Estudo sobre Apocalipse 6:9

Estudo sobre Apocalipse 6:9

Apocalipse 6:9

A abertura dos selos segue a ordem dos discursos escatológicos dos evangelhos (excurso 3a). Depois de guerra, fome e epidemias, que constituem o “princípio das dores”, seguem-se perseguições aos discípulos. Entretanto, enquanto os evangelhos fornecem um esboço dos eventos exteriores (inquéritos, traição, ódio, morte), João silencia a este respeito, mencionando tão somente o fato da matança, pois, conforme Ap 4.1, não está olhando para a terra. Ele vê estes acontecimentos como aparecem diante de Deus e da forma como forçosamente revoltam também o íntimo dos cristãos, a saber, o problema da injustiça que passa a “multiplicar-se” na matança de grandes multidões de cristãos (Mt 24.12).296 Seria possível que o Senhor, cuja intenção, afinal, era construir a sua igreja, repetidamente permitisse que justamente as mais corajosas testemunhas fossem eliminadas?

Depois da abertura dos selos João viu debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. O céu se lhe apresenta como templo celeste. Já no cap. 4 apareceram-lhe querubins, personagens sacerdotais, coros, taças e o mar de vidro (cf. nota 247). Agora soma-se o altar.297 Este santuário celeste e também o altar no Apocalipse, diferentemente da carta aos Hebreus, não têm nada a ver com expiação, mas são “central de oração e de ordens”. A permanência neste altar é sinal do convívio com Deus.

Qual é o significado de João ter “visto” almas de falecidos na base do altar? Que impressão visual tinha ele? O israelita sabia que ali havia uma calha em que era derramado o sangue dos sacrifícios (Lv 4.7). A vida ou a alma dos animais sacrificados era devolvida a Deus com este derramamento. Por isto é convincente a opinião de que João viu neste local sangue derramado de mártires. Esta visão foi imediatamente interpretada: “vi almas”.298 Ao olhar para o sangue, o profeta tomou consciência das pessoas, cuja morte havia sido uma morte no altar, ou seja, sacrifícios inocentes para Deus e que haviam chegado a uma proximidade especial com Deus. A morte não os havia separado de Deus (Rm 8.38).

Da mesma forma como a menção do altar, tampouco a fala sobre a matança deve ser associada a sacrifícios no sentido expiatório. No Apocalipse a matança constitui uma expressão genérica para a morte violenta.