Romanos 12 — Comentário Evangélico

Romanos 12 — Comentário Evangélico

Romanos 12 — Comentário Evangélico






Romanos 12 

Esse capítulo inicia a seção final de Romanos — “Serviço” (12—16). Nesse capítulo, Paulo ensina-nos como pôr em prática o aprendizado, apresenta quatro imagens do cristão e lembra-nos de nossas obrigações espirituais.

I. Um sacrifício no altar (12:1-2)
O verdadeiro viver e serviço cristãos iniciam-se com a dedicação pesso­al ao Senhor. O cristão que fracassa na vida é aquele que primeiro o fez no altar ao recusar entregar-se total­mente a Cristo. O rei Saul fracassou no altar (1Sm 13:8ss e 15:1 Oss), e isso custou-lhe o trono.
Paulo não diz: “Eu lhe ordeno”, mas: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus”, pois a dedi­cação deve ser motivada pelo amor. Não servimos a Cristo a fim de re­ceber suas misericórdias, pois já as temos (3:21—8:39). Servimos a ele por amor e por gratidão.
A verdadeira dedicação é ofe­recer, diariamente, nosso corpo, nossa mente e nossa vontade a Deus. É a entrega diária do corpo a ele, com a mente renovada pela Pa­lavra, e a vontade quebrantada por meio da oração e da obediência. O cristão é um “conformador”, viven­do para o mundo e como ele; ou um “transformador”, tornando-se a cada dia mais parecido com Cristo. (A palavra grega para “transformar” é a mesma usada para “transfigurar” em Mt17:2.) Segunda aos Coríntios 3:18, afirma que somos trans­formados (transfigurados) quando permitimos que o Espírito revele Cristo por meio da Palavra de Deus.
O crente pode saber a vontade do Senhor para sua vida só quando for consagrado ao Senhor dessa forma. r Deus não tem três vontades para o crente (boa, aceitável e perfeita), como a classificação utilizada nas pesquisas de mercado (“bom, muito bom, ótimo”). Antes, crescemos em nossa capacidade de reconhecer a vontade de Deus. Alguns cristãos obedecem a Deus, porque sabem que isso é bom para eles e temem ser disciplinados. Outros o fazem porque acham a vontade do Senhor aceitável. Todavia, a devoção mais profunda é daqueles que amam a vontade dele e a acham perfeita.
Nós, como sacerdotes, deve­mos oferecer “sacrifícios espirituais” a Deus (1 Pe 2:5), e o primeiro sacri­fício diário que ele quer é que entre­guemos total mente a ele nosso cor­po, nossa mente e nossa vontade.

II. Membro do corpo (12:3-8)
Em 1 Coríntios12 é apresentada a mesma verdade desses versícu­los, ou seja, que o Espírito batiza o crente no corpo e lhe dá um dom (ou dons) para usar em benefício de toda a igreja. Desde o Pentecostes até o arrebatamento da igreja, há um “corpo universal” constituído de todos os crentes; porém, também há um corpo local por meio do qual o crente ministra em nome do Senhor. No Novo Testamento, a maioria das 112 referências à igreja diz respeito à congregação local de crentes.
No corpo local, o serviço co­meça com a dedicação pessoal (vv. 1-2) e, a seguir, com a ava­liação honesta dos dons espiritu­ais do crente (v. 3). Paulo diz que devemos pensar em nós mesmos dentro dos limites que permitem nossos dons espirituais, e não que não pensemos em nós mesmos de forma alguma. Deus revelará o chamado de um homem para ser pastor à medida que este usar seus dons na congregação. Todos os nossos dons, embora distintos uns dos outros, vêm do Espírito e devem ser usados para a glória de Cristo. Da mesma forma que somos salvos “pela graça [...] mediante a fé” (Ef 2:8-9), devemos exercer nossos dons espirituais “segundo a medida da fé” (v. 3) e “segundo a graça que nos foi dada” (v. 6).
Paulo enumera sete ministérios: (1) profecia, definido em 1 Corín- tios 14:3; (2) ministério, cujo senti­do literal é “diaconato” (serviço) e pode referir-se a esse cargo; (3) ensi­no, conforme 2 Timóteo 2:1-2, uma responsabilidade importante; (4) exortação, que quer dizer encora­jar as pessoas a servir ao Senhor e a ser fiéis a ele; (5) contribuição, que deve ser feita em singeleza de cora­ção e pureza de motivos (veja At 5); (6) administração, gerenciamento e administração da igreja local; (7) misericórdia, compartilhar com os necessitados.
Efésios 4:7-12 descreve as pes­soas dotadas que Cristo deu à igreja; Romanos 12 e 1 Coríntios12 des­crevem os dons com que o Espíri­to dotou os crentes do corpo local. É perigoso tentar servir ao Senhor sem receber nenhum dom para isso, como também recusar-se a usar um dom para a glória dele (2Tm 1:6). Em Atos 19:1-7, os doze homens não conheciam o Espírito e seus dons; em Atos 19:13-16, os sete ho­mens tentaram imitar dons que não tinham.

III. Membro da família (12:9-13)
Os versículos 9-13 mostram como cada cristão deve se comportar na família de Deus, embora cada um tenha seu serviço espiritual a de­sempenhar. O amor deve ser ho­nesto e sem hipocrisia (veja 1 Jo 3:18). Devemos detestar o mal e apegar-nos ao bem (veja SI 97:10). O amor leva à cordialidade e à humildade, à fidelidade nos negó­cios, ao fervor nas coisas espiritu­ais (aqui “fervorosos” significa “ar­dorosos, irradiantes em poder”). Observe como as características mencionadas nessa seção fazem paralelo com o fruto do Espírito descrito em Gálatas 5:22-23.
Na igreja local, os cristãos de­vem cuidar uns dos outros e com­partilhar uns com os outros. Obser­ve como à oração (v. 12) segue-se o cuidado (v. 13). Em grego, o sentido literal de “praticar a hospitalidade” é “procurar a hospitalidade” — bus­car as pessoas! Em 1 Pedro 4:9, so­mos aconselhados a não reclamar quando abrimos a casa para os ou­tros. Provérbios 23:6-8 retrata a hos­pitalidade não espiritual. Veja tam­bém Lucas 14:12-14, 1 Timóteo 3:2 e 5:10, Hebreus 13:2 e 3 João 5-8.

IV. Soldado em batalha (12:14-21)
Paulo instrui como agir quando as batalhas e as bênçãos que os cris­tãos têm se opõem à Palavra. De­vemos abençoá-las (Mt 5:10-12), não amaldiçoá-las. Obviamente, nenhum crente deveria enfrentar problemas em consequência de viver da forma errada (1 Pe 2:11-24. O egoísmo e o orgulho geram a vontade perniciosa, por isso de­vemos ser solidários (v. 15) e hu­mildes (v. 16). O cristão não deve, nem nesta vida nem no julgamento futuro, “vingar-se” de seus oponen­tes, mas, antes, esperar que Deus “retribua” (v. 1 9).
A frase “Esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens” (v. 17) sugere que o cristão vive em uma “casa de vidro” e deve estar atento ao escrutínio dos outros. À luz de Romanos 14:7-8, a atitude de “viver a própria vida” é pecami­nosa para o crente. As pessoas nos vigiam, e, dentro do possível, de­vemos viver em paz com todas as pessoas. É claro que não podemos fazer concessão ao pecado nem ter uma atitude do tipo “paz a qualquer preço”. Mateus 5:38-48 descreve a atitude e o espírito que nos ajudam a ser “pacificadores” (Mt 5:9).
Nos versículos 19-21, Paulo refere-se a Provérbios 25:21-22 e a Deuteronômio 32:35. (Veja também Hb 10:30.) Essa passagem apresenta o princípio de que o crente entrega- se a Deus (12:1-2), e, assim, o Se­nhor deve cuidar dele e ajudá-lo em suas batalhas. Precisamos de sabedoria espiritual (Tg 1:5) ao lidar com os inimigos da cruz a fim de que, por um lado, não demos um mau testemunho e, de outro, não desvalorizemos o evangelho. Em três ocasiões, Paulo usou a lei roma­na para proteger a si mesmo e ao testemunho do evangelho (veja At 16:35-40; 22:24-29; 25:10-12); to­davia, estava disposto a tornar-se to­das as coisas para todos os homens a fim de ganhar alguns para Cristo. Se praticarmos Romanos 12:1-2 to­dos os dias, podemos estar certos de que o Senhor nos guiará em obedi­ência ao resto do que está exposto nesse capítulo.