Significado de Êxodo 1

Êxodo 1

Êxodo 1 começa relatando o crescimento dos israelitas no Egito após a morte de José e a opressão que enfrentaram sob o novo faraó. Este capítulo prepara o terreno para o restante do livro, que conta a história de Moisés e a libertação dos israelitas da escravidão.

Um dos principais temas de Êxodo 1 é a fidelidade de Deus em meio à adversidade. Apesar da opressão e do sofrimento dos israelitas, Deus permaneceu fiel às suas promessas e continuou a abençoá-los com fertilidade e crescimento. O capítulo também mostra como Deus usou as ações aparentemente insignificantes das parteiras para preservar a vida dos bebês israelitas e frustrar os planos do Faraó.

Outro tema importante em Êxodo 1 é a luta pelo poder e controle. O capítulo mostra como o faraó, ameaçado pelo crescente número de israelitas no Egito, procurou controlá-los, escravizando-os e impondo-lhes duras condições. No entanto, os israelitas continuaram a se multiplicar e as tentativas do Faraó de controlá-los apenas intensificaram seu sofrimento.

Finalmente, como significado, Êxodo 1 ensina a importância de enfrentar a opressão e a injustiça. A recusa das parteiras em obedecer às ordens do faraó de matar os bebês israelitas é um exemplo de como mesmo pequenos atos de resistência podem ter um impacto significativo. O capítulo também prenuncia o papel de Moisés como libertador dos israelitas da escravidão e da opressão.

Êxodo 1 é um capítulo significativo no livro de Êxodo que prepara o terreno para o restante do livro. Ele destaca temas da fidelidade de Deus, a luta pelo poder e controle e a importância de se levantar contra a opressão e a injustiça. Como crentes hoje, podemos aprender com esses temas e ser inspirados a confiar na fidelidade de Deus, resistir à opressão e à injustiça e trabalhar pela libertação dos oprimidos.

I. Intertextualidade com o Antigo e Novo Testamento

Êxodo 1 ergue, como um prólogo escuro, o palco onde a promessa de fecundidade dada aos patriarcas resiste ao peso do império. O versículo 7 descreve Israel com uma cadência de criação: “frutificaram, multiplicaram-se, aumentaram e se fortaleceram grandemente” (Êxodo 1:7). A linguagem retoma Gênesis 1:28 e 9:1, onde a bênção criacional convoca a vida a transbordar: pārû (“frutificaram”), wayyišreṣû (“gramearam, pulularam”), wayyirbû (“multiplicaram-se”) e wayyaʿaṣmû meʾōd meʾōd (“tornaram-se muito, muito fortes”). O verbo de “pulular” ecoa a vida que “pulula” nas águas primordiais (Gênesis 1:20–21), e o crescendo verbal encena a realização das promessas a Abraão, Isaque e Jacó (Gênesis 12:2; Gênesis 17:2, 6; Gênesis 22:17; Gênesis 26:4; Gênesis 28:3; Gênesis 35:11; Gênesis 46:3). No Novo Testamento, essa gramática de crescimento reaparece na narrativa lucana: “a palavra de Deus crescia e se multiplicava” (ho logos tou theou ēuxanen kai eplēthyneto, “a palavra de Deus crescia e se multiplicava”, Atos 12:24; cf. 6:7; 19:20), transferindo a sintaxe do florescimento de Israel para a expansão do evangelho.

O drama inicia sob um “novo rei sobre o Egito, que não conhecera José” (Êxodo 1:8). A fórmula do não-conhecimento não é mero esquecimento, mas ruptura de memória e de lealdade, e dialoga com Juízes 2:10, quando surge “outra geração que não conhecia o Senhor”. Estêvão lê essa transição dentro do próprio enredo de Êxodo: “levantou-se outro rei no Egito” (heteros basileus, “outro rei”, Atos 7:18), que “agiu astutamente” contra o povo (Atos 7:19), verbalizando no grego do discurso a astúcia política que já está sugerida em Êxodo 1. A ponte entre ambos reitera que a perda de daʿat (conhecimento relacional) tem consequências históricas: o poder que não reconhece José também não reconhece a aliança que sustenta a vida.

Quando Faraó declara: “vinde, usemos de astúcia com ele” (hābāh nithakkĕmāh lô, “vinde, sejamos sábios/astutos contra ele”, Êxodo 1:10), a expressão “vinde” (hābāh, “vamos”) ressoa a construção da hybris coletiva em Babel, “vinde, edifiquemos” (Gênesis 11:3–4). O termo de sabedoria aqui é convertido em estratégia de opressão, uma paródia da ḥokmāh que, em Provérbios, se organiza a favor da justiça (Provérbios 1:7; Provérbios 8:15–16). Lucas/Atos captura essa ironia com o verbo katasōphizomai (“tramar com astúcia”, Atos 7:19), espelhando a astúcia de Faraó que pretende neutralizar a promessa. Assim, a “sabedoria” imperial contrasta com a sabedoria do temor do Senhor, expondo dois regimes de conhecimento e poder.

A opressão se materializa em “trabalho árduo” (ʿăbōdāh qāšāh, “serviço duro”, Êxodo 1:14) e em governo “com rigor” (bĕpārek, “com dureza tirânica”, Êxodo 1:13–14). Esse léxico regressa como memória normativa na Torá: “não dominarás sobre ele com rigor” (bĕpārek, “com tirania”, Levítico 25:43, 46, 53), e “os egípcios nos maltrataram e nos afligiram” (Deuteronômio 26:6; cf. 6:20–23). O que foi grilhão torna-se catecismo de liberdade: a experiência de Êxodo 1 molda a ética social de Israel, de modo que o verbo ʿābad (“servir”) será deslocado, no livro, do serviço a Faraó ao serviço cultual a Deus (Êxodo 3:12; 7:16), virando o eixo da lealdade.

As parteiras “temeram a Deus” (yirʾat ʾĕlōhîm, “temor de Deus”, Êxodo 1:17) e praticaram uma desobediência fiel. O narrador declara que Deus “lhes fez casas” (ʿāśāh lāhen bātîm, “concedeu-lhes casas/famílias”, Êxodo 1:21), linguagem que, noutra tessitura, também define promessa dinástica (2 Samuel 7:11). O temor do Senhor, que em Provérbios funda sabedoria e preserva da morte (Provérbios 1:7; Provérbios 14:27), aqui se traduz em proteção de vidas em meio à política de morte. No Novo Testamento, quando os apóstolos afirmam “é necessário obedecer a Deus antes que aos homens” (Atos 5:29), ecoam o mesmo princípio que governa as parteiras: a soberania do mandamento divino sobre decretos homicidas.

A escalada culmina na ordem de Faraó: “a todo filho que nascer… lançareis no Nilo” (Êxodo 1:22). O império tenta matar a promessa na sua nascente biológica (zeraʿ, “semente”, cf. Gênesis 17:7; Gênesis 22:17), e o nascimento se converte em campo de batalha. A narrativa de Mateus reconhece esse padrão quando Herodes decreta o massacre dos meninos de Belém (Mateus 2:16–18), enquadrando o lamento com Jeremias 31:15 (“uma voz se ouve em Ramá: Raquel chora por seus filhos”). Apocalipse 12 figura o mesmo enredo como drama cósmico: o Dragão procura devorar o menino ao nascer (Apocalipse 12:4), e os profetas já haviam retratado Faraó como “grande monstro” (tannîn, “dragão”, Ezequiel 29:3; cf. Isaías 51:9–10 com Rahab). Assim, a violência obstétrica de Êxodo 1 é lida pela Escritura como a velha guerra contra a descendência que Deus preserva.

O narrador, porém, insiste no paradoxo: “quanto mais os afligiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais se espalhavam” (Êxodo 1:12). A bênção não recua; ela encontra caminhos no deserto do poder. Lucas absorve esse ritmo em fórmulas de crescimento: ēuxanen e eplēthyneto (“crescia” e “multiplicava-se”, Atos 12:24), como se o dinamismo vital de Êxodo 1 fosse matriz para a eclosão da igreja sob perseguição. O motivo do “novo rei que não conhece” também se espelha, mais adiante, nos “deuses que não conheceis” (Deuteronômio 13:2) e em decisões políticas que ignoram a justiça (Isaías 1:23), mostrando que esquecer José é apenas um capítulo do esquecimento maior da aliança.

O termo identitário “hebreus” (ʿivrîm, “hebreus”, Êxodo 1:15–16, 19) aparece, como em Gênesis 14:13; 39:14, 17; 41:12; 43:32, frequentemente na boca de estrangeiros, marcando Israel como minoria étnica sob olhar alheio. Esse marcador social guarda ecos até o testemunho paulino “hebreu de hebreus” (Hebraios ex Hebraiōn, “hebreu de hebreus”, Filipenses 3:5), em que a identidade herdada é interpretada à luz do Messias. Entre Êxodo e Paulo, passa uma linha onde o nome dado de fora é assumido e transfigurado de dentro, como acontece com a própria noção de “serviço” e “casa”.

Na base de tudo, o capítulo costura memória e esperança: as quatro ondas de vida em Êxodo 1:7 confrontam as quatro ondas de trabalho forçado em Êxodo 1:13–14; a astúcia imperial (nithakkĕmāh, “sejamos astutos”) esbarra na astúcia santa da obediência; o decreto de morte no rio prepara — ironicamente — o cenário para que, do mesmo rio, surja o libertador (Êxodo 2:1–10). Quando Hebreus 11:23 recorda que os pais de Moisés “não temeram o decreto do rei”, ele escuta, por trás do ato deles, as parteiras de Êxodo 1 que já haviam ensaiado essa coragem. No cânon inteiro, Êxodo 1 é a melodia obstinada da promessa que insiste: a aliança cresce sob pressão, a vida floresce na contramão, e a memória de José — esquecida por reis — permanece gravada no nome de Deus, que vela por sua zeraʿ (“descendência”) até que a história, em marés sucessivas, reconheça a mão que a conduz.

II. Comentário de Êxodo 1

Êxodo 1.1-22 Nesse trecho é narrado o sofrimento do povo de Israel no Egito. Êxodo continua do ponto em que Gênesis termina, mas com uma diferença significativa: depois de 400 anos, a família de Jacó ainda estava no Egito, mas Êxodo narra o momento em que eles já estavam submetidos à servidão, apesar da evidente bênção do Senhor na vida deles.

Êxodo 1.1 Israel é o nome dado a Jacó pelo Senhor. Os 12 filhos dele se tornaram os fundadores das 12 tribos da nação de Israel.

Êxodo 1.2-4 Os filhos são listados de acordo com as mães e as suas idades: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zebulom são filhos de Leia. Benjamim é o filho de Raquel. Dã e Naftali são os filhos de Bila, a serva de Raquel. Gade e Aser são filhos de Zilpa, a serva de Léia (para saber mais sobre o nascimento de cada um dos filhos de Jacó, leia Gn 29.31-35; 30.5-8,10-13,18-20; 35.16-20).

Êxodo 1.5, 6 Setenta pessoas. Veja o comentário em Gênesis 46.1-27. José não foi incluído entre os 70 familiares de Jacó que foram para o Egito. Isto porque José e sua família (a mulher e os dois filhos) já estavam lá.

Êxodo 1.7 O extraordinário crescimento da família da promessa no Egito é um grande milagre e uma prova contundente da bênção de Deus. O Senhor transformou uma pequena família de 12 filhos e uma filha [talvez houvesse outras filhas] em uma nação que conquistaria Canaã. Este versículo utiliza várias expressões, uma após a outra, que enfatizam a incrível multiplicação da família de Israel e a mão de Deus nesta maravilha.

Êxodo 1.8-10 Um novo rei, que não conhecia José, assumiu o trono egípcio. A posição privilegiada que José possuía na administração do antigo faraó, a aptidão natural do jovem israelita que determinou ações que salvaram os egípcios da fome e a habilidade dele que fez com que o tesouro do rei fosse enriquecido foram esquecidas. Este novo faraó provavelmente não reinou imediatamente após a morte do antigo, que ajudou o filho de Jacó. Este faraó, descrito em Êxodo, pode ter sido um dos reis hicsos, que descendiam de invasores estrangeiros. Etnicamente, eles eram uma minoria no Egito. Estes reis provavelmente perceberam o número crescente de hebreus como uma ameaça ao seu reinado e ao controle sobre o Egito.

Eis que o povo dos filhos de Israel é muito e mais poderoso do que nós. Esta declaração aponta para o fato de que Israel estava em maior número e era mais poderoso do que os egípcios podiam tolerar. O Egito temia as consequências de uma guerra na qual Israel se aliasse com seus inimigos.

Eis, usemos sabiamente para com ele, para que não se multiplique. Na NVI, em vez de usemos sabiamente, consta temos de agir com astúcia. Mas, no texto original em hebraico, o verbo hakam está na forma hitpael, significando ser sábio, em um sentido negativo, mau, conspiratório. Em outras passagens, o mesmo verbo é utilizado para aludir à sabedoria divina e virtuosa (como no livro de Provérbios).

Êxodo 1.11 Por causa da misericórdia de Deus, os israelitas foram livres a maior parte dos anos em que estiveram no Egito. Assim, eles aumentaram extraordinariamente em número durante este período. Mas essa liberdade terminou quando faraó estabeleceu sobre eles maiorais de tributos (hb. sarê). Pitom e Ramessés. Estas cidades-celeiro são mencionadas de acordo com os nomes pelos quais ficaram conhecidas em tempos posteriores. O faraó Ramsés (cujo nome presumivelmente está relacionado ao nome da última cidade) não estava ainda no poder.

Êxodo 1.12 Deus multiplicou Seu povo no tempo de opressão. O medo dos egípcios em relação ao povo de Israel foi baseado em um juízo errôneo e na aversão. O termo enfadavam (em algumas traduções temer) significa sentir repugnância (Nm 21.4).

Êxodo 1.13, 14 Quanto mais os egípcios oprimiam os israelitas, mais eles cresciam. Assim, lhes fizeram amargar a vida. Mais tarde, Deus instruiria os israelitas a comer algo amargo com a refeição da Páscoa, a fim de que eles se lembrassem da amargura de quando estavam submetidos à escravidão no Egito (Ex 12). Com dura servidão. O termo traduzido como dura (hb. perek) significa aspereza ou severidade. A cada tarefa que os egípcios submetiam os hebreus, faziam com que a dificuldade de concluí-la fosse extremamente penosa. Os egípcios esperavam que o espírito divino dos israelitas fosse destruído com a escravidão abusiva.

Êxodo 1.15 E o rei do Egito falou às parteiras das hebreias. O rei do Egito mencionado aqui provavelmente não é o mesmo rei hicso citado nos versículos de 8 a 14. Este governante, talvez Tutmósis I ou Tutmés I (1539 1514 a.C.), reinava no Egito quando Moisés nasceu (Êx 2.1-10). Possivelmente, as parteiras das hebreias eram hebreias ou egípcias que receberam nomes hebraicos honrados. Provavelmente, as duas mulheres citadas aqui lideravam um grupo de parteiras. Contudo, uma coisa é certa: elas conheciam o Deus vivo (v. 17,21). Seus nomes, Sifrá (abonita) e Puá (a esplêndida), são mencionados nesta passagem porque eram pessoas tementes a Deus e com uma corajosa fé, ao passo que os nomes dos faraós os homens importantes daquela época são omitidos.

Êxodo 1.16 A prática comum dessa época era usar um assento que ajudava as mulheres a darem à luz. O faraó ordenou que as parteiras matassem os meninos nascidos, porque temia que o crescente número de homens hebreus pudesse tornar-se um exército e, assim, uma ameaça ao reinado.

Êxodo 1.17, 18 O termo hebraico para temeram (yare) é a palavra usada comumente para piedade, obediência e a verdadeira adoração a Deus (Gn 22.12; Êx 20.20). Esta não é a mesma expressão usada em Êxodo 1.12, que indica sentir repugnância, utilizada para descrever o sentimento egípcio em relação ao crescimento dos hebreus. As parteiras não obedeceram ao perverso comando do monarca humano, mesmo diante da possibilidade de colocar a vida delas em risco, pois desejavam louvar a Deus.

Êxodo 1.19 Estas palavras evasivas não são uma desculpa qualquer; elas representam uma maravilhosa compreensão da bênção divina concedida às israelitas.

Êxodo 1.20, 21 Deus fez bem às parteiras. Deus abençoou as parteiras, porque elas o temeram. A expressão do versículo 17 é repetida com sentido enfático. Ele concedeu-lhes que tivessem sua própria família (NVI). Comumente, os clãs eram estabelecidos para os homens. Deus permitiu que tais mulheres possuíssem suas próprias famílias (Gn 18.19), porque elas eram fiéis a Ele.

Êxodo 1.22 O faraó não pôde contar com a ajuda das parteiras. Assim, ordenou ao povo egípcio que lançasse ao rio Nilo todos os bebês do sexo masculino.

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