Romanos 9 — Comentário Evangélico

Romanos 9

Os três capítulos seguintes abordam a história espiritual de Israel: passada (cap. 9), presente (cap. 10) e futura (cap. 11). O objetivo de Paulo é ex­plicar por que Deus pôs de lado seu povo escolhido e como, em alguma data futura, restaurará essa nação.

I. Descrição da eleição de Israel (9:1-13)

 A. A bênção da eleição (vv. 1-5)

Não podemos deixar de admirar a preocupação de Paulo com Israel. Suas palavras lembram-nos Moisés, em Êxodo 32:31-32. Temos esse tipo de preocupação pelas almas perdi­das? Cristo nos amou tanto que se fez maldição por nós.

(1) A adoção — Deus, por causa de seu amor, escolheu seu povo (veja Is 43:20-21).
(2) A glória — a presença de Deus no tabernáculo (Êx 24:16-1 7).
(3) As alianças — Deus, por in­termédio de Moisés e de Davi, deu alianças imutáveis a seu povo, Israel.
(4) A doação da Lei — Deus nunca lidou com os gentios dessa forma. Israel ouviu a voz do Senhor e recebeu dele as leis que deveriam reger a vida da nação.
(5) O serviço de Deus — no tabernáculo, o serviço sacerdotal era um privilégio concedido pelo Senhor.
(6) As promessas — cumpri­ram-se muitas promessas do Antigo Testamento, e ainda há muitas de­las, feitas para os judeus, a serem cumpridas.
(7) Os pais — Abraão, Isaque, Jacó e os doze filhos de Jacó são a fundação da nação.
(8) O Messias — Cristo era judeu, da tribo de Judá, e nasceu de acordo com a Lei. No versículo 5, Paulo chama Cristo de “Deus bendito para todo o sempre”.
Nenhuma outra nação recebeu essas bênçãos magníficas, porém Israel tomou-as como certas e, no fim, rejeitou a justiça de Deus. Os cristãos de hoje também pertencem aos eleitos de Deus e usufruem de bênçãos semelhantes: adoção (Ef 1:5); glória (Ef 1:6-7); a nova aliança no sangue de Cristo (Hb 9—10); a lei escrita no coração (2 Co 3; Hb 10:16-17); serviço sacerdotal por intermédio de Cristo (1 Pe 1:4); e Abraão como pai dos crentes (Gl 3:7) — tudo porque temos Cristo.

B. O fundamento para a eleição (vv. 6-13)
Por escolha, Deus exerce sua von­tade soberana para realizar seu plano perfeito. Lembre-se que Romanos 9; 10; 11 fala de eleição nacional, não individual. Perderemos totalmente a mensagem se tentarmos aplicar as verdades desses capítulos à salvação ou à segurança do crente individual. Na verdade, Paulo tem o cuidado de mencionar que se refere ao povo judeu e ao gentio, não a pecadores individuais.

(1) Abraão — foi escolhido para ser o pai da nação hebraica, embora Paulo afirme que nem todo israeli­ta seja mesmo filho de Israel. (Veja também Rm 2:25-29.) Abraão teve muitos filhos (Gn 25:1-6), mas apenas um filho escolhido, Isaque, o filho da promessa obtida pela fé.

(2) Isaque — ele era o filho da promessa de fé (veja Gl 4:21-31), e Ismael era filho da carne por meio de obras. Todos os crentes são a verdadeira “semente de Abraão”, não apenas os que têm sangue judeu.

(3) Jacó — Deus escolheu Jacó, mesmo antes de nascer, em detri­mento de Esaú, o primogênito. Por quê? Para mostrar que se cumpriría o propósito de Deus de eleger sua nação. Esaú escolheu rebelar- se contra o Senhor, mas os propó­sitos de Deus não dependem das decisões do homem. Sabemos que tanto a escolha do homem como o propósito de Deus são verdades e ensinados na Palavra, mas não podemos explicar a relação que há entre eles.

II. A defesa da eleição de Israel (9:14-33)

A doutrina da eleição nacional de Israel levanta diversas questões teo­lógicas cruciais:

A. Deus é injusto? (vv. 14-18)
E claro que não! Pois a eleição não diz respeito à justiça, mas, antes, à graça gratuita. Muitas vezes, pessoas ignorantes afirmam: “Deus é in­justo se escolhe um e deixa outro!”. Contudo, o propósito do Senhor vai além da justiça, pois, se fizesse apenas o que é justo, teria de con­denar todos nós! Paulo, ao usar os exemplos de Moisés (Êx 33:19) e do faraó (Êx 9:16), comprova que Deus pode dispensar sua misericórdia e sua graça como quiser. Ninguém merece a misericórdia de Deus ou pode condená-lo por escolher Israel e deixar de lado as outras nações.

B. Por que Deus se queixa se ninguém pode resistir à sua vontade? (vv. 19-29)
Paulo responde com uma parábola sobre o oleiro, provavelmente em­prestada de Jeremias 18:1-6. Deus é o oleiro, e as nações do mundo (com seus governantes), os vasos. Alguns são de ira, e Deus suporta- os com longanimidade até chegar o momento de destruí-los (Gn 15:16). Os outros são vasos de misericórdia que revelam a glória do Senhor. A seguir, Paulo cita Oséias 2:23 e 1:10 a fim de mostrar que Deus prome­teu chamar um “povo” dentre os gentios, um povo para ser chama­do de “filhos do Deus vivo”. Esse povo é a igreja (veja 1 Pe 2:9-10). Ele, ao citar Isaías 10:22-23 (veja Is1:9), mostra que há também um re­manescente de judeus que será sal­vo. Em outras palavras, na eleição, o propósito do Senhor possibilitou que judeus e gentios sejam salvos pela graça. Judeus e gentios são sal­vos apenas pela graça de Deus.

C. O que podemos dizer a respeito dos gentios? (vv. 30-33)
Eis o paradoxo da história: os ju­deus tentaram ser justos e foram rejeitados, e os gentios foram re­cebidos, apesar de não terem os privilégios dos judeus! A razão disso é que os judeus buscaram a justiça pelas obras, e os gentios a receberam pela fé por intermé­dio da graça de Deus. Os judeus tropeçaram no Messias crucifica­do (veja Is 8:14; 28:1 6; Mt 21:42; 1Co 1:23 e 1 Pe 2:6-8). Eles não podiam crer em um Cristo cruci­ficado, pois queriam um Messias que trouxesse liberdade política e glória para a nação.

Nesse capítulo, Paulo tenta ex­plicar a posição de Israel no plano de Deus. Israel fracassou terrivel­mente em seguir o projeto do Se­nhor de abençoar o mundo, apesar de ser uma nação eleita e ter rece­bido privilégios que nenhuma outra recebeu. O capítulo todo exalta a graça soberana de Deus, mas não minimiza a responsabilidade de ho­mens e de mulheres de tomarem a decisão certa. A palavra do Senhor prevalecerá, apesar da desobediên­cia humana, mas os pecadores de­sobedientes perderão as bênçãos. Nenhuma mente humana consegue sondar ou explicar a sabedoria de Deus (veja Rm 11:33-36), mas sabemos que não há salvação sem a graça so­berana do Senhor.

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