Estudo sobre Apocalipse 3:18

Apocalipse 3:18

A esses três pontos enfermos correspondem os três conselhos. Aconselho-te. Talvez haja aqui uma conotação do linguajar comercial. Jesus se apresenta como comerciante (Mt 13.45), oferecendo três especialidades de Laodiceia famosas naquele tempo. Pelo que se evidencia, a igreja entrementes misturou-se intimamente com o mundo que a envolve. Enquanto antes constituía um templo de Deus nessa cidade de lojas, agora ela própria se tornou um estabelecimento comercial (Jo 2.16), estando acomodada ao seu contexto. O espírito de negócios, de compra e de regateio, havia deslocado o Espírito Santo. Por amor à igreja, porém, Jesus se transforma num mercador, que tenta superar todos os seus concorrentes: “de mim compres, com toda a certeza receberás boa mercadoria”. Com tenacidade, quase como de um mascate, ele oferece ora isso, ora aquilo, sempre apresentando ao freguês reticente novas mercadorias. O Filho Eterno se rebaixa a um ponto tão humilde. Fez-se um laodicense para os laodicenses, a fim de conquistá-los.

Com o que Laodiceia deverá pagar? Seguramente essa resposta teria de ser respondida com Is 55.1: “Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” Também Ap 22.17 conhece essa curiosa “aquisição”. Com certeza reside nisso um indício dos altos “preços” que o ser humano paga nesse mundo por artigos de pouco valor, comprometendo pureza, honra, paz e saúde. Junto desse novo “comerciante” na verdade se comprará com vantagens, sim, de forma extraordinariamente vantajosa, a saber, de graça. Ele começa com suas ofertas:

De mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres. O ouro dos bancos de Laodiceia tinha boa fama por causa da consistência de seu valor (cf. nota 243). Ao adquiri-lo, o freguês estava bem atendido. Contudo o mercador adverte: “Todos vocês que se abasteceram do ouro de Laodiceia, são pobres e terrivelmente enganados. Façam rapidamente negócios comigo e tornem-se verdadeiramente ricos.” Nesse texto, “ouro” é expressão da verdadeira posse. Todas as missivas às igrejas falaram sobre ter e não ter (nota 185). Cristo faz o balanço. Ele encontra prateleiras totalmente vazias. Contudo, ainda há tempo. Ele quer ajudar a igreja a passar do passivo para o disponível, ou seja, para que tenha amor, fé, serviço, testemunho, esperança (cf. 1Pe 1.7,18; 1Co 12,13).

Vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez. Laodiceia possuía uma indústria têxtil produtiva, sobretudo para tecidos pretos, da moda (cf. nota 243) – Diz-se que os acusados compareciam de preto diante do tribunal. Os condenados eram despidos (aqui, no v. 17; também Jesus foi despido antes da crucificação), réus absolvidos recebiam uma veste branca (cf. o comentário a Ap 3.4). São essas as correlações do nosso texto. O Senhor não deseja a nudez de sua igreja. Ele lhe oferece purificação e absolvição.

E colírio (“pomada”) para ungires os olhos, a fim de que vejas. No Oriente as doenças nos olhos eram muito frequentes, causadas pela forte irradiação solar, por constante poeira, exiguidade da água e falta geral de higiene. Por isso havia muitos cegos, muitos médicos de olhos e centenas de diferentes remédios na forma de pomadas, talcos e gotas. Também Laodiceia comercializava uma famosa marca desses produtos (cf. nota 243).

Quando o v. 17 chama a igreja de cega, sintetiza-se toda a miséria. Muitas vezes os cegos são pobres, e os pobres andam precariamente vestidos. A causa da pobreza e nudez reside na cegueira. A cegueira espiritual, da qual o AT fala com tanta frequência, refere-se ao direito de Deus de fazer reivindicações, às consequências da desobediência, bem como à subestimação do pecado e de Satanás. De acordo com Jo 9.41 essa cegueira espiritual acomete aquele que a nega. Imaginemos uma pessoa cega que se porta como se pudesse ver, não permitindo que seja conduzida, nem tateando cautelosamente no seu caminho. “Não preciso de ninguém, sei fazer tudo sozinho!” É essa a desastrosa cegueira que se apresenta no presente texto (v. 17).