Estudo sobre Romanos 11:33-36

Romanos 11:33-36

A adoração começa sem uma interpelação formal, com exclamações de admiração sobre as revelações de Deus: Que riqueza de seus dons (Rm 10.12), que sabedoria de seu agir (Rm 8.28), que conhecimento, i. é, que reconhecimento eletivo (Rm 8.29), convincente em sua veracidade. E mais: Que profundidade! Diante dela o ser humano reconhece seus limites: Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Na verdade Deus satisfaz nossa fé, ele se manifesta como aquele que é luz por dentro e por fora, sem a menor sombra de uma turbação, porém ele não satisfaz as nossas teorias, nem mesmo nossas teorias de fé. Temos de suportar uma impossibilidade última de explicar seu agir que julga e salva. O Deus revelado é ao mesmo tempo o Deus abscôndito. Uma comparação poderá mostrar como esses dois elementos formam uma só verdade: Há lagos nas montanhas cujo fundo não pode ser visto apesar de sua água ser límpida como cristal, precisamente por causa de sua profundidade.

Três perguntas sublinham a inescrutabilidade de Deus. Quem, pois (segundo Is 40.13), conheceu a mente do Senhor? Na verdade temos a incumbência de testemunhar a série de feitos de Deus. Mas já estaremos passando dos nossos limites quando tentarmos estabelecer e supostamente entender todas as relações de sentido entre os diversos elos da corrente. Ou quem foi o seu conselheiro? Um governante terreno não pode ter seus olhos em todos os lugares. Por isso precisa do intercâmbio de uma equipe de conselheiros. As informações dela influem nas suas decisões. Deus, porém, tem os olhos e seu Espírito em todo lugar (Sl 33.18; Ap 1.4; 4.5,6,8). Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? No seu governo Deus não é controlado por condições prévias. Não precisa afirmar-se perante ninguém. Não admite negociação em nada. As três perguntas chamam o ser humano, inclusive o profeta, inclusive o exegeta, para uma reverência suprema. Quem se submete à Escritura toda, vive descobrindo como ela tem capacidade de impedir que a sua mensagem seja afinada com os nossos esboços teológicos.

Em sua oração, Paulo precisou de dois versículos e meio para admitir suas limitações perante a sabedoria de Deus. Enfim, nosso pensamento, nosso reconhecimento e nosso falar profético é “em parte”, é “infantil”, e consegue ver apenas “obscuramente” (1Co 13.9-13). Apesar disso é enganosa a impressão de que, no final, Paulo ainda estaria desistindo de empenhar-se em prol da história da salvação. Ele não retira a validade da sua resposta dada em Rm 9–11. Como antes, de forma alguma continua sendo indiferente para ele se “sois ignorantes” (v. 25a). Mas ele é um exemplo no fato de que a teologia precisa passar por oração e adoração, para que também conduza à adoração e não à aguerrida insistência em ter razão.

Sob essa admiração diante dessas profundezas, Paulo recebe a certeza de que Deus está integralmente no controle da história. Nenhum governo contrário nem paralelo conseguirá impor-se. “O qual (Deus) é sobre todos” (Ef 4.6). Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. De acordo com esse “dele”, “por meio de” e “para ele”, o mundo não se encontra nem numa magnífica imobilidade, nem gira num infindável movimento cíclico, mas assemelha-se a um movimento dirigido para um alvo, e impelido por um extraordinário dinamismo interno. O orador tributa a esse Senhor o que lhe é de direito: A ele, pois, a glória, i. é, a glorificação final, eternamente. Amém!


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Romanos 11:33-36