Estudo sobre Gálatas 6:8-10
Estudo sobre Gálatas 6:8-10
Paulo conecta a figura da semeadura e colheita com seu tema anterior de carne e Espírito. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para (sobre) o Espírito do Espírito colherá vida eterna. O ponto de comparação se desloca um pouco. No v. 7 Paulo ainda utilizou a figura de semear e colher no sentido costumeiro: O que importa é a semente! Cada um colhe exatamente aquilo que também semeou. Agora, porém, se afirma: O campo é que importa! Tem-se em mente dois tipos de solo. Um é terra não cultivada, talvez até um depósito de lixo, coberto de mato. Ao lado, um campo recém-lavrado, livre de corpos estranhos, adubado e pronto para receber a semente. A que solo será que confiaremos nossa semente? Na agricultura isso nem deveria entrar em questão, mas agora tampouco na nossa ética. Com o recebimento do Espírito Santo obtivemos uma segunda grandiosa possibilidade. Não precisamos dar espaço para a carne (Gl 5.13), i. é, agir como se Deus não existisse e estivéssemos apenas entre nós. Podemos dar lugar a Deus, i. é, cada pensamento que acalentamos, cada palavra que proferimos, cada ação que praticamos, podemos entregar confiantes aos braços do Deus poderoso em Espírito. Os gálatas deparavam-se com a seguinte pergunta prática: ou tratavam o bom Deus como um ninguém, agindo com seus mestres impiedosa, infiel, hostil e partidariamente, ou sua presença os determinava a tal ponto que o cuidado pelos mestres se tornava novamente algo natural.
Segue-se um apelo genérico de incentivo para que se semeie sobre o Espírito. E não nos cansemos de fazer o bem. Paulo amplia agora o tema dos mestres da igreja carentes de suprimento, dirigindo o olhar para “todos”, como dirá expressamente no v. 10. Ele passa a metáfora do semear para seu significado direto: Fazer o bem. Nesse esforço, ser incansável é a virtude especial, mas também o problema especial do semeador. A caminhada quase interminável por sobre um solo que parece morto, sem perceber nada que lhe dê ânimo, pode muito bem minar a persistência. Por isso andar no Espírito traz constantemente consigo a tentação de decair do Espírito e apostar na carne. Muitas vezes a continuidade espiritual não é mantida. Porém não basta ter seguido o Espírito somente aqui e acolá.
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Pela segunda vez aparece uma indicação da colheita, mas desta feita como incentivo para permanecer fiel: porque a seu tempo (o tempo propício para a safra) ceifaremos. Isso se dará, conforme Mc 4.8,20 “a trinta, a sessenta e a cem por um”. Colheita sempre é multiplicação. Semeadura má, conforme Is 40.2; Jr 16.18, será “duplamente recompensada”, e também a boa semente retorna em proporções amplamente aumentadas. Ficaremos maravilhados pelo muito que foi feito do nosso pouquinho de fé, amor e esperança. Diz o Sl 126.2: “Grandes coisas o Senhor tem feito por eles (por nós!)”. Compareceremos com uma “boca cheia de riso” e uma “língua cheia de júbilo”, pois: “Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes” (Sl 126.5,6). “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem” (2Co 4.17,18). Igualmente, promete-se em Jo 15.1-8 ao que vive persistentemente na prática do amor de Jesus, “mais”, “muito” fruto, e fruto “permanente”. Pela expressão a seu tempo também somos informados de que a colheita, como tudo que é importante na vida, está vinculada a uma hora determinada (Ec 3.1-8). Não se pode ter o propósito de colher antes do tempo.
É por essa razão que o tempo atual precisa ser compreendido como tempo de semeadura. Por isso, enquanto (ainda) tivermos oportunidade, façamos o bem a todos. O mesmo período que em Gl 1.4 ainda era chamado de “era perversa” (NVI), tem para a igreja cristã simultaneamente o valor de uma oportunidade propícia, a qual cumpre aproveitar. Isso seguramente acontece transmitindo-se a boa mensagem. Apenas que no presente contexto Paulo não nutre o alvo de dizer o bem, mas de fazer o bem. Cabe tornar compreensível para cada pessoa, por meio da bondade prática, que também temos algo de bom para dizer, que o evangelho é profundamente bom. Pois o próprio Deus faz acompanhar de bondade sua palavra à humanidade. Ele mantém o mundo caído, abençoa-o ano após ano com boas dádivas e suporta malfeitores com paciência. Seu povo está convocado para ser perfeito como ele é perfeito (Mt 5.48), e posicionar-se integralmente do seu lado. Neste contexto cabe também esse fazer o bem por parte dos cristãos. Deve-se notar que essa prática do bem não é exatamente coincidente com seus esforços evangelísticos, mas está muito antes relacionada a eles como uma peça complementar. Tem o mesmo grupo-alvo. Assim como o evangelho se dirige a todos, também as boas obras dos fiéis devem acontecer em relação a todos. Acrescenta-se ainda um adendo que parece restringir o universalismo cristão. A prática do bem vale, mas principalmente aos da família da fé. Ou seja, será que agora o amor de novo circula principalmente nas próprias fileiras? Isso o tornaria questionável. Mas será uma ajuda para compreender essa palavra tomarmos o termo “família” literalmente. Na maior parte, as igrejas existiam como igrejas domiciliares. Tudo se desenrolava em ambientes de moradia apertados e de fácil supervisão. Nessas circunstâncias, a superação espiritual dos problemas do convívio dentro da igreja tornava-se a prova dos noves para o amor em geral. Não fazia sentido pregar o amor universal a todos e aos mais distantes, mas negar literalmente o amor ao próximo na igreja domiciliar. A lógica situa-se bem na linha de 1Tm 5.8: “Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente”.
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