Estudo sobre Gálatas 2:13-14
Estudo sobre Gálatas 2:13-14
De forma trágica torna-se eficaz, então, a autoridade do apóstolo original. Com o seu passo ele causou uma sucção: E também os demais judeus (cristãos) dissimularam com ele. Foi especialmente escandaloso que até um representante destacado da missão gentílica livre da lei, e parceiro do acordo de Gl 2.9, não soubesse demonstrar força para resistir: a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação (hipocrisia) deles. Sente-se a decepção. Notemos bem: hipocrisia é agir contra um entendimento melhor. Pedro e Barnabé não tinham mudado suas convicções. Continuavam defendendo, como Paulo, o lado da total liberdade em relação aos alimentos. É exatamente isso que torna esse conflito tão extremamente doloroso. Em todo caso eles não são para Paulo “irmãos falsos” como os de Gl 2.4. Disso resulta para ele também uma reação diferente. Ele não profere um anátema contra eles como em Gl 1.8,9, mas fala com eles por meio de argumentos.
Antes de relatar aos gálatas a medida que tomou, Paulo antecipa como ele classificava teologicamente a atitude deles: Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho. Eles não haviam decaído do evangelho, mas certamente da sua “verdade” (cf. a exposição sobre o v. 5). É preciso dar ouvidos à forma singular: verdade, não verdades. Paulo não está pensando em acertos dogmáticos, como são enumerados por uma confissão de fé, mas na mesma verdade original, que está em perigo em todas as verdades isoladas, e sem a qual elas no fundo se tornam insignificantes: no glorioso senhorio de Jesus Cristo, e por isso também na gloriosa liberdade dos que creem. Eles haviam vacilado justamente na confiança nessa essencial força de verdade do evangelho. Eles derramaram novamente a impressionante novidade da mensagem em odres velhos, que tinham de romper-se (Mc 2.22). Isto é, eles derramaram o evangelho no vazio. Pedro e Barnabé, apartados, estavam agora sentados sobre um evangelho vazio e sem consequências.
Segue-se a introdução do discurso: disse a Cefas, na presença de todos. Por um lado evidencia-se o grande apreço que Paulo demonstra a Pedro, mesmo nessa situação. Apesar de ver todos vacilarem, ele interpela somente o apóstolo dos primeiros tempos. Por outro lado ele está demonstrando a primazia incondicional do evangelho na igreja, também diante do líder dos apóstolos. Até contra um anjo do céu e contra si próprio ele teria recorrido a esse evangelho (Gl 1.8). Todos devem ficar sabendo o que vigora na igreja de Jesus Cristo, devem ouvi-lo, quer judaico, quer gentílico-cristãos. Também os emissários de Jerusalém tinham o direito de não ser enganados, que informassem tudo a Tiago. Contudo na igreja governa a “verdade do evangelho”.
Segue-se o discurso diante da assembleia da igreja. Para reproduzir um discurso mais longo, de qualquer modo somente era possível, na Antiguidade, por razões da técnica de escrita, apresentar um extrato (cf. At 2.40: “Com muitas outras palavras”). Mas esses versículos até o v. 21 ainda dão a impressão de serem tão impulsivas que com certeza estamos bem perto dos acontecimentos. As formulações mais importantes com as quais Paulo cortou o nó górdio naquela ocasião haviam ficado gravadas em sua memória.
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Na forma de pergunta ele expõe a Pedro a contradição em que este se envolveu: se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus (a judaizar)? Com essa pergunta, primeiramente se tirou a máscara de Pedro diante dos homens de Tiago. Eles tomam conhecimento de que Pedro há muito tinha participado de plena e total comunhão de mesa com os irmãos gentílicos, e qual era a posição íntima dele. Os gentílico-cristãos o sabiam de qualquer modo. Mas ao contrário do que ele havia ensinado e vivido diante deles até então, e do que eles haviam aceito como libertação, Pedro agora os constrangia (paralelamente a Gl 2.3!), por sua atitude, a adotarem com singular seriedade ritos judaicos. O fato de que o apóstolo original passava para a mesa dos judeus tinha de produzir em todos uma pressão na consciência. Na prática ele constrangia filhos libertos de Deus a expor seus pescoços e permitir que se lhes impusesse o “jugo da lei” (At 15.10). Com isso ele dava a entender: O que Cristo fez por vocês e em vocês foi “em vão” (v. 21), pois continua existindo o muro altíssimo entre nós judeus e vocês gentios (contra Gl 3.28!). Dessa maneira Pedro debilitava a verdade do evangelho. O fundamento sob os pés passava a tremer, pois a longo prazo é insuportável que uma igreja cristã se divida em dois grupos incapazes de tomar refeições em conjunto.
Até aqui a acusação. A partir do v. 15 começa a luta de Paulo para firmar novamente Pedro no evangelho. Para isso ele abandona a interpelação com o “tu” e muda para o solidário “nós”, mas atenção: nós judaico-cristãos! Os gentílico-cristãos em Antioquia e agora na Galácia tornam-se, por instantes, espectadores de uma luta fascinante de como seus irmãos de origem judaica, dos quais haviam recebido o evangelho, tinham de se acertar eles próprios com esse evangelho.
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Gálatas 2:13-14