Estudo sobre Hebreus 1:5
Estudo sobre Hebreus 1:5
No v. 4 o apóstolo falou da superioridade do Filho de Deus sobre os anjos, a qual distingue a Jesus Cristo. Ele alicerça essa afirmação sobre o testemunho dos escritos do AT. Aqui ele já vê prefigurado aquilo que ele, como emissário do evangelho, tem de anunciar. No presente bloco ele arrola uma série de textos do AT em três rodadas de argumentação, a fim de sedimentar sua afirmação teológica sobre o Filho de Deus. Em Hb 1.5,6 ele fala duas vezes do Filho, uma vez de anjos. As citações de Hb 1.7-12 dirigem-se uma vez aos anjos e duas vezes ao Filho. Em Hb 1.13,14 ele traz como encerramento uma palavra dirigida ao Filho, da qual ele deduz uma conclusão final em relação aos anjos. Enquanto em Hb 1.5,6 o apóstolo destaca as características da dignidade – o Filho é o Primogênito, os anjos são entes que o adoram – em Hb 1.7-12 ele enfatiza as insígnias de serviço: os anjos são servos de Deus (cf. v. 14), o Filho é o Rei e Criador do mundo, ele o criou e também o governa. As passagens do AT são referidas diretamente a Cristo. Jesus é o Filho (v. 5), ele é Deus (v. 8), e ele é o Senhor (v. 10); ele serve como Profeta (v. 2), como Sacerdote (v. 3) e como Rei (v. 8,9). Nisso é que ele é superior aos anjos.
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O apóstolo justifica de modo indireto sua declaração referente à superioridade do Filho sobre todos os emissários celestiais de Deus. Ele levanta a pergunta: Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? O ouvinte ou leitor deve dar a resposta pessoalmente. Na promessa do AT Deus declarou como Filho somente um único, o Cristo e Rei messiânico vindouro – “Tu és meu Filho!” Na continuação da palavra do Salmo: “Hoje eu te gerei”, o “hoje” não vale somente para a exaltação de Jesus quando lhe foi confiada a soberania mundial. A instituição do Cristo como Filho de Deus é um acontecimento antes dos tempos, assim como a vocação para que seja herdeiro, mas ela se torna manifesta com a ressurreição e ascensão (Hb 1.5 remete a Hb 1.365). Jamais abarcaremos a relação pré-terrena de Jesus, o Filho de Deus, com Deus, o Pai, com o nosso entendimento, nem poderemos ilustrá-la por meio de nossas concepções. Toda a especulação a esse respeito é vedada. Todas as tentativas inteligentes no decurso da história da igreja para penetrar racionalmente e formular esse mistério acabaram num caminho falso, sobretudo nas controvérsias trinitárias dos séculos iii e iv. O próprio Deus estabeleceu nesse ponto uma barreira que não devemos ultrapassar. Contudo, o maravilhoso mistério da eterna intimidade entre Deus, o Pai, e Jesus Cristo, o Filho, é um reconhecimento irrenunciável da fé da igreja por intermédio do Espírito Santo. Esse reconhecimento deve ser repetidamente testemunhado e deve levar os fiéis à adoração reverente.
A palavra do Sl 2.7 é combinada diretamente com uma citação de 2Sm 7.14, que é interpretada da mesma maneira. Originalmente ela se refere a Davi e sua descendência: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho. Também anjos podem ser chamados de “filhos de Deus” no AT66. Contudo nem os anjos nem Salomão enquanto descendente de Davi trazem a designação “Filho” no sentido pleno da palavra, pois eles são todos entes criados pela mão de Deus. É somente a Jesus Cristo que compete esse nome. Ele é o Filho desde a eternidade. Anjos ou pessoas que no AT recebem o nome de filhos, portanto, já apontam para além de si ao tempo messiânico vindouro. Também no presente texto reencontramos a revelação precursora de Deus na antiga aliança, a qual alcançou seu encerramento e cumprimento apenas pela encarnação de Jesus.
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Hebreus 1:5
Notas:
65 O NT conhece o “hoje” também como expressão do tempo de salvação, o tempo da igreja, na qual é anunciada a todas as pessoas a boa notícia para a salvação eterna. Lc 2.11; 4.21; 2Co 6.2; Hb 3.7; 4.7.
66 No AT encontramos a versão “filhos de Deus” em Gn 6.2; Jó 1.6; 2.1; 38.7; Sl 29.1; 89.7; Dn 3.25. Em Jó 1.6; 2.1 e 38.7 a lxx verte para “anjo de Deus”, no mais também usa “filhos de Deus”.