Daniel 5 — Comentário Teológico

Daniel 5 — Comentário Teológico
Daniel 5 — Comentário Teológico



Capítulo Cinco


O livro de Daniel é composto essencialmente de seis histórias e quatro visões. As histórias ocupam os capítulos 1-6, e as visões os capítulos 7-12. Quanto a detalhes sobre esse arranjo, ver a seção “Ao Leitor”, parágrafos quinto e sexto, apresentados imediatamente antes do começo da exposição em Dan. 1.1. Mas agora chegamos à quarta história, O Banquete do Rei Belsazar. Este capítulo, como é natural, divide-se em três parles: vss. 1-4; vss. 5-28; e vss. 29-31. Essas divisões, por sua vez, apresentam subdivisões que anoto ao longo da exposição. 


Vários detalhes da narrativa não correspondem ao que se sabe sobre esse período, de acordo com a história secular. “A história faz de Belsazar o filho de Nabucodonosor e seu sucessor imediato. Nabucodonosor, entretanto, foi sucedido por seu filho, Awel-Marduque (o Evil-Merodaque de II Reis 25.27-30). Evil-Merodaque foi substituído por Nergal-Sharusur, e este, por Labasi-Marduque, e este último, por sua vez, por Nabunaide (ou Nabonido), em cujo décimo sétimo ano de governo a Babilônia foi conquistada pelos exércitos de Ciro. Nabonido não tinha nenhum parentesco de sangue com Nabucodonosor. Seu filho, Bel-Sarusur, foi o governante encarregado da Babilônia durante a ausência de seu pai em Taima, na Arábia, mas ele nunca foi rei e, nas inscrições contemporâneas, usualmente aparece somente como o filho do rei (Arthur Jeffery, in loc., ao salientar dificuldades). J. Dwight Pentecoste (in loc.) comentou: “Belsazar foi o filho mais velho de Nabonido, nomeado por ele como co-regente. Nabucodonosor aparece como seu pai (ver Dan, 5.2,11,13,18), no sentido de que era seu ancestral ou predecessor. Essa co-regência explica por que Belsazar foi chamado rei (vs. 1) e por que exercia autoridade real, embora Nabonido fosse quem, na realidade, estava sentado no trono”. Se essa explicação não satisfaz a todas as objeções históricas, é suficiente para defender a historicidade do capítulo à nossa frente. Quanto a idéias e informações adicionais, ver no Dicionário o artigo chamado Belsazar.

Não devemos confundir-nos pela porção histórica do relato, a ponto de perder o significado da história à nossa frente. Ela foi escrita para ensinar-nos a verdade religiosa e moral, especialmente concernente à inevitabilidade da opera­ção da Lei Moral da Colheita Segundo a Semeadura (ver a respeito no Dicioná­rio). O que os homens semeiam, eles colhem; o que os reinos semeiam, eles colhem. A sofredora nação de Israel foi libertada pela queda da Babilônia, e houve alguma reparação pela destruição de Jerusalém e Judá. Além disso, assegura-se a nós que a vontade divina governa a vida dos homens e das nações.

O Banquete do Rei Belsazar (5.1-31)
Prólogo (5.1-4)

Belsazar (nome que significa “Oh, Bei, protege o rei”) é de origem posterior. A Septuaginta confunde esse nome com Beltessazar. Temos em Belsazar um rei para todos os propósitos práticos, mesmo que ele não tivesse sido um rei no sentido real. As inscrições nunca o mencionam como um rei que estivesse governando. Mas não há razão alguma para duvidarmos do fato de que seu pai o investiu com poderes reais, pelo que a palavra rei, que aparece neste texto, pode ser considerada correta o bastante para não estar sujeita a críticas e censura. Coregente é termo forte demais para descrever a situação.


Aqui se demonstra que a vontade divina acaba dominando no fim, e que todo sacrilégio deve ser punido. Ademais, o fim do império babilônico foi o início de uma nova esperança para Judá. Agora os judeus poderiam voltar para reconstruir Jerusalém, por meio dos graciosos decretos de Ciro.


5.1
O rei Belsazar deu um grande banquete. O “rei”, que era um homem vão, ofereceu um vasto banquete para mil convidados! O rei continuava a beber vinho na presença dos convidados, que também continuavam a beber só para fazer-lhe companhia. Talvez esteja em vista alguma festividade oficial não-identificada. Os vss. 30-31 mostram que tudo isso ocorreu nas vésperas da queda da Babilônia, em 538 A. C. Se supusermos que Daniel tenha sido levado para o cativeiro aos 16 anos de idade (em 605 A. C.), chegaremos à conclusão de que ele tinha cerca de 83 anos por esse tempo. “As inscrições contemporâ­neas deixam claro que a Babilônia foi capturada sem que se aplicasse um golpe sequer, e que Nabonido foi imediatamente feito prisioneiro. A própria inscrição de Ciro sugere que ele foi recebido com alegria pela população. Uma tradição posterior, entretanto, informa que a cidade foi conquistada por meio de um assalto noturno, enquanto os habitantes celebravam uma festa. Há traços dessa tradição em Heródoto (Hlst. 1.191), bem como em Xenofonte (Cyropaedia, V II.5.15-31)” (Arthur Jeffery, in loc.).

A arqueologia descobriu um vasto salão na cidade de Babilônia, com pouco mais de 50 m de comprimento, cujas paredes eram emplastradas. Esse é um lugar de dimensões suficientes para que ali tivesse ocorrido o banquete mencionado, com seus mil convidados.

5.2
Enquanto Belsazar bebia e apreciava o vinho. O Vergonhoso Sacrilégio. As taças de vinho que o vão rei usou eram os vasos de ouro e prata que Nabucodonosor (seu “pai”) tinha tirado do templo de Jerusalém, no primeiro ataque e cativeiro. Ver Esd. 1.9-11. Houve três cativeiros distintos, que anoto em Jer. 52.28. Ver Jer. 52.18 quanto ao arrebatamento do equipamento do templo. O homem vão, seus muitos senhores e até suas esposas e concubinas usavam os vasos sagrados em sua festa de vinho. Usualmente, as mulheres não eram convidadas para tais festas. Heródoto (Hist. V.18) e Quintus Curlius (Hist. de Alexandre V.1.38) mostram-nos que essa festa, com a presença das mulheres, realmente ocorreu. Cf. a história que envolveu João Batista, em Mat. 14. A presença de dançarinas semidespidas na festa de Belsazar por certo tornou mais interessante e vívida a ocasião!


5.3
Então trouxeram os utensílios de ouro. Este versículo simplesmente relata que se cumpriu a “intenção aludida no vs. 2, de usar os vasos sagrados do templo na festa de vinho, pelo que foi perpetrado o sacrilégio vergonhoso. Isso, como é claro, precisava ser punido, tendo-se tornado uma das razões da queda do império babilônico. Esse império não sobreviveu à profanação do que era sagrado. De fato, foi um ato de profanação descabida" (Fausset, in loc.). Foi também um ato ridículo, mediante o qual os babilônios honraram seus ídolos, seus não-deuses, conforme o vs, 4 passa a dizer-nos.


5.4
Beberam o vinho, e deram louvores aos deuses. Aqueles réprobos levaram muito à frente sua tola questão. Não só profanaram precipitadamente o que era santo, mas chegaram a usar os vasos sagrados para honrar suas falsas deidades, tornando os vasos do templo parte de sua adoração idólatra. Foi uma apropriação vergonhosamente indébita do que pertencia a Yahweh. Por tal ato, eles pagaram um preço altíssimo. É provável que a festa não tenha sido religiosa, mas os babilônios misturavam terrivelmente as questões do Estado com as questões religiosas, pelo que em qualquer ocasião poderiam misturar a idolatria com suas atividades. “Até nos banquetes oficiais era costumeiro oferecer libação aos deuses locais, o que era feito com as palavras apropriadas de louvor. Esse detalhe, como é óbvio, aumenta o crime de Belsazar” (Arthur Jeffery, in loc.). Os deuses da Babilônia foram festivamente servidos, havendo presentes toda a espécie de riqueza material, como ouro, prata, bronze, ferro, madeira e pedra, algo que o autor sagrado adicionou a fim de mostrar a extensão das transgressões idólatras dos culpados. “A perda do sentido do sagrado é sempre um dos sinais da decadência moral... Talvez a perda de respeito pelo que é sagrado para outros seja um sinal inevitável de nossas traições interiores" (Gerald Kennedy, comentando sobre como aqueles homens usavam coisas sagradas em suas orgias de vinho).

A Escrita na Parede (5.5-28)
Uma Mão Escreve Palavras de Condenação (5.5-6)

5.5
No mesmo instante apareceram uns dedos de mão de homem. O Espírito de Deus não suportou o que estava acontecendo, pelo que interveio imediatamente. A reação de Yahweh foi imediata nesse caso, embora com freqüência ela demore um pouco. No entanto, os moinhos de Deus trituram muito fino, pelo que opera a Lei Moral da Colheita Segundo a Semeadura, inevitável e necessária. Ver sobre esse título no Dicionário.

Embora o moinho de Deus moa com extrema lentidão,
Mói excessivamente fino.
Embora Ele espere com paciência,
Com precisão Ele mói a tudo.
(Henry Wordsworth Longfellow)

Candeeiro. Sem dúvida havia muitos candelabros no salão para mil convidados, e a orgia se deu à noite. O rei era um dos convivas, e o fenômeno sobre a mão ocorreu perto dele. O rei, estando próximo, viu claramente o notável fenômeno — uma mão com seus dedos, separada do corpo, escrevendo na parede perto dele. Barnes vê aqui o candeeiro de ouro do templo de Jerusalém como o objeto em destaque. Isso teria adicionado certa justiça poética ao acontecimento. Mas trata-se de mera conjectura. Seja como for, temos aqui uma ilustração de como o Deus invisível realmente contempla o homem e reage de acordo com o que vê, segundo as leis morais.

5.6
Então se mudou o semblante do rei. O rei ficou estupefacto e aterrorizado com o que viu. Imediatamente passaram os efeitos do vinho embriagador. Nem mesmo em seus sonhos mais desvairados, ele jamais vira algo como aquele fenômeno. Diz aqui o hebraico, literalmente, “seu brilho foi mudado nele”, indicando total alteração no colorido e na expressão de seu rosto. O vinho tinha iluminado sua face, e até então ele estivera todo cheio de risos e gargalhadas. De súbito, porém, seu rosto foi coberto como que por uma máscara de terror. Seus pensamentos caíram na consternação e na perplexidade. Ele perdeu o controle muscular, e seus joelhos batiam um no outro. Uma reação neurológica comum de temor é o tremor das pernas, bem como a perda do controle muscular. Essa reação é espontânea e difícil de controlar. Ovídio fala de algo similar em sua obra Metamorfoses 11,180, genua intremuere timore. Ver também Homero, Odisseia, IV.703 e Ilíada XXI. 114. Algumas vezes, as juntas são chamadas de “nós”, conforme diz aqui o hebraico, literalmente. O temor desfez os nós do pobre homem e o deixou a tremer, uma descrição pitoresca, para dizermos a verdade,


Os Psíquicos Profissionais e os Sábio São Chamados (5.7-9)

5.7
O rei ordenou em voz alta que se introduzissem os encantadores. Cada vez que um oficial babilônico caía em dificuldade, chamavam-se os caldeus (a casta dos sábios), alguns dos quais são enumerados neste versículo. Cf. Dan. 1.20; 2.2,4,27 e 4,7 (as listas variam um pouco, adicionando ou deixando de lado uma ou outra das classes; mas está em vista a mesma classe dos sábios em todas essas listas). Esses sábios eram sempre chamados, mas sempre falhavam.


Então aparecia alguém para lembrar o rei a respeito de Daniel, o solucionador dos problemas que outras pessoas não podiam solucionar. Aqui, tal como em Dan. 2.6, o rei prometeu que o revelador do enigma seria enriquecido e glorificado. Foi prometida também a veste púrpura, aquela que denotava alguém como autoridade do governo digna de admiração e respeito, Cf. as vestes púrpura de Mordecai, em Est. 8.15. Entre os persas, essas vestes eram sinal da dignidade real (ver Est. 8.15; I Esd. 3.6; Xenofonte, Anabasis, I.5.8). A tintura utilizada era tirada de uma substância vermelho-purpurina de certos moluscos (Plínio, Hist. Natural IX.60-62).

A cadeia de ouro era outro sinal de dignidade principesca, conforme se vê em Gên. 41.42; Xenofonte (Anabasis, I.5.8); Heródoto (Hist. III.20). Tais correntes de ouro eram dadas pelos reis para honrar certos elementos selecionados por servi­ços prestados, e só podiam ser usadas como decoração, por altas autoridades.


Será o terceiro no meu reino. Esta referência é obscura. Pode dizer respeito a alguma espécie de triunvirato no governo (ver I Esd. 3.9). Ou então está em foco um oficial babilônico, o saisu. O rei era o comandante-em-chefe do exército; o oficial à sua mão direita era o segundo no comando; e o oficial que ficava à sua esquerda era o terceiro. Mas alguns dizem que Nabonido era o verdadeiro rei; Belsazar era seu governante nomeado; e o terceiro seria alguém que atuaria como principal assistente de Belsazar. Sem importar o que essas palavras queiram dizer, uma altíssima posição no reino foi prometida ao homem que pudesse interpretar a escrita na caiadura da parede.


5.8
Então entraram todos os sábios do rei. Conforme era usual, nenhum membro da casta dos caldeus (os sábios, membros dos quais são especificados em Dan. 1.20; 2.2,4,27 e 4.7) foi capaz de ler e interpretar o escrito. Mas por que eles foram incapazes de ler uma inscrição que Daniel decifrou no primeiro olhar?


Conjecturas: 1. Os caracteres eram escritos em semítico antigo ou em alguma escrita que os sábios não conheciam; 2. a linguagem da inscrição era desconhecida para eles; 3. as palavras foram escritas em colunas verticais, mas aqueles ineptos eruditos tentaram lê-las horizontalmente; 4. ou então a coisa toda era um enigma autêntico e só podia ser interpretada com ajuda divina, que não estava disponível para aqueles pagãos. A quarta ideia é, provavelmente, a que o autor sacro tencionava.


5.9
Com isto se perturbou muito o rei. Belsazar ficou espantado e perplexo com a ocorrência. Aqueles em quem ele confiava serem capazes de aliviar seu espanto apenas lhe aumentaram a inquietação, pois deixaram um mistério profundo e potencialmente ameaçador. “Havia espaço para alarma, quando sábios profissionais foram incapazes de interpretar a misteriosa escrita na parede. Sem dúvida deve-se compreender que o fenômeno apontava para algo portentoso. A incerteza que havia na questão apenas aumentou a agitação do monarca. “Sua cor mudou, e seus senhores ficaram perplexos” (Revised Standard Version). “Seu rosto empalideceu. Os convidados reais ficaram confusos” (NCV). Cf. o vs. 6. “O terror de Belsazar e de seus senhores foi causado pela impressão de que a incapacidade de os sábios lerem a inscrição era o portento de alguma terrível calamidade que estava prestes a atingir a todos” (Ellicott, in loc.).

A Rainha-mãe Faz uma Sugestão Crítica (5.10-17)

5.10
A rainha-mãe, por causa do que havia acontecido ao rei. Está em pauta a mãe de Belsazar, ou sua avó, mãe de Nabonido. Mas talvez esteja em vista sua principal esposa, a qual se apresentou como pessoa de autoridade superior às das muitas concubinas do rei. Daniel era conhecido pela corte inteira, incluindo a rainha-mãe, que foi o instrumento para solucionar o mistério.

Embora a mulher fosse esposa, mãe ou avó de Belsazar, ela se prostrou diante do rei e proferiu as palavras apropriadas. Cf. Dan. 2.4; 3.9 e 6.6,21. Tendo cuidado das formalidades, ela apresentou sua útil sugestão, conforme o vs. 11 passa a relatar. O rosto caído do rei e sua tez pálida se recuperaram ligeiramente, mas não por muito tempo. Seria melhor ele não ter ouvido a interpretação da mensagem celeste.

5.11
Há no teu reino um homem. Daniel era cheio do espirito dos deuses santos (cf. Dan. 4.8,9,18). Ele era conhecido como um psíquico extraordinário, o chefe dos sábios profissionais (a casta dos caldeus). Ver Dan. 2.48 e 4.9. Nabucodonosor tivera seus problemas solucionados por Daniel, e Nabucodonosor é erroneamente chamado aqui de pai de Belsazar. Ver a introdução ao capítulo, quanto a explica­ções. Seja como for, Daniel era o homem de sabedoria e compreensão que nunca errara em suas interpretações. Ele tinha a sabedoria dos próprios deuses, e nenhum membro da casta dos caldeus — encantadores, magos ou adivinhos — podia comparar-se a ele. Quanto a essa casta e seus vários membros, ver as notas sobre Dan. 1.20; 2.2-4,27; 4.7. Uma vez mais, Daniel foi chamado de chefe
dos “sábios”.

5.12
Porquanto espírito excelente. Continua aqui o louvor dado a Daniel, revelando sua extraordinária reputação. Ele era um especialista na interpretação de sonhos, capaz de resolver enigmas e problemas. Portanto, que se chamasse Daniel. As habilidades de Daniel na oneiromancia compõem o tema dos capítulos 2 e 4 do livro de Daniel. Os enigmas (literalmente, “uma coisa fechada ou oculta") eram decifrados por ele. A “solução de problemas”, literalmente, é “desmanchar de nós”. Ver o vs. 16 e cf. Juí. 14.14 e I Reis 10.2,3. Jesus libertou uma mulher que havia dezoito anos tinha sido amarrada com um nó (ver Luc. 13.16). No Alcorão (113.4), Maomé busca a ajuda de uma mulher que era especialista em “desmanchar nós” e desatá-los. O nome pelo qual Daniel era conhecido na corte — Beltessazar — vincula-o com a informação prestada em Dan. 1.7 e 4.8.

5.13
Então Daniel foi introduzido à presença do rei. A sugestão da rainha-mãe foi bem acolhida. O rei certificou-se de que o homem introduzido à sua presença era o judeu cativo que tanto subira no reino por causa de suas aptidões especiais. O texto exalta indiretamente os judeus e seu Deus, à custa dos psíquicos profissionais e seus deuses. Uma vez mais, Nabucodonosor é chamado de “pai de Belsazar”. Ver as notas de introdução ao presente capítulo. Daniel é mencionado como se fosse desconhecido pelo rei Belsazar, o que sugere que o profeta, ocupado nos negócios do Estado, tinha escapado de ser observado até por alguns elevados oficiais do governo. Seja como for, é tolice buscar coerência em tais histórias. Daniel deveria ter, no mínimo, 83 anos de idade, e talvez até tivesse 90 anos, pelo que, como homem idoso, deixara de circular pelo palácio real.

5.14
Tenho ouvido dizer a teu respeito. A repetição é uma característica do autor sacro, pelo que ouvimos as extraordinárias habilidades de Daniel saindo dos lábios de Belsazar. A informação dada no vs. 11 é aqui repetida. O vs. 12 oferece uma lista das especialidades que tinham conferido ao profeta tamanha reputação.


5.15
Acabam de ser introduzidos à minha presença os sábios. Este versículo é outra repetição, revisando o que já tinha sido dito nos vss. 7 e 8. Os judeus, o Deus deles e o profeta especial deles (no momento) foram exaltados às expensas dos deuses, de seus profetas de nada e de seu culto idólatra. São aqui mencionados dois membros da casta dos sábios, que representam todos os outros. Ver Dan. 1.20; 2.3,4,27 e 4.7.

5.16
Eu, porém, tenho ouvido dizer de ti. Outra repetição lembra-nos que os solucionadores de enigmas seriam altamente exaltados e enriquecidos. Cf. o vs. 7, onde temos a mesma lista de promessas para os psíquicos bem-sucedidos. É ali que dou notas sobre a questão. Cf. Dan. 2.6 e 2.48 (onde Daniel realmente recebeu as coisas prometidas, depois de ter alcançado êxito).

5.17
Então respondeu Daniel, e disse. Daniel não estava interessado nas coisas que os reis pagãos tinham para oferecer. Ele não podia dar o menor valor às glórias e às vantagens do mundo. Era idoso demais para envolver-se em toda aquela exaltação e riqueza. Mas ele trabalharia de graça, de modo que o rei nada teria com que preocupar-se. Ademais, em poucas horas nada existiria do império babilônico. O “rei” perderia tudo, incluindo a própria vida, portanto o que teria para dar a um psíquico bem-sucedido? Antes, porém, de dar a interpretação da mensagem escrita à mão, o profeta pregaria ao “rei” um sermão que teria aplicação direta à questão (a qual fora antecipada na mente de Daniel).

O Sermão de Daniel (5.18-25)

5.18
Ó rei! Deus, o Altíssimo, deu a Nabucodonosor. Esse sermão salientou o notável contraste entre a grandeza de Nabucodonosor, o “pai” de Belsazar, e sua queda vergonhosa, quando foi afligido pela insanidade temporária (capítulo 4). Ele estava dizendo que o Rei verdadeiro faz o que Lhe parece melhor, e o destino dos homens e das nações depende do Ser divino, e não da insensatez, dos esforços
e do orgulho dos seres humanos. O profeta estava preparando o hornem para ouvir acerca de sua própria queda, provocada pela mão divina. Ver no Dicionário os verbetes chamados Soberania de Deus Teísmo. Deus é o Deus da interven­ção, e não uma figura distante, conforme ensina o Deísmo.

O Altíssimo (ver a respeito no Dicionário) deu a Nabucodonosor poder, riquezas e glória. E o mesmo Deus do céu tirou dele essas vantagens, devido aos fracassos morais do rei, que foi exaltado em seu próprio poder e esqueceu o Poder celestial. Esse título divino é usado treze vezes no livro. Ver as notas sobre Dan. 3.26. Belsazar, observando o que tinha acontecido ao altivo Nabucodonosor, nem assim aceitou a lição, e caiu no mesmo orgulho ridículo. Seu “pai” teve oportunidade de arrepender-se, por meio de um período de graça divina (ver Dan. 4.29), mas o “rei” presente não teria tal luxo. Ele seria simplesmente cortado.


5.19
Por causa da grandeza, que lhe deu. Nabucodonosor teve poder absoluto, enquanto durou sua autoridade. Ele ampliou seu governo sobre todos os povos do mundo então conhecido. Cf. Dan. 3.4. Todos os povos eram forçados a tremer diante dele, porque sua palavra significava vida ou morte, usualmente a última. A alguns ele elevava; a outros, executava. Os que eram elevados tornavam-se seus escravos, e os executados tornavam-se lições objetivas do que acontecia aos que caíam no desfavor do rei. O louco rei começou a ter ilusões de que era uma divindade ele mesmo. Enquanto se pavoneava no palco da vida, o mundo estremecia, e, no entanto, sua real posição era apenas a de um escravo do Altíssimo, e ele seria o derrubado pelo poder superior de Deus. O mesmo poder que havia
levantado Nabucodonosor cansou-se jogo e derrubou ao rei. Ver o orgulho contrastado com a humildade, em Pro. 11.2; 13.10; 14.3; 15.25; 16.5,18; 18.12; 21.4; 30.12,32. Ver sobre essas duas palavras no Dicionário. Quanto ao grande poder de Nabucodonosor, ver também Dan. 3.4; 4.1; 6.25 e 7.14. Quanto aos decretos imutáveis de rei da Babilônia, ver Dan. 5.19.

5.20
Quando, porém, o seu coração se elevou. O orgulhoso coração (mente) de Nabucodonosor em breve tornou-se duro, segundo usualmente acontece. Os homens maus vão de mal a pior. Cf. o clássico caso do orgulhoso Faraó, aquele rei ridículo que continuou em sua ridícula rebeldia até que perder tudo; Êxo. 7.13,14,22; 8.15; 9.7; Sal. 95.8; Deu. 2.30; I Sam. 6.6; Atos 19.9. Da mesma forma que o Faraó foi derrubado pelo Ser divino, conforme sucedeu a Nabucodonosor, por causa do orgulho tolo deles, assim aconteceria agora a Belsazar, em uma questão de horas. Yahweh depôs o rei, e este perdeu subitamente tudo quanto se esforçara por juntar — poder, posição, glória. Portanto, a lei moral de Deus tomou conta dele (ver Dan. 4.27). Seus pecados lhe causaram a queda, sobretudo o pecado de orgulho (ver Dan. 4.30).

5.21
Foi expulso dentre os filhos dos homens. Outra repetição lembra-nos o que sucedeu a Nabucodonosor nos campos, ao ficar reduzido ao estado mental de um animal irracional, companheiro de feras, sujeito aos abusos da natureza, molhado pela chuva e pelo orvalho. Cf. Dan. 4.25,32. Obtemos aqui outro detalhe.

Ele habitou entre os jumentos monteses, que vivem longe do homem predador. Alguns manuscritos substituem a palavra jumentos por rebanhos, para fazer com que os animais envolvidos fossem domésticos, mas dificilmente isso se ajusta ao terror que se apossou do rei. Para todos os propósitos práticos, o orgulhoso rei tornou-se uma fera feroz, porquanto agira como se fosse um mero animal, possuidor de um espírito bruto e dominado pelas trevas espirituais (ver Dan. 4.27).

5.22
Tu, Belsazar, que és seu filho. Belsazar testemunhara o que aconteceu a Nabucodonosor, mas não aceitou a lição. Um coração humilde é o contrário do coração endurecido (vs. 20). Antes, o ‘ rei” seguia a senda que levara seu "pai” à ruína. O que aprendemos desse relato é que os homens não aprendem através da história. Cada indivíduo apressa-se por cometer seus próprios erros e sofrer sua própria retribuição. O “rei” sabia da história do rei anterior, mas não aprendera nenhuma lição moral do acontecido, nem esse conhecimento mudou a conduta que o estava levando à destruição.


5.23
E te levantaste contra o Senhor do céu. Os Pecados do Rei. Acompanhe o leitor estes quatro pontos: 1. Uma forma de orgulho que levou Belsazar a exaltar-se contra Deus, um verdadeiro sacrilégio; 2. o uso vergonhoso dos vasos do templo (que tinham sido levados por Nabucodonosor) em suas orgias de vinho (vss. 3 e 4); 3. sua escandalosa idolatria que usava toda a forma de materiais, empregados para moldar intermináveis deuses de nada (vs. 4); 4. ele deixara de honrar o verdadeiro Rei, o Deus Altíssimo. O resultado foi que a mão de Deus não demorou a derrubá-lo do templo. Talvez haja aqui um jogo de palavras intencional: uma mão escrevera sua condenação na parede, e a Mão divina haveria de derrubá-lo. Ver sobre mão em Sal. 81.14 (e também no Dicionário) e sobre mão direita em Sal. 20.6. Ver sobre braço em Sal. 77.15; 89.10 e 98.1.

O vs. 23 descreve uma conduta vergonhosa e totalmente imprópria para um homem dotado de poder, que, supostamente, deveria possuir sabedoria incomum. Todos os teus caminhos. A própria vida de um homem, a sua respiração, é dom de Deus. O homem é criado e sustentado pelo Poder do alto (ver Col. 1.16,17). Além disso, os dias, os atos, os esforços e a vida como um todo, que perfazem o destino de cada indivíduo — está tudo nas mãos de Deus.


Sentimos que Nada Somos
Sentimos que nada somos, pois tudo és Tu e em Ti;
Sentimos que algo somos, isso também vem de Ti;
Sabemos que nada somos — mas Tu nos ajudas
a ser algo.
Bendito seja o Teu nome — Aleluia!

(Alfred Lord Tennyson)

5.24
Então da parte dele foi enviada aquela mão. Foi por causa da quádripla infração do rei (vs. 23) que a misteriosa mão escreveu a mensagem na parede, bem perto de Nabucodonosor, próximo ao candeeiro que iluminava a mesa do rei (vs. 5). Agora aprendemos que a mão fantasmagórica era a mão de Deus Altíssimo, que se tinha cansado do jogo feito por Belsazar. Portanto, o escrito na parede foi um decreto divino contra Belsazar, e esse decreto se cumpriria em cada detalhe espantoso.

5.25
Esta, pois, é a escritura que se traçou. A escrita era simples: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM, que significa, literalmente: numerado, pesado, dividido. Essas palavras, em seguida, tiveram de ser interpretadas, o que forma a substância dos vss. 26-28. O texto massorético dá o duplo MENE, MENE, mas a Septuaginta, a Vulgata e Josefo dão apenas um MENE, formando três palavras, e alguns supõem ser esse o texto original. Algumas vezes as versões, especialmente a Septuaginta, preservam o texto original contra o texto massorético padronizado. Os Papiros do Mar Morto, manuscritos hebraicos de mil anos antes que aqueles usados para a compilação do texto padronizado, têm textos que concordam com as versões e discordam do texto hebraico padronizado. Talvez a margem de erro do texto massorético atinja 5% do total. Ver no Dicionário o verbete intitulado Massora (Massorah); Texto Massorético. Ver também Manuscritos Antigos do Antigo Testamento. Nesse último artigo dou informações sobre como o textos são escolhidos quando aparecem variantes. Devemos lembrar que as versões foram traduzidas de manuscritos hebraicos muito mais antigos do que aqueles que formaram o texto massorético padronizado. Portanto, não é de causar admiração que, algumas vezes, eles sejam melhores do que a Bíblia hebraico moderna.

“Essas são palavras caldaicas, que podem ser traduzidas literalmente como: numerado, pesado, dividido (John Gill, in loc.). Por que os sábios babilônicos não puderam ler essas palavras, é desconhecido. O que é dito sobre o assunto é dado nas notas do vs. 8. “MENE, substantivo aramaico que se refere a um peso de 50 siclos (uma mina, igual a 567,5 g de peso). Deriva-se do verbo menah, 'numerar', 'computar'. TEQUEL é um substantivo que se refere a um siclo (28,35 g). Vem do verbo teqei, ‘pesar1. PARSIM é um substantivo que significa meia mina (25 siclos, ou seja, 283,75 g de peso). Deriva-se do verbo peras, ‘dividir pelo meio1. A palavra uparsin significa e parsim (u é a partícula conectiva ‘e')” (J. Dwight Pentecoste, in loc.).

A Solução do Mistério (5.26-28)

5.26
Esta é a interpretação. Embora as próprias palavras fossem tomadas para referir-se a pesos, podendo simbolizar algo como o julgamento político e a justiça popular, a elas foi dada uma direção inteiramente nova, que se aplicava diretamente ao próprio rei. Preservada na questão dos pesos está a balança que pesara o rei e o achara leve demais para poder derrubá-lo. Em outras palavras, ele era tão leve que o Vento de Deus estava pronto a soprá-lo para longe como se fosse feito de palha. Ele era apenas um saco de vento profano. Não tinha substância que atraísse o favor divino.

MENE: Contou Deus o teu reino. Este versículo aborda a questão da interpretação da palavra MENE. Deus contou os dias (do reinado de Belsazar) e determinou que poucos tempo lhe restava. O fim daquele governo tinha chegado. “Deus contou os dias e o teu reino terminará” (NCV). Aquele reino havia alcançado o número determinado de seus dias, mas obtemos aqui a idéia de cortar, reino perdurou menos tempo do que poderia ter perdurado. O julgamento de Deus decepou o reino da Babilônia.


Fez toda raça humana para habitar sobre toda a lace da terra,
havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os
limites da sua habitação.

(Atos 17.26)

Isso pode parecer determinismo absoluto, mas muitas são as Escrituras que nos mostram que acontecem aos homens e às nações muitas coisas segundo a Lei Moral da Colheita Segundo a Semeadura (ver a respeito no Dicionário), que opera conforme os homens obedecem ou desobedecem às leis morais de Deus.

A presente história é, na realidade, uma ilustração precisa disso.

5.27
TEQUEL: Pesado foste na balança. Este versículo interpreta a palavra TEQUEL. Deus pôs o rei na balança de Sua justiça e achou que ele era mais leve do que a poeira. Para ser aprovado, o homem teria de ser pesado o bastante para fazer o prato da balança baixar em seu favor — essa é a ideia da metáfora. Um homem tem de pesar mais do que seus pecados e fracassos, ou seja, mostrar que tem algum valor que pese mais do que suas maldades.

“Foste pesado na balança e ficou demonstrado que não és bom o bastante” (NCV). Ou seja, Belsazar não era suficientemente bom para escapar do julgamento que sobreviria naquela mesma noite. Esse juízo veio porque as maldades do rei ultrapassavam suas bondades. “A noção da conduta humana ser pesada em uma balança é muito antiga e ilustra lindamente as cenas do Egito antigo, onde os mortos ficavam de pé defronte da balança, enquanto o registro era feito. Passagens bíblicas como Jó 6.2,3; 31.6 e Pro. 62.9 refletem essa ideia. Cf. também Sal. 5.6; Enoque 41.1; 61.8, bem como o Quran Sura 21.48” (Arthur Jeffery, in loc.).

“Você foi pesado na balança da justiça e da verdade, na santa e justa lei de Deus, tal como o ouro, as jóias e as pedras preciosas são pesados para se determinar o seu valor... e você foi encontrado em falta, como se fosse ouro adulterado, escória de prata, moedas falsas e pedras preciosas falsificadas, encontrado como inútil como homem, príncipe iníquo, a quem faltam as qualifica­ções necessárias da sabedoria, da bondade, da misericórdia, da verdade e da justiça" (John Gill, in loc.). Essa citação nos faz sentir o que está envolvido nos julgamentos divinos, não somente no que diz respeito àquele pobre homem, mas no que se refere a nós, igualmente. Qual é o peso de nossa sabedoria, bondade, misericórdia, verdade e justiça?

5.28
PERES: Dividido foi o teu reino. Este versículo interpreta a palavra PERES. Estritamente falando, o reino não foi dividido; simplesmente foi conquistado pelos medos e persas. Mas talvez a ideia seja que essas duas potências dividiram entre si o império da Babilônia. De fato, a Média e a Pérsia eram potências distintas que se uniram mediante a conquista da segunda pela primeira. Ver os comentários
sobre Dan. 2.39. O terceiro reino do sonho de Nabucodonosor — o ventre e as coxas de bronze — é interpretado por alguns como o poder persa, em distinção ao poder da Média. Portanto, a palavra PERAS pode significar “quebrar”, e, como é lógico, a Babilônia foi quebrada em dois pela derrota que sofreu. Os medos aparecem em II Reis 17.6; Esd. 6.2 e nos livros proféticos. Os medos e os persas são mencionados juntos aqui, tanto quanto no capítulo 6 deste livro, porque os judeus, à semelhança dos gregos, consideravam aqueles dois povos iranianos intimamente associados. Nos escritos gregos, os termos ta Persika e ta Medika tornaram-se sinônimos virtuais, intercambiáveis. Quanto a informações gerais, ver no Dicionário os verbetes chamados Média (Medos) e Pérsia.


Talvez haja um jogo de palavras intencional aqui, baseado em peres (quebrar) e Paras (Pérsia). Os persas foram os instrumentos da quebra do império babilônico.


Epílogo (5.29-31)

5.29
Então mandou Belsazar que vestissem Daniel de púrpura. Mantendo a promessa de alta recompensa, o rei baixou decretos com essa finalidade. Ver os vss. 7 e 16, que o presente versículo praticamente duplica. Mas esse cumprimento foi inútil, pois naquela mesma noite nada mais restaria a Belsazar para dar a Daniel. Era iminente uma grande “mudança de mãos”. Os medos e os persas dentro de poucas horas seriam os próximos insensatos que estariam saltitando no palco da história.

Nossos pequenos sistemas têm sua época,
Eles têm seu dia, mas logo passam.
São apenas lâmpadas bruxuleantes ao lado
Da Tua luz, ó Senhor.
(Russell Champlin)

5.30
Naquela mesma noite foi morto Belsazar, rei dos caldeus. O golpe divino atingiu o rei de modo súbito e brutal. Belsazar não chegou a atravessar vivo aquela noite. O fraseado usado neste versículo indica um ataque noturno, declaração confirmada tanto por Heródoto quanto por Xenofonte. Este último mencionou especificamente que o ataque foi desfechado à noite, durante uma festa de vinho (Cyropaedia, I.7, sec. 7, sec. 23 e 23). “Ciro desviou as águas do rio Eufrates para um novo canal e, guiado por dois desertores, Gobiras e Gadatas, marchou pelo leito seco do rio e entrou na cidade... Ver também Isa. 21.5; Jer. 50.38,39 e 51.36. Quanto ao fato de que Belsazar foi morto, cf. Isa. 14.18-20; Jer. 50.29-35 e 51.57. A cidade foi cercada, e Ciro estava preparado para um longo cerco. A cidade tinha comida estocada para vinte anos! Belsazar não temia o exército persa, que era dirigido por Ugbaru. O truque das forças atacantes foi o desvio do rio, que levou o drama a um desfecho tão rápido e inesperado, cumprindo a temível profecia de Daniel. Ver também Isa. 47.1-5. A queda da cidade de Babilônia pode ser datada com precisão. Ocorreu a 16 de tisri (12 de outubro de 539 A. C.). Chegamos agora à segunda fase do governo dos gentios (ver Dan. 2.39), em consonância com o sonho da imagem de Nabucodonosor. Ver no Dicionário o verbete chamado Soberania de Deus, a qual recebeu uma demonstração dramática e significativa. O Rei é quem levanta e derruba monarcas humanos.

5.31
E Dario, o medo,... se apoderou do reino. Os críticos encontram neste versículo um equívoco importante, cometido pelo autor sacro, assegurando-nos que nunca houve alguém como Dario, o medo. Eles supõem que esse seja um detalhe registrado por um escritor mal informado das circunstâncias que envolveram os medos e os persas. “Têm havido tentativas para identificá-lo com Ciaxares II, o tio de Ciro; com o próprio Ciro, com Gobrias, o general que realmente tomou a cidade de Babilônia e a governou por algum tempo; com Cambises, filho de Ciro; e com Astiages, o último rei dos medos. Todas essas identificações propostas naufragam sobre os fatos de que, neste livro, Dario foi um medo (Dan. 5.31); filho de Xerxes (10.1); antecessor imediato de Ciro (6.28 e 10.1). Portanto, ele é uma personagem de ficção e não uma figura histórica, e não há dificuldade alguma em ver como esses relatos sobre indivíduos fazem com que Ciro, que tomou a Babilônia em 538 A. C., veio a ser confundido com a personagem de Dario I, que a capturou em 520 A. C. A teoria dos quatro impérios exigia que o império medo existisse antes do império persa, e a profecia predissera a derrubada da Babilônia por parte dos medos (ver Isa. 13.17; 21.2; Jer. 51.11,28), pelo que temos a figura indistinta de Dario, o medo, como sucessor imediato de Belsazar, É perfeitamente possível que memórias reminiscentes tanto de Gobiras quanto de Cambises tenham contribuído para formar essa figura” (Arthur Jeffery, in toe).

Quanto a como esses argumentos têm recebido contra-argumentos, ver na Introdução ao livro, em III, Autoria, Data e Debates a Respeito, primeiro ponto. Ver também no Dicionário o artigo denominado Belsazar, onde é apresentada uma discussão mais completa.


Harmonia a Qualquer Preço. Se existem erros históricos nos livros da Bíblia, isso nada tem que ver com a teoria da inspiração, que não requer perfeição verbal e histórica. Devemos lembrar que é a teoria do ditado que faz tais exigências. Não há razão para duvidarmos de que algumas Escrituras foram produzidas através desse método, mas também não há razão para acreditarmos que as Escrituras, em sua inteireza, foram assim produzidas. Ver no Dicionário o artigo geral sobre Inspiração e Revelação, o qual entra nas questões relativas ao modus operandi da inspiração. Sabemos que quase todos os autores das Escrituras cometerem erros gramaticais e que existem, aqui e acolá, versículos confusos que permaneceram sem revisão. A perfeição verbal, na realidade, é um mito, e as pessoas que leem os originais sabem que essa perfeição é uma falsidade. Tais coisas, no entanto, nada têm que ver com as mensagens apresentadas, e não devem deixar um crente sem dormir à noite, com excessiva ansiedade. Algumas vezes a harmonia é defendida em detrimento da honestidade.


Com cerca de sessenta e dois anos. Talvez esteja em vista Gobrias, e a idade fosse dele. Alguns dizem que a idade de Daniel é que está em foco, mas na época ele tinha entre 80 e 90 anos de idade. A Septuaginta simplesmente deixa essas palavras fora do texto sagrado. Xenofonte (Cyropaedia, viii. 5,19) atribui essa idade a Ciaxares II, tio de Ciro.

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