Explicação de Juízes 9

Em Juízes 9, o foco muda para Abimeleque, um dos filhos de Gideão, que busca estabelecer uma monarquia em Israel. Abimeleque conspira com a família de sua mãe e convence o povo de Siquém a torná-lo seu governante. Ele mata seus setenta irmãos, os outros filhos de Gideon, para eliminar potenciais rivais pelo trono. Apenas Jotão, o mais novo, escapa e conta uma parábola sobre as árvores em busca de um rei, usando essa alegoria para condenar a escolha do povo para coroar Abimeleque.

O governo de Abimeleque é marcado por violência e instabilidade. Sua ascensão ao poder desencadeia conflitos, principalmente com a cidade de Siquém. Uma revolta é liderada por Gaal, que desafia a autoridade de Abimeleque. A batalha que se seguiu resulta na vitória de Abimeleque e ele destrói Siquém. Mais tarde, Abimeleque ataca Tebes, mas ao tentar incendiar uma torre, uma mulher deixa cair uma pedra de moinho em sua cabeça, ferindo-o mortalmente.

Juízes 9 serve como uma advertência sobre os perigos de buscar poder e reconhecimento para ganho pessoal. As ações de Abimeleque levaram a derramamento de sangue e divisão entre seu próprio povo, ilustrando as consequências de perseguir ambições egoístas. O capítulo também destaca os temas de responsabilidade e justiça, pois Abimeleque acaba enfrentando as consequências de suas escolhas destrutivas.

Explicação

9:1–6 Abimeleque (meu pai era rei), filho de Gideão, não era um juiz de Israel, mas um usurpador — alguém que procurava governar Israel sem a devida autoridade. Para eliminar qualquer ameaça ao seu governo, ele assassinou todos os seus irmãos, exceto Jotão, o mais novo. Trabalhando com parentes inúteis e imprudentes em Siquém, ele persuadiu o povo daquela área a reconhecê-lo como rei. Visto que Gideão teve setenta filhos (v. 2), e nem todos foram mortos, os setenta do versículo 5 devem ser um número redondo.

9:7–15 Os Evangelhos contêm muitas parábolas ou histórias com um significado mais profundo. Aqui está uma das poucas parábolas do AT. Jensen comenta sobre isso da seguinte forma:
Quando Jotão ouviu falar da coroação de Abimeleque, ele correu para o topo do Monte Gerizim no momento em que o povo estava reunido no vale abaixo. Daquele ponto privilegiado, sua voz podia ser ouvida através do vale, e as pessoas ouviam atentamente a estranha parábola que ele contava. Usando a figura de uma república de árvores elegendo um rei, ele retratou a conduta de Israel. Ele falou de Gideão e seus filhos como a oliveira, a figueira e a videira, que sabiamente se recusaram a deixar seus lugares de utilidade designados por Deus para ir e reinar sobre as árvores. Mas ele comparou Abimeleque a uma amoreira, que não apenas aceitou ansiosamente o convite, mas também avisou que destruiria os cedros do Líbano se as árvores não o elegessem rei. (Jensen, Judges/Ruth, p. 49.)
9:16–21 Jotão então anunciou corajosamente ao povo que, se eles tivessem agido corretamente ao destruir seus irmãos, poderiam se alegrar com seu novo governante. Mas se não, os homens de Siquém e Abimeleque se envolveriam em uma guerra civil e destruiriam uns aos outros.

9:22–33 Isso é exatamente o que aconteceu. Três anos depois, Deus enviou um espírito de má vontade entre Abimeleque e os homens de Siquém. Deus não é o autor do mal, mas Ele permite o mal e até o usa para realizar Seus propósitos com os homens maus (cf. 1 Sam. 16:14; 1 Reis 22:19–23). Os homens de Siquém roubaram aqueles que viajavam pelas rotas comerciais perto de Siquém, privando assim Abimeleque dos impostos que ele normalmente coletaria (v. 25). Gaal, filho de Ebed, usou o festival da colheita como ocasião para convocar uma rebelião contra Abimeleque, dizendo: “Quem é Abimeleque e quem somos nós de Siquém, para que o sirvamos?” Zebul, o governador fantoche de Abimeleque de Siquém, notificou secretamente Abimeleque da conspiração e o aconselhou a marchar contra a cidade pela manhã.

9:34–40 Quando Gaal… foi… ao portão da cidade pela manhã, ele pensou ter visto pessoas descendo do topo das montanhas. A princípio Zebul fingiu que o que via eram apenas sombras, esperando ganhar tempo para Abimeleque. Finalmente Gaal percebeu que na verdade eram pessoas, com uma segunda empresa ... vindo de uma direção diferente. Então Zebul o desafiou a sair … e lutar contra aquele cujo governo ele havia desprezado. Quando Gaal e seu bando de bandidos enfrentaram o inimigo, muitos de seus homens caíram e ele logo foi perseguido de volta à cidade.

9:41–44 Com Abimeleque acampado perto de Arumá, Zebul expulsou Gaal e seus irmãos de Siquém. No dia seguinte as pessoas de Siquém saíram para o campo para trabalhar, ou talvez para tirar o despojo dos homens caídos. Quando Abimeleque soube disso, ele dividiu seus homens em três companhias e armou uma emboscada. Duas companhias deveriam correr sobre eles e outra deveria impedir qualquer retirada de volta para a cidade. A emboscada foi bem-sucedida.

9:45 Depois de um dia de luta, a cidade caiu. As pessoas foram todas mortas e sua cidade foi demolida e semeada com sal. (Semear com sal torna o solo estéril. Aqui foi uma ação simbólica por parte de Abimeleque, expressando sua determinação de que o lugar seja para sempre um deserto de sal estéril.)

9:46–49 Perto estava a torre de Siquém, onde havia um templo do deus Berite. O povo da torre se escondeu em uma grande sala do templo. Abimeleque e seus homens pegaram galhos da floresta próxima ao Monte Zalmon e fizeram uma grande fogueira sobre a fortaleza. Cerca de mil homens e mulheres morreram no inferno.

9:50–57 Ao capturar Tebes, Abimeleque encontrou sua ruína. Enquanto ele atacava uma ... torre onde muitas pessoas haviam buscado refúgio, uma ... mulher jogou uma pedra de moinho na cabeça de Abimeleque. Gravemente ferido, ele pediu a um de seus próprios homens que o matasse, em vez de dizer que ele foi morto por uma mulher. Assim, a amora foi devorada, como Jotham havia previsto.

A justiça tem sua própria forma de adequar a punição ao crime. Abimeleque matou seus irmãos em uma pedra (v. 5), e uma pedra esmagou sua própria cabeça orgulhosa. Aqueles que vivem pela violência morrerão pela mesma.

Notas Adicionais

9.2 Sou osso vosso e carne vossa.
E possível deduzir, destas palavras que a mãe de Abimeleque e sua família fossem cananeias. Explicaria a adoração de Baal-Berite em Siquém, velha cidade cananéia, e a facilidade daquele malandro conseguir a simpatia do povo local, Os restos do templo do Baal de Siquém foram recentemente identificados por arqueólogos.

9.5 À casa de seu pai. Evidentemente, a família de Gideão viveu em modéstia, sem uma guarda armada.

9.6 Bete-Milo. Milo vem de um vocábulo que significa “encher”. Originalmente, referia-se a um terrapleno e depois a uma torre ou fortaleza. É bem possível, que fosse a própria Torre de Siquém (46-49). Carvalho memorial. Cf. Js 24.26. Lugar de longa associação sagrada (cf. Gn 35.4), dando à proclamação do reinado de Abimeleque um cunho religioso. A área dos seus domínios era muito limitada, atingindo apenas uma pequena parte do território de Efraim.

9.7 Monte Gerizim. Fica ao sul de Siquém (cf. Dt 11.29; 27.12 e cap. 28). Os samaritanos, mais tarde, consagraram esse monte para seu culto, em oposição ao culto dos judeus em Jerusalém (cf. Jo 4.20, 21).

9.8 As árvores. Jotão fez uso de uma alegoria ou fábula, para enfatizar seu protesto contra o tratamento outorgados família de Gideão e para acrescentar uma predição com respeito à maldição que Abimeleque traria sobre Siquém.

9.9 Oliveira. O óleo tirado da azeitona era usado para ungir a reis e sacerdotes, como também ser queimado no santuário. O fruto da videira (13) era, do mesmo modo, empregado religiosa e secularmente.

9.14 Espinheiro. Nada produzia de valor; pela contrário, ameaçava a lavoura, afogando às plantas novas (cf. Mt 13.7).

9.15 Debaixo de minha sombra. Baixa e quase sem madeira ou folhagem, pouquíssima sombra podia oferecer. Do espinheiro fogo.* No verão da Palestina, quando faltavam as chuvas durante seis meses, o fogo que pega nos abrolhos os consome velozmente, ameaça as árvores de grande valor, tais como os cedros. Abimeleque, ao invés de proporcionar segurança aos siquemitas, tornava-se motivo de sua destruição.

9.21 Beer. “Poço”; nome muito comum na Palestina. Este é desconhecido.

9.23 A providência de Deus, soberana em toda história humana, está indicada aqui.

9.24 Vingança. Como a ira de Deus Impõe Sua justiça (Rm 1.18), o pecado do assassínio dos inocentes filhos de Gideão não podia deixar de ser punido. A lei de Deus é: “Como Ele fez, assim lhe será feito” (Lv 24.19). Somente por Cristo, que pagou nossa culpa, escapamos à terrível vingança de Deus sobre nossos pecados (Rm 3.23-25).

9.26 Confiaram nele. O mal dos siquemitas era a facilidade com que se deixavam enganar. O único líder que merece toda a confiança é somente o Senhor Jesus Cristo.

9.27 Saíram ao campo. No fim do verão (nosso mês de outubro) se celebrava a grande Festa de Ano Novo entre os cananeus, e a Festa dos Tabernáculos entre os hebreus. Esta última, sob influência dos cananeus, substituiu a Páscoa, como a grande festividade popular, até às reformas realizadas por Ezequias e Josias (2 Rs 23.12ss; 2 Cr 30.1ss).

9.28 Filho de Jerubaal. Gaal, astutamente, traça a linha de Abimeleque pelo pai, ao invés da mãe, natural de Siquém. Homens de Hamor. Hamor significa “asno”, “burro”. A frase quer dizer “Homens da aliança”, já que o sacrifício de um asno era ato essencial para um tratado entre os amorreus (Albright; cf. Gn 35.19; 34.2). Gaal se apresenta como defensor da velha religião cananéia.

9.30 Zebul, governador do cidade. Abimeleque não fez de Siquém a sua capital, mas sim da cidade de Arumá (41), maior que a primeira; quem governava a Siquém era Zebul, seu delegado. Zebul, com suas forças armadas, serviu de “quinta coluna” contra os planos de Gaal.

9.36 Desce gente. A astúcia de Zebul é notável. O plano sugerido a Abimeleque (32, 33), suas palavras proferidas para acalmar a suspeita de Gaal e, finalmente, o desafio, “Sai, pois, e peleja contra ele” (38), diante do qual Gaal teria de lutar ou ficar inteiramente humilhado, revelavam a inteligência de Zebul.

9.37 Defronte de nós. Lit. “umbigo da terra”. Deve ter sido um ponto destacado e bem conhecido. Carvalho dos Adivinhadores. Refere-se, provavelmente, à árvore, onde adivinhos cananeus ou israelitas apóstatas desenvolveram suas práticas de agouros.

9.42 Saiu o povo. Pressupõe que o assunto ficava encerrado depois da conquista de Gaal e suas forças, mas Abimeleque ainda quis reprimir ao povo de Siquém.

9.45 Semeou de sal. Era prática, na antiguidade, que assegurava a desocupação da área por muito tempo, sendo, por este rito, amaldiçoada e tornada improdutiva. Siquém só veio a ser edificada de novo, durante o reinado de Jeroboão, um século e meio mais tarde.

9.46 Templo de El-Berite. Deve ser o mesmo que a “casa de Baal-Berite” (4). Pode ser também sinônimo, de “Torre de Siquém”. Torre, no original, só aparece, fora daqui, em 1 Sm 13.6. Talvez seja uma cova ou fenda coberta de telhado inflamável. Ao se queimarem as ramadas das árvores sobre a fortaleza (49), pereceram todos os que ali se refugiaram.

9.50 Tebes. Cidade cerca de 15 km ao nordeste de Siquém. Ainda que não encontramos declarada a sua participação na revolta contra Abimeleque, devemos chegar a tal conclusão.

9.51 Torre forte. O centro da defesa nas cidades da antiguidade era uma torre. Ainda que Abimeleque tomara a cidade, o povo todo se abrigara na torre, dentro da cidade. Novamente pensava em se utilizar do fogo para destruir (como fez em Siquém), porém não contou com a habilidade de certa mulher desconhecida, que atirou uma pedra de moinho sobre sua cabeça (cf. 4.21).

9.53 Pedra superior de moinho. Lit. “pedra a cavalgar”, com cerca de 6 cm de grossura e 50 cm de diâmetro. Moer era tarefa das mulheres.

9.54 Mata-me. Uma desgraça que a todo custo se devia evitar seria a de morrer por mão de mulher (4.21n).

9.56 Deus. A mão de Deus tornou a maldição de Jotão (cf. v 20) uma realidade. O escritor inspirado não se preocupa com as causas secundárias, sendo que as primárias o finais são controladas por Deus.

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