Estudo sobre Gálatas 2:10
Estudo sobre Gálatas 2:10
A comunhão novamente selada é completada por um entendimento aditivo. Somente que nos lembrássemos (assistencialmente) dos pobres. Sem qualquer explicação adicional Paulo podia falar dos “pobres”. Os gálatas, assim como também os romanos que viviam mais longe (Rm 15.26), sabiam que com essa palavra se fazia referência aos cristãos da igreja originária. Provavelmente era a autodesignação deles à luz de Is 61.1,2, que era pronunciada com respeito por todas as igrejas. A pobreza social é sublimada espiritualmente. Os necessitados sabem que estão especialmente próximos da salvação, pois “aos pobres” são prometidos evangelho e bem-aventuranças (Mt 5.3; Lc 6.20; 7.22).
A forma gramatical no tempo presente indica uma instituição permanente. Contudo seria um descaminho pensar por causa disso num direito de tributação por parte dos de Jerusalém, reconhecido por Paulo. O NT não tem conhecimento algum de que toda igreja cristã que surgisse em qualquer lugar teria o dever de realizar ofertas em favor da igreja original. Além disso essa leitura contradiria a tendência do relato, segundo o qual se estava fundamentando justamente uma comunhão de iguais. De acordo com o fluxo das ideias, os de Jerusalém apenas acrescentaram um pedido cordial por auxílio, não impuseram uma condição. Com prazer Paulo prometeu essa ajuda. De acordo com Rm 15.26,27, 1Co 16.3; 2Co 8.3,8,24; 9.5 essas coletas possuem a característica da gratidão, da graça, da voluntariedade, da demonstração de amor e da dádiva por bênção. Elas constituem a livre doação do hóspede, a qual os gentios, que têm o privilégio de se sentirem em casa em Israel, trazem consigo. Inversamente: Aceitando o presente, a igreja original aceita a Paulo e sua obra.
Finalizando, Paulo assevera o seu próprio zelo por essa causa. O que também me esforcei por fazer. Nesse caso não pode falar por Barnabé, pois entrementes se haviam separado. Porém no que envolve a sua própria pessoa ele pode dizer que também esse acordo adicional continuou sendo um propósito do coração. De acordo com 1Co 16.1-4 os gálatas podiam confirmá-lo. Ainda mais: Ao participarem na oferta, eles próprios passaram para essa comunhão. Eles não deveriam permitir que os judaístas entremetessem uma cunha.
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Quanto ao caminho posterior dos judaístas. Calvino disse em termos drásticos que o concílio dos apóstolos teria sido suficiente para que os cães parassem de latir, mas não para amordaçá-los. O próximo passo deverá confirmá-lo (Gl 2.12). Pelo que se evidencia, essas forças começaram uma missão oposta com toda a intensidade. Em todas as cartas principais de Paulo e em Fp e Cl encontram-se vestígios dessa ação, o que comprova de maneira impressionante o alcance desses esforços. Ainda no início do século ii Inácio teve de dar continuidade a essa luta de Paulo contra o “judaísmo” (Epístola de Inácio a Magnésia 8.1; 10.3; Epístola de Inácio a Filadélfia 6.1). Até mesmo em Jerusalém esse partido se fortaleceu, ainda mais após o martírio do conciliador Tiago (cf. o exposto sobre o v. 9). Apesar disso, no contexto da guerra judaico-romana, rompeu-se totalmente também o relacionamento até certo ponto harmonioso desse grupo com os judeus. A fuga de Jerusalém ainda antes da destruição da cidade no ano 70, bem como a transferência para Pela no território da Transjordânia foram debitadas à igreja como traição ao patriotismo judaico. Desde então ela ficou definitivamente excluída da sinagoga, apesar de sua fidelidade à lei. Por volta do final do século, os judeus até incluíram em sua oração diária uma maldição contra todos os irmãos que passaram para o cristianismo (Schrage, ThWNT vii, pág 848.4).
Presume-se que de Pela se formaram novas igrejas judaico-cristãs na Palestina e na Síria. Eles continuaram a chamar-se “os pobres” (hbr: ebionitas). Talvez também recebessem adesão de essênios (Bammel, ThWNT vi, pág 912.18ss). Contudo, o seu isolamento para todos os lados, tanto do cristianismo gentílico quanto da sinagoga, fez com que cada vez mais se tornassem vítimas de correntes religiosas da moda. Em seu acervo literário é visíveI como, perdendo em substância cristã, passam a dominar elementos gnósticos. Os ebionitas reverenciavam Jesus primordialmente como profeta, às custas de sua condição de Filho de Deus. Suas aparições como Ressuscitado, sobre as quais Paulo fundamentava seu cargo apostólico, sofreram desvalorização (Friedrich, ThWNT vi, pág 860.1ss; Cullmann, ThWNT vi, pág 104.10ss). Seus escritos perfazem, p. ex., o evangelho dos Hebreus, o evangelho do Nazareno, as cartas pseudoclementinas e o evangelho de Tomé. Ao que parece, essas igrejas mantiveram-se até o século vii na Transjordânia, na Síria e no Egito, sendo finalmente absorvidas pelo islamismo (quanto ao todo, cf. Kümmel, RGG iii, pág 967; Hengel, Geschichtsschreibung, pág 101-102; Albertz ii, pág 287ss; F. F. Bruce, Zeitgeschichte, ii, pág 197-198).
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