Números 8 — Análise Bíblica

Análise Bíblica de Números 8





Números 8

Nm 8:1-26 A obediência de Arão e dos levitas. O compromisso de obedecer dizia respeito a toda a comunidade, incluindo os sacerdotes, levitas, príncipes das tribos e todos os seus representantes. Esse capítulo começa enfatizando a obediência de Arão, o sumo sacerdote, verificada em seu cuidado de colocar as sete lâmpadas no santuário para iluminá-lo conforme a instrução de Deus (8:1-3), e a obediência demonstrada na confecção do candelabro de ouro exatamente como Deus o havia descrito (8:4). Os detalhes do desenho e da confecção do candelabro de ouro foram fornecidos anteriormente (Êx 25:31-40; 37:17-24), mas sem referência às suas lâmpadas, que são mencionadas apenas aqui. Essas lâmpadas provavelmente foram acesas como parte da consagração do tabernáculo.
O restante desse capítulo trata da ordenação dos levitas como assistentes dos sacerdotes. A cerimônia que os dedicou oficialmente para realizar suas respectivas tarefas apresenta algumas semelhanças com a cerimônia prescrita para a ordenação dos sacerdotes em Levítico 8. No entanto, enquanto os sacerdotes foram santificados, os levitas foram apenas purificados (8:5-6; Lv 8:30); os sacerdotes foram lavados e ungidos, mas os levitas foram apenas aspergidos com a água da expiação (8:7a; Lv 8:6,12); os sacerdotes receberam vestes novas, mas os levitas apenas lavaram suas vestes (8:76; Lv 8:7-9,13); o óleo foi aplicado nos levitas para ungi-los, mas nesse caso, foi apenas misturado com a farinha para a oferta de manjares realizada pelos levitas (8:8; Lv 8:12,30).
O Senhor instruiu Moisés a colocar os levitas diante do tabernáculo, onde toda a congregação deveria impor as mãos sobre eles (8:9-10). Pode-se presumir que, para a realização desse ritual, representantes das outras tribos impuseram as mãos sobre todos os levitas. A imposição de mãos simbolizou o papel dos levitas como substitutos dos primogênitos de Israel (8:16-18; cf. tb. 3:11-13,40-51). A alusão aos primogênitos associa esse acontecimento diretamente à celebração da Páscoa em Números 9, lembrando os leitores do motivo pelo qual a Páscoa foi instituída e pelo qual a comunidade devia celebrá-la antes de iniciar a marcha.
Os levitas deviam ser separados para servir na tenda ia congregação como assistentes de Arão e seus filhos, isto é, dos sacerdotes (8:11,13-15,19a, 22). Mas, antes de poderem realizar essa função, era necessário oferecer um sacrifício de expiação por seus pecados (8:12). Mais adiante nesse capítulo, também se diz que outra função dos levitas era fazer expiação pelo povo de Israel (8:196). A run de compreender essa declaração, devemos esclarecer o significado de “expiação”.
No hebraico, o verbo traduzido por “expiar” significa, literalmente, “cobrir”, “espalhar algo por cima”. É usado de forma figurativa para expressar a ideia de apaziguar, aplacar ou reconciliar-se com alguém (Gn 32:20; 2Sm 21:3; Pv 16:14). Outro significado do termo é “perdoar” ou “sofrer as consequências de” (Dt 21:8; 32:43; 2Cron 30:18; Sl 65:34; 78:38; 79:9; Pv 16:6: Is 6:7: 22:14; Jr 18:23; Ez 16:63). Também pode se referir ao ato de “cobrir ou abolir algo” (Is 28:18), ou, ainda, de “realizar o ritual de expiação” (Êx 29:33.36.37; 30:10,15,16; 32:30; Lv 1:4; 4:20,26,31,35; 5:6,10,13).
O ritual de expiação para o povo culminava no Dia da Expiação (Êx 30:10). Nesse dia, também chamado em hebraico de Dia da Cobertura dos Pecados, observava-se o único jejum prescrito no AT e realizava-se um ritual complexo no qual o sumo sacerdote oferecia sacrifícios para expiar pela contaminação da casa e do povo de Deus pelo pecado (Lv 16; 23:26-32; Nm 29:7-11). É a esse ritual que o autor de Hebreus se refere quando fala de Cristo como nosso sumo sacerdote, aquele que oferece expiação por nós (Hb 9; 10). Pode-se dizer que Jesus “cobriu” os pecados do mundo.
Assim, a declaração de que os levitas deviam fazer expiação pelo povo (8:19) não deve ser interpretada como uma referência ao ritual, mas, sim, ao significado mais simples da palavra, a saber, cobrir algo. Os levitas deviam servir de “véu” entre o povo e Deus, protegendo o povo da praga que sobreviría caso indivíduos que não eram santos ou separados para o serviço de Deus tentassem servir no Lugar Santo.
Como os capítulos anteriores, o capítulo 8 termina enfatizando a obediência de Moisés, de Arão, dos levitas e de toda a comunidade ao fazer exatamente conforme Deus havia ordenado (8:20-22).
Uma vez que a harmonia seria essencial na jornada para a terra prometida, algumas regras são estabelecidas em mais detalhes, abrangendo até mesmo questões secundárias, como a idade certa para o serviço. Os levitas só podiam começar a servir na tenda da congregação a partir dos 25 anos (8:24). Supõe-se que com essa idade eram considerados maduros o suficiente para saber como se comportar e ter discernimento. Depois dos 30 anos, eram considerados aptos para realizar a tarefa solene de carregar o tabernáculo e seus utensílios (4:3). Jesus começou seu ministério com essa idade (Lc 3:23).
Os levitas encerravam seu ministério aos cinquenta anos de idade (8:25). Depois disso, podiam ajudar seus irmãos, mas não deviam mais fazer o serviço (8:26). Essa aposentadoria precoce significava que o trabalho devia ser realizado por aqueles que possuíam força e energia para fazê-lo bem. Ao mesmo tempo, os homens mais velhos se aposentavam enquanto ainda tinham vigor, tomando-se conselheiros respeitados dos levitas mais jovens.
Infelizmente, na África muitos líderes parecem pensar que, depois de assumir seu cargo, devem mantê-lo até a morte, como se ninguém mais fosse capaz de liderar ou servir a nação ou a igreja como eles. O padrão estabelecido nessa passagem de Números é muito mais salutar. Os mais velhos se aposentam do serviço ativo, mas continuam sendo considerados consultores e conselheiros sábios em razão de sua experiência, enquanto os mais jovens assumem os seus cargos. Se fosse adotada na África, tal abordagem promoveria mudanças consideráveis em nosso continente.

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