Estudo sobre Apocalipse 3:2

Apocalipse 3:2

Por meio de um chamado ao arrependimento muito insistente são martelados cinco imperativos para dentro do dormitório da comunidade. A figura da morte espiritual transita para a metáfora do sono espiritual (cf. Ef 5.14):224 Sê vigilante (“Acorda!”). O chamado para despertar é imediatamente relacionado com a incumbência ao vigilante: e consolida (“fortalece”) o resto (“restante”) que estava para morrer (“está prestes a morrer”). A mesma incumbência Ezequiel havia recebido outrora: “eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel” (Ez 3.17-19; 33.7-9). A igreja de Jesus é, conforme Ap 1.1, profetiza, ou seja, “igreja de Ezequiel”. Deve alertar seus arredores diante do juízo que se aproxima. Contudo, em Sardes o Ezequiel do NT dorme no ponto. Ele dorme e deixa dormir, i. é, morrer. Portanto, a perseverança (Ap. 1.9) definhou na igreja em Sardes definhou. Ela diz: “Ainda será demorada a vinda do Senhor, se é que ele virá!” Essa é a sua condição mortal do v. 1. Agora ela é despertada mais uma vez para o seu serviço de atalaia.

Gramatical e objetivamente “o restante” não é o mesmo que “os restantes” em Ap 2.24. Aqui não ocorre a ideia de um resto fiel, antes pensa-se no contexto da igreja em Sardes, que estava para morrer. Contudo, entre a promulgação e a execução da sentença de morte forma-se um intervalo de clemência, no qual se precisa do testemunho da igreja. Porém, seria igualmente possível traduzir: “que quer morrer”. Sobre os condenados passa a dominar a resignação, cf. Ez 33.11: “Por que é que vocês estão querendo morrer?” (Bíblia na Linguagem de Hoje). O ambiente da igreja manifesta esse falta de vontade, obstinada e desanimada, uma dúvida secreta da graça, do arrependimento, da mudança e da renovação. No presente contexto ainda não vigora o quadro terrível de Ap 9.6: “Naqueles dias, os homens buscarão a morte e não a acharão; também terão ardente desejo de morrer, mas a morte fugirá deles”. Contudo a evolução corre nessa direção. Sardes deve intervir e instaurar a obediência da fé: Consolida (“Fortalece”) o resto que quer morrer! Consta ainda, como o resultado conclusivo de uma investigação judicial: não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. A igreja, que tinha a fama de ser “igreja viva”, ficou devendo uma parcela decisiva de seu ministério, a saber, o serviço de vigilância na noite da ausência de fé e esperança. O servo preguiçoso enterrara os seus talentos (Mt 25.25) e vivera para si mesmo.

Novamente temos de recordar palavras de Ezequiel: Deus criticou os profetas daquele tempo porque deixavam os ímpios correrem inadvertidamente para a morte e se preservavam a si mesmos (Ez 13.5; 3.17-19; 33.6; 34.1-6). Em analogia, a igreja não vivia para a sua missão, que obteve quando se tornou igreja, e para a qual ela foi amada, redimida e criada (Ap 1.5,6).