Estudo sobre Gálatas 6:15-16
Estudo sobre Gálatas 6:15-16
Paulo sintetiza sua atitude diante da questão da circuncisão numa fórmula orientadora. Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão. Uma formulação similar já ocorreu em 1Co 7.18 e em Gl 5.6 (cf. ali o comentário). Aqui se diz o que é e o que vale positivamente alguma coisa, porém de modo diferente daquelas passagens: mas o ser nova criatura. Jesus “reconciliou a ambos (judeus e gentios) por meio da cruz com Deus num só corpo. Ele derrubou pela sua morte a parede de separação da inimizade. Ele aboliu a lei com seus mandamentos e exigências, para criar a ambos em sua pessoa como um novo ser humano” (Ef 2.14-16 [tradução do autor]). Por isso, obrigar uma igreja que sabe que é fruto dessa nova criação de Deus a aceitar mais uma vez a circuncisão é tão insensato quanto costurar um pano novo num vestido velho ou derramar novo vinho em odres velhos (Mc 2.21,22).
Paulo abençoa aqueles que se apegam à decisão básica de sua carta e com isso à formula recém-proferida do v. 15. E, a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles. O leitor percebe imediatamente que o voto de paz não é, no presente contexto, nenhum “shalom!” estereotipado, que no Oriente um costuma dizer ao outro na rua. Aqui a paz é anunciada como, p. ex., nos Sl 125.5; 128.6, de pleno conteúdo e consciência a “Israel”. Isto é, o apóstolo está abençoando toda a igreja de Cristo livre da lei em sua condição de povo messiânico da salvação. É por isso que também continua: e sobre o Israel de Deus. Ao pronunciar o “e” Paulo de forma alguma está pensando num segundo organismo, diferente da igreja de Cristo, quem sabe a nação de Israel fora de Cristo, que não segue o padrão do v. 15, para o qual o mundo ainda não foi crucificado por meio de Cristo e para o qual a questão de circuncisão ou incircuncisão ainda representa tudo. Não, então o “critério” recém-estabelecido já seria de novo inválido. Então realmente haveria um “outro evangelho” (Gl 1.6,7), e Paulo teria, nos traços finais, revogado toda a sua carta. Isso não pode ser. Por isso resulta da sequência do pensamento inequivocamente que com “Israel de Deus” ele saúda a igreja cristã de judeus e gentios como um só povo da salvação (como concorda a maioria dos exegetas). Depois que o apóstolo abençoou no começo especialmente os fiéis na Galácia, abalados na fé, ele amplia, por meio desse “e” cumulativo, a bênção para a igreja geral na terra.
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Evitando equívocos: “Deus não rejeitou o seu povo (os judeus)!” (Rm 11.2). Conforme Rm 11, o enxerto em Israel dos gentios que creem, não vem em detrimento algum da eleição de Israel. Existe salvação também, e até primeiro, para o Israel de laços sanguíneos, mas precisamente não uma salvação diferente e um caminho de salvação diferente que para todo o mundo. “Visto que Deus é um só, o qual justificará, por fé, o circunciso (o judeu) e, mediante a fé, o incircunciso (o gentio)” (Rm 3.30).
No mais, o designativo Israel para cristãos não-judaicos na boca de alguém como Paulo não pode causar espécie. Seu novo entendimento da filiação a Abraão também tinha de projetar uma nova luz sobre o conceito “Israel”. Em Gl 3.29 ele escreve a gentílico-cristãos: “(Vocês) são descendentes de Abraão” (blh). Conforme Rm 4.16 “Abraão é pai de todos nós”. Em Gl 4.28 ele anuncia aos gálatas: “Vós, porém, irmãos, sois filhos da promessa, como Isaque”. Em Fp 3.3 ele se junta com os gentílico-cristãos: “Nós (enfatizado!) é que somos a circuncisão”. Em Rm 2.28 acontece, sob certas condições, que ele chama de “judeus” aqueles que nem sequer são circuncidados, mas que negam aos que são apenas circuncidados no corpo a condição de serem judeus. Finalmente, em Rm 9.6, ouvimos sua declaração marcante sobre os princípios de Deus já desde o tempo dos patriarcas: “Nem todos os que descendem de Israel são Israel” (bj).
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