Estudo sobre Romanos 11:17

Romanos 11:17

Depois do v. 16b, a relação entre raiz e ramos continua ocupando o pensamento, contudo de maneira diferente. Agora os ramos não formam mais um coletivo indiferenciado, mas podem contrastar entre si. Fala-se de alguns dos ramos em contraposição a outros. São os israelitas descrentes (v. 20), que foram quebrados da oliveira por um ato judicial. Em contrapartida, tu, o gentílico-cristão, como ramo silvestre, foste enxertado em meio deles, a saber, entre os judeus que permaneceram na oliveira porque creem em Cristo.

Com certeza Paulo conhece a figura da oliveira de Jr 11.16, mas utiliza bem poucos elementos dessa ideia. Lá Israel aparece como oliveira que outrora foi frutífera e da qual foram queimados todos os ramos na tempestade de fogo do juízo. Aqui, porém, nem mesmo os galhos quebrados foram queimados (v. 24). Além disso Israel não está sendo comparado propriamente com a árvore, e sim com seus ramos. Não se considera o que se encontra entre raiz e ramos, i. é, tronco e galhos. Em consonância com as Escrituras judaicas, a raiz é metáfora para Abraão. Não foi sem motivo que Paulo lhe dedicou todo Rm 4, ainda que lá não o trate como raiz, porém, com significado fundamental semelhante, como patriarca. Em concordância com o AT, Paulo elaborou um tipo de paternidade para Abraão em que a reprodução física passa para o segundo plano. Importância decisiva possui sua fé. Por meio dela ele se tornou muito mais que mero ancestral do povo judeu, a saber, “pai de muitas nações” (Rm 4.17). Em seu ato de fé está radicada toda a história da salvação. Esse é também agora o ponto de vista condutor. Somente pela fé tu, tanto judeu quanto gentio, te tornaste participante da raiz e da seiva – somente quem crê é sustentado pela raiz (v. 17,18).

O procedimento do enxerto, mencionado seis vezes, não tem nada a ver com a prática de aprimoramento que conhecemos. Pois essa árvore não recebe um ramo nobre, que a pudesse aprimorar. Tampouco deve-se lembrar do enxerto de ramos bravos ocasionalmente praticado na Antiguidade, a fim de rejuvenescer oliveiras envelhecidas. A presente raiz não deve nada ao ramo enxertado, antes pelo contrário: O ramo deve tudo à raiz. Portanto, conscientemente Paulo ultrapassa a figura da natureza. Não é gratuito o destaque que dá, no v. 24, ao “contra a natureza”. Deus não está agindo de acordo com o modelo de um produtor hortigranjeiro, e sim como quem cria algo novo. É desse modo que também sucede o reimplante de ramos cortados, que normalmente já teriam sido queimados há tempo.

Continuação...
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