Números 16 — Análise Bíblica
Análise Bíblica de Números 16
Números 16
Nm 16:1 -50
A rebelião dos levitas
O raio tênue de esperança concedido por Deus ao povo
pela instituição de novas leis para aquela que continuava sendo sua
comunidade da aliança depois de uma rebelião devastadora (caps. 13—14) não
tarda em ser obscurecido por mais uma rebelião. Desta vez, o movimento é
liderado por alguns levitas. Seus atos exemplificam o pecado deliberado ao
qual 15:30 se refere e indicam um possível significado para
as palavras “tal pessoa será eliminada do meio do seu povo”.
Arão e Miriã haviam contestado o papel especial de
Moisés como profeta de Deus (cap. 12). Desta vez, outros se opõem à função de
Moisés e Arão como sacerdotes. Corá, o líder da rebelião, era um levita
que provavelmente servia na tenda da congregação. Como descendente de
Coate, era responsável pelos objetos mais sagrados (16:1a; cf. Nm 3:30-31).
No entanto, não se contentou com essa responsabilidade, pois sua ambição era
ser sacerdote.
Para alcançar esse objetivo, Corá incitou alguns dos
rubenitas, mais especificamente Data, Abirão e Om (16:16),
aos quais se juntaram cerca de duzentos e cinquenta líderes do povo de Israel,
formando uma frente de oposição a Moisés (16:2) e alegando que ele e Arão
haviam se colocado acima da congregação do Senhor. De acordo com
os rebeldes, toda a congregação era santa (16:3) — uma
meia-verdade. De fato, Israel havia sido chamado anteriormente de nação
santa (Êx 19:3-6), mas Moisés e alguns outros indivíduos haviam sido
separados do restante dos israelitas para exercer uma função santa. A ambição
de Corá o levou a se apegar a essa meia-verdade, questionando
a legitimidade dos papéis de Arão e Moisés e, indiretamente, a
autoridade do Deus que os havia nomeado para os seus cargos. Nos dias de
hoje, aqueles que defendem meias-verdades agressivamente também podem causar
grandes estragos nas comunidades dos cristãos.
Mais uma vez, como em Nm 14:5, Moisés caiu
sobre o seu rosto para expressar vergonha e arrependimento diante
desse ato de rebelião, assim como submissão a Deus (16:4). Em seguida,
pediu uma prova a fim de determinar quem Deus havia escolhido para o
sacerdócio. No dia seguinte, Arão e todos os participantes da rebelião
deveríam oferecer incenso. Nessa ocasião, o Senhor mostraria claramente
os indivíduos que ele havia separado para ministrar na
função sacerdotal (16:5-7a).
No entanto, Moisés advertiu Corá: Basta-vos,
filhos de Levi (16:7b). Deus já dera aos levitas uma função
especial, e estavam errados em murmurar contra Arão, que, nesse caso,
representa todo o sacerdócio (16:8-11).
Moisés também convocou os rubenitas Datã e Abirão,
filhos de Eliabe, que haviam tomado partido de Corá na rebelião (16:12). Os
dois recusaram apresentar-se e afirmaram que Moisés havia conduzido o povo para
fora de uma terra que mana leite mel (como se o Egito, a
terra de escravidão e sofrimento, fosse a terra da promessa!) e não havia
cumprido sua promessa de conduzi-los a uma terra que mana leite e mel.
Acusaram Moisés de cobiçar poder e querer se impor como príncipe
sobre eles (16:13-14a). Além disso, também o acusaram: Pensas que lançarás
pó aos olhos destes homens? (16:146), como se Moisés estivesse
tentando cegá-los para o que estava acontecendo.
Moisés se irou com essas acusações falsas, mas, em
vez de se voltar contra seus acusadores, pediu a Deus que o defendesse.
Moisés podia dizer a Deus com toda a sinceridade: Nem um só jumento levei
deles e a nenhum deles fiz mal (16:15). A capacidade de se voltar para
Deus em busca de justificação e servir ao povo fielmente são qualidades
da boa liderança. As asserções de Moisés também levantam
a questão de quantos líderes africanos, tanto na igreja quanto no governo,
teriam a coragem de declarar diante de Deus que nunca roubaram nem fizeram
mal a ninguém. Tendo em vista a corrupção generalizada em nosso
continente, é provável que poucos pudessem fazer tal declaração.
Em seguida, Moisés repetiu a ordem para que Corá e
todos os rebeldes se apresentassem diante do Senhor no dia seguinte (16:16).
Moisés e Arão ofereceriam incenso a Deus, que mostraria quais homens
deveriam ser aceitos como sacerdotes do Senhor na tenda da congregação
(16:17-18).
A rebelião sempre é castigada, e esse caso não é
exceção. No dia seguinte, quando o grupo se reuniu na tenda da congregação,
Deus estava tão irado que ameaçou novamente destruir toda a comunidade (16:21).
A oração de Moisés e Arão em favor do povo reunido no acampamento de
Corá mostra, mais uma vez, suas qualidades de liderança autêntica (16:22).
Moisés transmitiu, então, a advertência de Deus, dizendo ao restante da
comunidade que se afastasse das tendas dos pecadores a fim de que o
castigo de Deus não recaísse sobre todos (16:23-27). Então, declarou
que Deus revelaria se as acusações dos rebeldes contra Moisés e Arão
eram justificadas ou não (16:28-30).
Deus executou seu julgamento de forma dramática, e Corá,
Datã, Abirão e suas famílias foram tragados pela terra que se abriu debaixo dos
seus pés (16:31-34). O destino dessas famílias nos lembra que o pecado de
uma pessoa pode afetar não somente ela própria, mas também os inocentes.
Quando, por exemplo, o meio ambiente é poluído ou destruído, tanto os
transgressores quanto os inocentes sofrem. Semelhantemente, pessoas com vícios
como o alcoolismo podem arruinar sua família e deixá-la na miséria.
0 pecado de uma pessoa pode resultar, ainda, na transmissão do HIV a
cônjuges e filhos inocentes.
Os duzentos e cinquenta homens rebeldes que
ofereceram incenso foram atingidos por um raio do Senhor (16:35). No entanto,
isso criou outro problema, pois seus incensários haviam sido usados para o
serviço do Senhor, tomando-se sagrados (16:36-37), de modo que não podiam
simplesmente ser devolvidos às famílias. Assim, Deus instruiu Moisés a
derreter os incensários e batê-los para formar lâminas a serem usadas como
cobertura do altar, servindo de memorial pela insensatez dos
rebeldes e confirmação de que somente os sacerdotes da família
de Arão podiam queimar incenso naquele local (16:38-40).
Em vez de aprender com esse castigo divino, a
comunidade toda se levantou contra Moisés e o acusou de ser responsável pela
morte dos rebeldes (16:41). Quando o povo se ajuntou em oposição a Moisés, a
nuvem cobriu a tenda da congregação, mostrando a glória de Deus (16:42).
O Senhor ordenou que Moisés e Arão se afastassem do povo, pois ele
estava prestes a castigá-lo por esse novo ato de rebelião (16:43-45). Mais
uma vez, Moisés e Arão se prostraram diante do Senhor em oração.
Deus enviou uma praga como julgamento, e, ao
perceberem que era necessário detê-la, Moisés e Arão tomaram um incensário e
fizeram expiação pelo povo (16:46). Em geral, a expiação era feita por
meio de um sacrifício, mas, tendo em vista a urgência da situação, não
havia tempo para preparar uma oferta pelo pecado. O incenso oferecido por
Arão teria de representar essa oferta.
A posição de Arão em
pé entre os mortos e os vivos mostra nitidamente o papel do
sacerdote como um mediador (16:47-48). Seu ato evitou que ocorressem
mais mortes no meio do povo; mas, antes que a praga fosse detida, morreram
14.700 pessoas (16:49-50).Mais: Números 1 Números 2 Números 3 Números 4 Números 5 Números 6 Números 7 Números 8 Números 9 Números 10 Números 11 Números 12 Números 13 Números 14 Números 15 Números 16 Números 17 Números 18 Números 19 Números 20 Números 21 Números 22 Números 23 Números 24 Números 25 Números 26 Números 27 Números 28 Números 29 Números 30 Números 31 Números 32 Números 33 Números 34 Números 35 Números 36