Estudo sobre Romanos 3:22-23

Estudo sobre Romanos 3:22

Estudo sobre Romanos 3:22-23



Romanos 3:22-23

Com forte ênfase, o v. 22a cita a fé em Jesus Cristo como único acesso à esfera da salvação. Justiça de Deus, (porém, acessível) mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que crêem. Ao invés de “a partir da fé” ou “na fé”, Paulo emprega esse “mediante a fé”. A expressão pode ser entendida como metáfora de uma espécie de acesso ou corredor, através do qual é possível entrar num recinto. Ao mesmo tempo, “fé” e “Cristo” estão linguisticamente amalgamados, formando “fé em Cristo”. Sem Cristo, a fé teria valor zero. Seria igual a uma linha telefônica cuja outra extremidade está suspensa no ar. Acontece que ela não está suspensa no ar, porque Cristo ressuscitou. A invocação cheia de fé daquele que está vivo (10.12,13) afirma: nossa salvação agora está inteiramente separada da nossa atividade e condição. Não somos nós que alcançamos a justiça, porém é ela que nos alcança. Flui até nós por meio da fé, como um presente. Contudo, quando vale: “sem a lei, mediante a fé”, a porta está bem aberta para todos. Cai por terra a exclusividade para judeus rigorosos na lei. Em vista da pergunta pela salvação, a distinção não é mais: judeu ou gentio (v. 22b), mas unicamente: fé ou descrença.

A pergunta pela fé, no entanto, não pode ser ignorada. A mensagem da salvação continuava sem efeito quando “não foi acompanhada de fé por aqueles que a ouviram” (Hb 4.2 [nvi]). É o momento de analisarmos mais a fundo a palavra “fé”, que tem significado central no NT. Paulo dedica-se, mais que todo o NT, ao que sucede dentro da alma por ocasião da fé. Quem crê é primordialmente alguém desviado de si e direcionado para fora. Sob esse aspecto é uma pessoa extrovertida. É todo ouvidos, totalmente auscultador, concentrado na mensagem de Cristo. Quem crê, ouve o que é comunicado pela graça nesta mensagem. Ela lhe confere coisas inacreditáveis (cf Is 53.1!). Ele jamais seria capaz de dizê-las a si mesmo. Pode deixar que se lho diga. Permite que se lho diga. Seu escutar torna-se um ouvir integral, a saber um obedecer (1.5). O que ele ouve acerca da vinda, do agir, do ensino, do sofrimento, da morte e ressurreição de Jesus conquista tão intensamente seu ser que ele se compromete com isso por meio de uma confissão pública (10.9,10). Fé é, portanto, uma criação da pregação de Cristo. Quando não há nada para ouvir sobre Cristo, ou nada genuíno, tampouco haverá algo para crer (10.14b). É somente o anúncio verbal de Jesus Cristo que confere à igreja o direito de existir: “Ai de mim se não pregar o evangelho!” (1Co 9.16).

Neste ponto, Paulo insere brevemente no seu raciocínio o resultado de 1.18–3.20. Porque não há distinção (entre judeus e gentios): pois todos pecaram e carecem da glória de Deus. De acordo com Sl 8.5,6, o ser humano na verdade está logo abaixo de Deus. Como reflexo de Deus ele traz sobre a cabeça uma coroa de glória, com a Criação aos seus pés. Ele, porém, possui essa dignidade somente quando persevera na adoração de Deus, assim como a lua somente brilha quando está voltada para o sol. Por meio da trágica alteração de percurso mencionada em 1.21, o ser humano perdeu sua irradiação prevista por Deus. Em 1.24-32 e 3.10-18 Paulo retratou o ser humano desviado de Deus e, por isso, assustadoramente sem brilho. Segundo 2.7,10, no juízo final estará em jogo a pergunta se Deus nos conferirá esse brilho reluzente da dignidade humana original.

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