Comentário de João 10:15-16
10:15 - Pois assim como o Pai me conhece,… Essas palavras, com o que se segue, estão em conexão com João 10:14; e o sentido é que o conhecimento mútuo de Cristo e suas ovelhas, é como o conhecimento que ele e seu Pai têm um do outro. O Pai conhece o seu próprio filho, e o ama como tal, da maneira mais afetuosa e forte; e tem confiado a ele com as pessoas, graça e glória de todo o seu povo:
Assim conheço eu o Pai;… Ou, antes, “e eu conheço o Pai”; como ele deve conhece, visto que ele está no seio dele,[1] e ainda está, e conhece a sua natureza, perfeições, propósitos e sua inteira mente e vontade; e o ama mais ardentemente, que ele tem mostrado por sua disposição de descer dos céus para fazer a vontade Dele; e confia nele para o cumprimento de todas as coisas prometidas a ele:
E dou a minha vida pelas ovelhas;… O que mostra que ele é o bom pastor, João 10:11. A versão da Vulgata Latina lê: “por minhas ovelhas”; que eram suas, como presente de seu Pai, e por nenhum outro tem dado ele a sua vida. A versão Etíope, como antes, verte o versículo explicando-o: “Eu entrego minha vida pela redenção de minhas ovelhas”.
10:16 - E outras ovelhas eu tenho,… Não distinto dessas para quem ele entregou a sua vida, mas desses que estavam debaixo da dispensação do Antigo Testamento, e que não ouviram os ladrões e salteadores que vieram antes de Cristo, João 10:8; outras além das ovelhas perdidas da casa de Israel, ou os eleitos entre os judeus, a quem foi enviado o Cristo; e por quem é significado os escolhidos de Deus entre os Gentios que eram ovelhas, embora ainda não chamadas, pelas razões dadas: Veja notas de Gill em João 10:3. Estas, embora não chamadas, pertenciam a Cristo; ele tinha um interesse nelas, elas eram determinadas a ele pelo seu Pai; ele as teve em suas mãos, e no seu coração; os seus olhos estavam nelas, e elas estavam debaixo da notificação dele, inspeção, e cuidado:
Que não são desse aprisco,… Da nação Judaica e igreja, sendo estranhos da comunidade de Israel, e estranhos aos pactos da promessa;[2] eram como ovelhas desgarradas, e estavam espalhadas em muitas partes do mundo;[3] e deviam ser remidos de todos os povos, línguas e nação:
A esses também tenho de trazer;… Para fora do deserto do mundo, de entre os homens do mundo, das suas anteriores compaixões pecadoras, dos apriscos de pecado e de Satanás, e os pastos da própria retidão deles; para ele, e na presença do seu Pai, para a sua casa e ordenações, para um aprisco bom e pastos verdes, e no final para o reino divino dele e glória: e havia uma necessidade de fazer tudo isso, em parte por causa da vontade de seu Pai e prazer, os propósitos dele e decretos que tinham sido estabelecidos nisto; e em parte por causa dos próprios compromissos dele que lhe tinha obrigado a fazer isto para ele; como também por causa do caso e condição destas ovelhas que, caso contrário, teriam se perecido eternamente:
E eles ouvirão a minha voz;… Do Evangelho, não só externa, mas interiormente; que é devido à graça poderosa e eficaz dele que os vivifica e os faz ouvir e viver; destampa os seus ouvidos surdos, e lhes dá ouvidos para ouvir; e abre os corações deles, para prestar atenção à Sua palavra, e lhes dá uma compreensão dela. A versão Árabe lê isso com relação à cláusula precedendo, assim, "e eu também os tenho que trazer para ouvir a minha voz"; como também o resto das ovelhas entre os judeus, e então o Evangelho foi enviado entre eles:
E serão um só rebanho, [e] um só pastor;... Um estado de igreja, consistindo ambos de Judeus e Gentios; o muro que os separava tendo sido demolido,[4] estes dois fundem em um, se tornam um homem novo, e associado ao mesmo corpo; pois, embora possam haver várias igrejas do Evangelho visíveis, contudo há apenas um tipo de estado de igreja, e uma assembléia geral e igreja do primogênito, uma família para a qual todos eles pertencem; por estas razões uma igreja é comparável a um rebanho; veja Gill sobre João 10:1. E sobre esta porta, ou rebanho, existe apenas um pastor, Jesus Cristo, que é o legítimo titular, e cujas ovelhas são dele mesmo, e ele sabe a forma de alimentá-las, e de cuidar delas, embora existam muitos pastores, que ele emprega na alimentação delas, no texto original, o copulativo "e" está faltando, e as palavras dizem apenas: "uma rebanho, um pastor", que não só exprime uma peculiar elegância, mas corresponde ao provérbio entregue na mesma forma, e para que concordam as versões Etíope e Árabe, que vertem assim: “e lá", ou "eles são um rebanho de um pastor", ou um rebanho que pertence a um só pastor; ver Eze. 34:23.
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Notas
[1] Cf. João 1:18. N do T.
[2] Cf. Efésios 2:12. N do T.
[3] Cf. João 11:52. N do T.
[4] Cf. Efésios 2:14, 15. N do T.