Interpretação de Jeremias 2

Jeremias 2

Jeremias 2 continua a mensagem profética de Jeremias ao povo de Judá e de Jerusalém, concentrando-se na sua infidelidade espiritual e nas consequências das suas ações.

O capítulo começa com uma metáfora na qual Deus relembra os primeiros dias do relacionamento de Israel com Ele, comparando-o a um casamento e à época de suas peregrinações no deserto. Deus expressa Seu desapontamento porque Seu povo O abandonou e se voltou para a idolatria, apesar de tudo que Ele fez por eles.

Jeremias 2 prossegue descrevendo a infidelidade e rebelião de Israel. O povo abandonou o verdadeiro Deus e se voltou para os ídolos, buscando ajuda e segurança de nações estrangeiras e de seus falsos deuses. Esta infidelidade espiritual é comparada ao abandono do marido por uma mulher.

O capítulo também destaca a futilidade da adoração de ídolos, bem como a ingratidão do povo por esquecer todas as bênçãos que Deus havia concedido. O povo é acusado de trocar a glória de Deus por ídolos inúteis.

Jeremias 2 termina com o anúncio de julgamento de Deus contra o povo pelos seus pecados. Deus chama os céus e a terra como testemunhas do fato de que Israel O abandonou. O capítulo serve como uma repreensão severa e um chamado ao arrependimento.

No geral, Jeremias 2 transmite uma mensagem da infidelidade, da idolatria de Israel e das consequências iminentes das suas ações. O capítulo enfatiza o tema do adultério espiritual, comparando o relacionamento de Israel com Deus a uma aliança matrimonial quebrada. Ressalta o princípio de que afastar-se dos caminhos de Deus leva à destruição e exige arrependimento e retorno ao Senhor.

Interpretação

2:2 Afeição. Hesed contém a ideia de “amor” e “fidelidade”. A E.R.C. traduz para beneficência. O relacionamento de Deus com Israel tem sido muitas vezes comparado pelos profetas com o do marido com a sua esposa (Is. 54:4; Os. 2:2-20; Ez. 16). Aqui os primeiros dias de Israel são comparados com os de uma lua-de-mel. Israel deixara o Egito e seguira o seu marido a uma terra estranha (Êx. 19:4). Jeremias não pretende negar as frequentes apostasias dos primeiros dias, mas ele enfatiza aqui a determinação digna de louvor da nação de seguir o seu Deus no deserto. Deserto está definido como terra em que se não semeia. O midbar do Oriente Médio não é uma terra completamente desolada, mas é uma terra não cultivada pela qual os beduínos perambulam à procura de pasto para os seus rebanhos (cons. Joel 2: 22; Sl. 65:12, 13). Aqui a viagem dos hebreus através do deserto do Egito para Canaã é o que se pretende dizer.

2:3. Consagrado. Santo (cons. Êx. 19:5, 6). Primícias. As primícias da colheita eram separadas por serem sagradas (Êx. 23:19; Lv. 23:9-21); assim também Israel, as primícias de Deus entre as nações, era sagrado, As primícias eram oferecidas a Deus e não podiam ser comidas pelos israelitas leigos. Do mesmo modo aqui, aqueles que devoraram Israel serão considerados culpados... se faziam culpados (cons. Gn. 12:3). A história comprovou a verdade desta declaração.

2:4. Jacó... Israel. Toda a nação hebreia é o que se tem em vista. Os profetas frequentemente ignoravam a divisão do reino e o exílio das tribos do norte e se dirigiam a “toda a família que fiz subir da terra do Egito” (Amós 3:1).

2:5. Nulidade... se tornando nulos. O substantivo e o verbo vieram da mesma raiz hebraica, que significa basicamente “vapor”, “hálito” e daí, “inutilidade” ou “inútil”. É frequentemente usado (como aqui) como sinônimo de idolatria (cons. 10:15; 16:19; e muitos outros).

2:7. Uma terra fértil. Um jardim, cultivado e fértil, em contraste com o deserto pelo qual tinham acabado de viajar.

2:8. Os sacerdotes não disseram... A deserção do povo era causada por seus líderes. Lei. Provavelmente lei no sentido mais amplo de “instrução na vontade de Deus”. Não me conheceram. A falta de conhecimento de Deus é um tema frequente dos profetas (cons. Os. 4:6), o que se quis dizer é que os sacerdotes deliberadamente rejeitaram a Deus “em cujo conhecimento está nossa vida eterna” (cons. Jr. 31:34). Os pastores. O hebraico ro'eh tem o significado fundamental de “pastor” e aqui deveria ser traduzido para governadores. Baal. O deus cananita da tempestade e da fertilidade. Causas de nenhum proveito. Esta expressão (igual à nulidade, v. 5) geralmente se usa em relação à idolatria, conforme aqui (cons. v. 11).

2:9. Pleitearei. A ideia sugerida por esta palavra é a de instauração de processo contra uma pessoa em um tribunal.

2:10. Terra do mar e não ilhas. Ou terras costeiras, ou regiões. Chipre, ou talvez as terras litorâneas do Mediterrâneo em geral. Quedar. Provavelmente no deserto da Arábia na direção oposta à de Chipre (cons. Gn. 25:13). O significado é: “Esquadrinhai o leste e o oeste”.

2:11. Sua Glória. Deus era a glória de Israel (Sl. 106:20).

2:13 Um contraste vivo entre a água fresca de uma fonte perene e a de urna cisterna (cuja água era salobra na melhor das hipóteses) agora completamente vazia por causa de um terremoto.

2:14-19 Enquanto a nação se aproximam do colapso, duas opiniões políticas se desenvolviam na corte. Alguns aconselhavam um pacto com a Babilônia – aqui indicada com “beber as águas do Eufrates”, e outros insistiam em um tratado como Egito – “beber as águas do Nilo” (v. 18). Jeremias descreve a destruição que adulta à nação nas recentes guerras na Palestina. Nada além de escravidão e ruína seria o resultado em qualquer um dos rumos; seria melhor se o povo se voltasse para Deus.

2:14 Servo nascido em casa. Os escravos eram de dois tipos: os adquiridos por compra e os nascidos na casado senhor e portanto sua propriedade permanente (Ex. 21:24).

2:15. Da terra dele fizeram uma desolação. O reino do norte já se encontrava nesse estado por causa da apostasia do seu povo.

2:16 Ao mesmo tempo, os exércitos do Egito tinham começado a devastar as terras de Judá. Mênfis, uma importante cidade egípcia perto da moderna Cairo (44:1). Tafnes. A moderna Teel Defenneh, sobre a margem oriental do Delta, dominando a estrada para a Palestina (cons. 43:7-9; 44:1).

2:18 Nilo, simbolizando o Egito (Is. 23:2). Eufrates, simbolizando a Assíria (cons. Os. 7:11; 12:1).
2:20. A RSV deve ser a preferida: “Há muito tempo quebraste o teu jugo e rompeste as tuas cadeias; e disseste: ‘Não servirei’. Sim, sobre cada colina elevada e sob cada árvore verde tu te inclinaste como uma prostituta.” A infidelidade de Israel ao seu senhor e marido é com frequência intitulada prostituição. A figura foi traduzida com mais robustez por causa da prostituição cultual frequentemente praticada no culto a Baal, provavelmente aludida aqui (cons. Ez. 16; Os. 1-3). Outeiro alto... árvore frondosa. Cons. 3:6 observação.

2:21 A viticultura era uma das ocupações principais dos antigos hebreus. Considerando que o plantio e os cuidados devidos às videiras implicavam em dificuldades e perigos, e as colheitas eram incertas, e que o produto era valioso e desejado, a vinha é com frequência usada como ilustração de pregação profética. Israel foi comparada a uma videira, Deus ao viticultor (Is. 5:1-7; Sl. 80: 8; Os. 10:1; cons. Jo. 15:1-8). Vide brava. Uma videira estranha.

2:22 Continua a mácula da tua iniquidade perante mim. Em outras palavras, “ainda que aparentes justiça exteriormente, isto não oculta de mim tua iniquidade oculta, a qual não pode ser purificada por meios físicos”. Salitre é lixívia, um mineral alcalino extraído dos lagos de sódio no Egito, e misturado com óleo para a lavagem de roupa.

2:23-25 Jeremias compara o seu povo com as criaturas selvagens no cio. Seu desejo é tão grande que qualquer parceiro que as deseje pode tê-las sem se afadigar. Aqui a fêmea persegue o macho. Baalim (v. 23), Baal (cons. 2:8, observação). Dromedária nova de ligeiros pés... zigue-zagueando pelo caminho. Uma jovem camela impaciente cruzando suas próprias trilhas. No ardor do cio, sorve o vento. Quem a impediria de satisfazer o seu desejo? No mês dela. Isto é, no seu período de cio.

2:25. Guarda... os teus pés. “Não continues perseguindo e ansiando pela idolatria”, diz Deus. Mas Israel replica: “continuarei seguindo os deuses estrangeiros”.

2:26-28 Em um futuro período de dificuldades, o Senhor adverte, os tão procurados deuses de Judá não serão capazes de salvá-la. Pau... pedra (v. 27). Provavelmente referências aos objetos de culto tão largamente disseminados, 'asherâ e massebâ. O 'asherâ (pau) deveria ser um poste colocado e adorado nos lugares altos dos cananeus. Era símbolo de Aserá, a deusa da fertilidade. O massebâ (pedra) era usado em ligação com o culto a Baal (Dt. 12:3). Tantos como as tuas cidades (v. 28). Os Baús eram geralmente identificados com lugares. Havia um Baal de Ecrom (II Reis 1:1-16). Assim cada cidade tinha uma divindade local (cons. Jr. 11:13).

2:29 Por que contendeis comigo? “Por que vocês se queixam dizendo que eu os tenho abandonado em sua crise, uma vez que vocês têm se rebelado contra mim?”

2:31 Somos livres! e não somos senhores. Isto é, vagamos à vontade, sem restrições.

2:33 Como dispões bem os teus caminhos, para buscares o amor! pois até às mulheres pendidas os ensinaste, e não Porque enfeitaste os teus caminhos!

2:34, 35 Uma condenação da opressão iníqua aos pobres. Cons. Amós 2:6-8; 4:1; 5:10-12.

2:34 Pobres e inocentes e não pobre inocente. A última metade do versículo poderia ser relacionado com o versículo 35 assim: ''Tu não os encontraste assaltando casas (o que teria justificado um ato de homicídio; Êx. 22:2). Contudo, apesar disso, tu dizes: Estou inocente”.

2:35 Entrarei em juízo contigo, isto é, eu te julgarei.

2:36, 37 Aqui o Senhor condena os planos desesperados do partido pró-Egito. Veja observação sobre 2:14-19. Também daquele (do Egito) sairás de mãos na cabeça (vazias), batendo a cabeça com as mãos com dor e desalento (cons. II Sm. 13:19). Em quem confiaste.

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