Estudo sobre Hebreus 1:14

Estudo sobre Hebreus 1:14



Mais uma vez é retomada a ideia do v. 7, bem como a caracterização dos anjos como espíritos de serviço, em contraposição à posição do Filho como Senhor: Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação? Essa constatação não atinge os anjos que apostataram de Deus. Trata-se dos entes celestiais subordinados a Deus para um serviço obediente. Mesmo que a Bíblia revele diferenças nas incumbências e formas de manifestação dos anjos, assim como uma hierarquia dos anjos, todos eles, no entanto, têm em comum três características:

Seu serviço se realiza continuamente na presença de Deus (Mt 18.10), e se equipara ao serviço sacerdotal de gratidão, louvor e adoração (Is 6.2,3; Ap 5.11,12; 8.3,4). Por isto, o apóstolo está utilizando, para descrever melhor o serviço dos anjos, a expressão grega leiturgiká pneúmata. Na respectiva forma verbal a locução sempre assinala em Hb o serviço cultual-sacerdotal80.

Além disso todos os anjos estão subordinados a Cristo. Ele é o Senhor que os envia e determina o seu serviço (cf. Ap 1.1).

Finalmente, o apóstolo está comunicando um fato significativo, que é de máxima importância para os fiéis na tribulação, na aflição e no perigo: todos os anjos são enviados por Cristo para servirem aos fiéis, aos membros de sua igreja. Uma vez que entramos na comunhão com o Senhor ressuscitado Jesus Cristo, que nos tornamos “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rm 8.17) e que, assim, somos chamados a “herdar a salvação”, também temos o privilégio de contar em todos os momentos com a proteção e preservação por parte dos anjos de Deus enquanto andarmos nos caminhos de Deus.


Mt 18.10 e Hb 1.14 nos evidenciam que cada criança e cada adulto que pertence à igreja de Jesus Cristo possui seus anjos. Jesus Cristo, Filho, Deus e Senhor, não somente realizou uma obra perfeita na criação e redenção, mas ele também sabe conduzir a igreja dos redimidos com segurança até o alvo, mediante o acompanhamento dos anjos.

Os v. 5,14 emolduram a argumentação desse bloco e permitem reconhecer o tema que move o autor de Hb: Jesus Cristo, a palavra de Deus tornada ser humano, culminância de toda revelação de Deus, é superior a todos os poderes e entes celestiais. O apóstolo tem ciência, a partir do testemunho do AT, da importância dos emissários transcendentais de Deus: eles são servos de Deus, que adoram e glorificam a Deus no mundo eterno (v. 6,14) e que ao mesmo tempo acompanham em formas variáveis (v. 7) o caminho do povo migrante de Deus na terra. Agora, porém, é mais importante para ele que o AT também já confirma a posição incomparável de Cristo. Para ele, é nisso que se revelam ao mesmo tempo a magnitude e o limite do at. A palavra escrita de Deus da antiga aliança (Sl 2; Sl 45; Sl 102; Sl 110) é capaz de falar, na perspectiva do autor, de Cristo como Filho de Deus (v. 5), como Deus (v. 8) e como Senhor (v. 10). Foi ele que no princípio criou o céu e a terra (v. 10). Ele permanecerá o mesmo quando a criação passar no final da história (v. 11,12). Ele será Rei, Sacerdote e Profeta, o qual por sua morte sacrificial vicária cumprirá todas as promessas de Deus e instalará seu reinado perpétuo (v. 8,9). Tudo isso, porém, no contexto da antiga aliança, permanece profecia, sendo comunicado somente de forma velada. Agora, porém, Cristo veio ao mundo, e nele se cumpriram as maravilhosas promessas de Deus. O Filho de Deus na verdade é maior que todos os mediadores da revelação divina, maior que todos os seres no mundo visível e invisível. Essa certeza, que o Espírito Santo decodifica para o apóstolo na palavra do AT, confere-lhe a consciência de uma proteção absoluta. No serviço que ele precisa prestar à igreja, por isso, sua preocupação é a seguinte: o olhar da fé deve ser dirigido ao eterno Filho de Deus – em meio a tribulações, aflição e perseguição. O conhecimento da magnitude e majestade insuperáveis de Cristo, o Senhor da igreja, ao qual estão subordinados todos os poderes terrenos e transcendentais, deve ajudar os fiéis a viverem das inesgotáveis fontes do poder de Deus e a trilharem confiantemente o caminho do discipulado, apesar de todas as hostilidades de fora e todas as tribulações de dentro.