Explicação de Juízes 11

Em Juízes 11, a história gira em torno de Jefté, um juiz de Israel que surge de um contexto de rejeição social para liderar os israelitas contra os amonitas. Jefté é filho de uma prostituta e inicialmente é rejeitado por seus meio-irmãos, que o obrigam a sair de casa. Ele se torna um guerreiro habilidoso e reúne um grupo de párias ao seu redor.

Quando os amonitas ameaçam os israelitas, os anciãos de Gileade pedem a Jefté que os lidere na batalha. Jefté inicialmente hesita, mas finalmente concorda, jurando a Deus que, se for vitorioso, sacrificará a primeira coisa que sair de sua casa ao retornar. Jefté derrota os amonitas e volta para casa triunfante.

Tragicamente, a primeira coisa que sai de sua casa para cumprimentá-lo é sua filha, sua única filha. Apesar de seu voto, Jefté cumpre sua promessa e lamenta o destino de sua filha. O capítulo destaca a complexidade dos votos e suas consequências, bem como o poder da rejeição social para moldar a vida de um indivíduo. Ele também retrata os desafios enfrentados por aqueles que ascendem de origens desfavorecidas a posições de liderança. Juízes 11 destaca os temas de sacrifício, liderança e o impacto das escolhas pessoais na vida dos indivíduos e de suas famílias.

Explicação

A defesa de Israel por Jefté (11:1–28)
11:1–3 O homem da hora era Jefté. Ele é descrito como um gileadita, um homem valente e poderoso e filho de uma prostituta. Tendo sido rejeitado por seus próprios compatriotas, ele vagou para a terra de Tob (provavelmente na Síria), onde se tornou o líder de um bando de desesperados ou bandidos.

11:4–11 Os anciãos de Gileade agora pediram a Jefté que liderasse os exércitos de Israel contra os amonitas, prometendo reconhecê-lo como seu chefe se derrotasse o inimigo.

De certa forma, Jefté nos lembra do Senhor Jesus: Houve uma sombra sobre o seu nascimento, e ele foi rejeitado por seus irmãos. Quando caíram no cativeiro, eles se lembraram dele e o invocaram como seu salvador; e ao concordar em ajudar os gileaditas, Jefté concordou em ser seu salvador, mas insistiu em ser seu senhor também.

11:12–28 A primeira ação de Jefté foi enviar mensageiros ao rei de … Amon, dando-lhe a oportunidade de explicar sua agressão. O rei reclamou que Israel havia roubado sua terra dele quando a nação marchou do Egito para Canaã. Jefté explicou claramente que não era assim. O Senhor instruiu Seu povo a não se intrometer com os edomitas (Deut. 2:4, 5), os moabitas (Deut. 2:9) ou os amonitas (Deut. 2:19) - todos parentes distantes dos judeus. Portanto, os israelitas contornaram a terra de Edom e a terra de Moabe. Porém, quando chegaram ao território dos amonitas, já havia sido capturado pelos amorreus, cujo rei era Siom. Israel tomou posse desta terra derrotando os amorreus.

Quando o rei de Amon se recusou a retirar sua reivindicação à terra, Jefté se preparou para a guerra.

O voto de Jefté (11:29–40)
11: 29–40 Antes de ir para a batalha, Jefté fez um voto precipitado de que dedicaria ao Senhor tudo o que primeiro saísse de suas portas para encontrá-lo se ele voltasse para casa vitorioso. O Senhor deu-lhe a vitória sobre os amonitas e, ao voltar para casa, sua filha saiu ao seu encontro. Jefté, portanto, a ofereceu ao Senhor.

Há considerável desacordo quanto ao que Jefté realmente fez com sua filha. Uma visão é que ele a matou e a ofereceu como holocausto ao Senhor. Este é talvez o significado mais óbvio do texto, embora a ideia de sacrifício humano seja repulsiva e nunca tenha sido aprovada por Deus (Deuteronômio 18:9–14). Apenas animais foram sacrificados; seres humanos foram dedicados e depois redimidos por dinheiro (Êxodo 13:12, 13; Levítico 27:1–8).

A outra visão comum é que Jefté deu sua filha para ser uma virgem perpétua no serviço de Jeová. Aqueles que defendem esse ponto de vista afirmam que o voto de Jefté era que tudo o que saísse das portas de sua casa… “certamente será do SENHOR, ou o oferecerei em holocausto” (v. 31). A ideia da virgindade perpétua é fortemente apoiada pelos versículos 37, 38 e 39. De qualquer forma, a lição é que não devemos fazer promessas precipitadas.

Notas Adicionais

11.1 Jefté. Os direitos sociais e políticos de Jefté (ainda menos do que aqueles pertencentes a Abimeleque), sendo ilegítimo, impediram-no de gozar de uma herança, na família. Gileade era pai de Jefté. Era, também, o nome do neto de Manassés, fundador do clã, que dominou e deu nome a esta região toda, das tribos, ao leste do Jordão.

11.3 Homens levianos. Jefté, como Davi (cf. 1 Sm 22.2), tornou-se chefe de uma quadrilha de marginais que, como ele, foram expulsos da sociedade. Tobe. Moderna El-Taiyibeh a 25 km ao nordeste de Ramote-Gileade.

11.6 Chefe. A palavra gasin se relaciona com um vocábulo árabe, que se refere a alguém que pratica julgamentos, como um juiz A fama e capacidade de liderança demonstrada por Jefté estendeu-se até aos anciãos de Gileade que, em troca de sua chefia sobre as forças israelitas contra Amom, o fariam ditador para a vida toda.

11.9 A ambição desenfreada de Jefté não deixou de se manifestar nas condições impostas aos anciãos. Ao mesmo tempo transparecia sua fé em Jeová. Afinal, só Ele, realmente, libertaria a nação.

11.11 A solenidade da posse de Jefté na chefia dos gileaditas, perante o Senhor, em Mispa (santuário local), indica uma aliança séria que estava se realizando. As promessas dos anciãos não podiam ser esquecidas.

11.12 Jefté acusa os amonitas de violar seu território. Os amonitas responderam que, originalmente, a terra lhes pertencia. Filhos de Amom (cf. 10.7n). Sua capital era Rabate-Amom, hoje Amã, capital da Jordânia.

11.15 Moabitas. Os moabitas tinham mais direito à área em controvérsia que os amonitas, uma vez que Israel conquistou a região entre o Arnom e o Jaboque, dos amorreus (19; Nm 21.23, 24).

11.16 Mar Vermelho. Refere-se ao golfo de Ácaba, braço ao leste do Sinai. Cades. O mesmo Cades-Barnéia, onde os israelitas gastaram a maior parte dos quarenta anos de sua peregrinação no deserto.

11.20, 21 Não confiando em Israel. Faltando uma ligação de família ou parentesco entre Israel e os amorreus (como havia entre Edom, os hebreus e Moabe), nenhum apoio quiseram dar aos invasores israelitas.

11.22 A área em disputa era aquela desde o deserto até ao Jordão, região relacionada com o reino de Amom. Jefté queria estabelecer o fato de que Deus a tinha libertado dos Amorreus; portanto, Amom não podia reivindicar possessão anterior.

11.24 Camos. Deus principal dos moabitas. Milcom era o deus dos amonitas (1 Rs 11.5). A referência a Camos, neste contexto, sugere a possibilidade de uma aliança entre Amam e Moabe.

11.26 Trezentos anos. Seria o número dos anos atribuídos ao período dos juízes e da opressão, inclusive até Jefté. A arqueologia indica que o intervalo entre a conquista da Terra e a época de Jefté seria de uns 160 anos. Pode-se explicar os 300 anos como uma forma de exprimir aproximadamente às sete ou oito gerações de quarenta anos; pode ser uma conjectura da parte de Jefté, que teria tido pouco acesso às fontes históricas.

11.29 O Espírito... sobre Jefté. O Espírito de Deus proporcionou-lhe poder, coragem e indispensável sabedoria.

11.30 Fez Jefté um voto ao Senhor. A ignorância da lei de Deus por parte de Jefté era muito grande, tendo-se em vista passagens como Lv 18.21; 20.2-5; Dt 12.31; 18.10. Se de fato ofereceu sua única filha em holocausto (oferta queimada), como o sentido literal do texto indica, pode-se afirmar, com certeza, que não agradara a Deus. O sacrifício humano, que se encontra em passagens como 2 Rs 3.27; 16.3; 17.17; 2 Cr 33.6; Jr 7.31; 32.35, revela que tal costume pagão não era desconhecido entre os hebreus. Louvamos o zelo de Jefté; condenamos seu voto temerário. Desde a Idade Média, há intérpretes que argumentam que Jefté jamais teria sacrificado sua filha única; mas que somente a consagrara à virgindade perpétua. As frases “esse será do Senhor” e “jamais foi possuída por varão” (39) são as mais proferidas em prol dessa opinião. • N. Hom. O sacrifício de Gratidão (cf. Sl 50.23; Hb 13.15): 1 ) O voto não é obrigatório para se conseguir ajuda do Senhor, pois ele nos dá tudo graciosamente (Tg 1.5); 2) A oferta de uma pessoa em holocausto não é desejável, já que Deus sacrificou Seu único filho em nosso lugar (Is 53.6, 10; Jo 3.16); 3) O voto que Deus aprecia é a dedicação de uma vida inteiramente consagrada a Ele (Rm 12.1,2).

11.34 A salda da filha do seu lar era da maneira costumeira em Israel em casos de vitória militar (cf. Êx 15.20; 1 Sm 18.6; Sl 68.25). A tragédia daquele voto precipitado aprofunda-se ao verificarmos que a linhagem de Jefté ficou cortada provocando o fim da família, o que é considerado uma das mais funestas maldições, entre os hebreus.

11.35 Jefté não esperava a filha; mesmo assim, tendo feito voto ao Senhor, não cogitou esquecê-lo custasse o que custasse. Jesus nos ensina a atitude certa a tomar com relação aos votos, em Mt 5.33-37.

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