEGUIRÃO. Enquanto os seguidores de Cristo estiverem neste mundo, serão odiados, perseguidos, caluniados e rejeitados por amor a Ele. O mundo é o grande opositor de Cristo e do seu povo no decurso da história. (1) O verdadeiro crente deve compreender que o mundo - inclusive as falsas igrejas e organizações religiosas - sempre se oporá a Deus e aos princípios do seu reino; assim, o mundo continuará sendo até ao fim, o inimigo e perseguidor dos crentes fiéis (Tg 4.4; ver Mt 5.10 nota). (2) A razão por que os crentes sofrem é por serem basicamente diferentes; não são do mundo e foram escolhidos do meio “do mundo” (v. 19). Os valores, padrões e modo de viver dos fiéis, entram em conflito com os métodos iníquos da sociedade perversa em meio à qual vivem. Recusam qualquer transigência com os padrões ímpios, e, em contrário a isso, apegam-se às “coisas que são de cima e não nas que são da terra” (Cl 3.2).