Estudo sobre Hebreus 1:6

Estudo sobre Hebreus 1:6


No AT o Primogênito tinha a supremacia entre seus irmãos. Ele era o filho amado, a ele competia a dupla parte da herança (Dt 21.17). Ele governava na família, os irmãos mais novos eram sujeitos a ele. Também Jesus Cristo, como o Primogênito (Lc 2.7), é o Filho amado (Mc 1.11). É assim que o próprio Senhor afirma na parábola da vinha: “Restava-lhe ainda um, seu filho amado; a este lhes enviou, por fim” (Mc 12.6). Cristo é aquele que é amado incomparavelmente por Deus, ao qual foi entregue o governo do mundo. Por isso ele não é apenas o “Rei de Israel” (Jo 1.49), mas a ele estarão sujeitos todos os reis e governantes da terra (Ap 19.16). Ao lado desse Primogênito, o Filho de Deus, o Pai coloca a “igreja dos primogênitos” (Hb 12.23), pessoas que receberam o “espírito de adoção” (Rm 8.15), uma multidão de irmãos que no seu ser foram feitos iguais, entre os quais Cristo é o Primogênito (Rm 8.29). O Primogênito é o amado e eleito, que foi chamado à soberania. Da mesma forma, a igreja dos primogênitos, a igreja de Jesus, é uma multidão de amados e eleitos, que será participante da soberania do Filho (Ap 20.6; 22.5). O Primogênito detém o ministério celestial de Rei e Sacerdote. De forma análoga também os membros da igreja dos primogênitos foram feitos por Deus reis e sacerdotes (Ap 1.5,6; 5.10). A unidade do Primogênito com a igreja dos primogênitos expressa-se de modo perfeito no fato de que a unidade de reinado e sacerdócio, profetizada no AT (Zc 6.13) é cumprida em Cristo e alcança o encerramento na comunidade aperfeiçoada e glorificada (cf. também a conexão de Sl 110.1,4).


E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo. Essa nova introdução do Filho no mundo é uma ação de Deus67. Quando Jesus Cristo nasceu em Belém, o Filho de Deus veio da eternidade ao nosso mundo terreno, a fim de viver conosco, seres humanos, e morrer em nosso favor. Depois de sua ressurreição ele retornou ao mundo celestial, a fim de receber ali a veneração dos poderes angelicais (Ap 4,5). Quando Jesus Cristo retornar com glória, acontecerá a “reintrodução” em nosso mundo visível68. Na concepção do apóstolo, a homenagem na sua entronização necessariamente faz parte da exaltação de Cristo como soberano universal. O uso terreno torna-se réplica do celestial. Aquilo que – oculto aos nossos olhos – já acontece no mundo celestial será manifesto para todos na volta de Jesus: todos os anjos de Deus o adorem. Agora acontece a revelação e apresentação do Filho de Deus perante os anjos e a igreja glorificada, os “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23), porém na volta de Jesus acontecerá perante o cosmos inteiro.



Notas
65 O NT conhece o “hoje” também como expressão do tempo de salvação, o tempo da igreja, na qual é anunciada a todas as pessoas a boa notícia para a salvação eterna. Lc 2.11; 4.21; 2Co 6.2; Hb 3.7; 4.7.

66 No AT encontramos a versão “filhos de Deus” em Gn 6.2; Jó 1.6; 2.1; 38.7; Sl 29.1; 89.7; Dn 3.25. Em Jó 1.6; 2.1 e 38.7 a lxx verte para “anjo de Deus”, no mais também usa “filhos de Deus”.

67 O termo grego oikuméne, que aqui está sendo traduzido por “mundo”, significa originalmente o mundo habitado, o orbe terrestre, e serve em Lc 2.1 para descrever o Império Romano mundial. No entanto, também pode ser expressão do mundo inteiro, a humanidade e as esferas dos espíritos. No presente contexto provavelmente não devemos limitá-lo apenas ao mundo visível. A própria escolha da citação sugere que se pense no mundo das pessoas e no dos anjos. É nesse sentido que o uso do termo também aponta em Hb 2.5. Cf W-B, 5ª ed. 1958, col. 1111; Ki-ThW, vol. v, pág 159ss.

68 Vários exegetas, entre os quais Calvino, traduzem: “E, novamente, onde ele introduz o Primogênito no mundo, ele diz: …”, pensando no louvor entoado pelos anjos por ocasião da encarnação de Jesus. Cf Strack/Zöckler, Kurzgefasster Kommentar, Hebreus comentado por R. Kübel, 2ª ed. 1898, pág 93.