Romanos 15 — Comentário Evangélico
Romanos 15 — Comentário Evangélico
Romanos 15
I.
Agrado a mim
mesmo ou aos outros? (15:1-7)
Esses versículos se
encaixam melhor no esboço do capítulo 14. Os mais fortes devem suportar as
debilidades dos cristãos imaturos e, ao fazer isso,
edificá-los na fé. Devemos seguir o exemplo de Cristo e tentar agradar aos
outros, não a nós mesmos (SI 69:9). Esse versículo do Antigo Testamento
aplica-se ao cristão do Novo Testamento? Claro que sim, pois aprendemos com o
Antigo Testamento, e as promessas de Deus nos transmitem paciência
(perseverança), consolo e esperança. Haverá concordância entre todos os
crentes se ajudarmos os outros a crescerem no Senhor. No versículo 7, Paulo
apresenta sua conclusão final: acolhamos uns aos outros, como Cristo nos
acolheu. Isso trará glória a Deus.
A igreja local tem o direito de estabelecer padrões, contanto que não
ultrapasse os limites do que ensina a Palavra. Com amor, devemos permitir
diferenças entre os cristãos, em vez de usá-las como motivo de divisão. Esse capítulo diz respeito aos judeus e aos gentios
na igreja e revela três ministérios que temos de reconhecer e de compreender.
O estudioso da Bíblia, se
não reconhecer os dois ministérios de Cristo, primeiro para os judeus e,
depois, para os gentios, não discerne da forma correta a Palavra da verdade.
Quando Cristo nasceu, anunciou-se sua vinda para a nação judaica, e
relacionou-se essa vinda às promessas do Antigo Testamento. O versículo 8 é
claro ao afirmar que Cristo primeiro ministrou aos judeus a fim de confirmar
as promessas e as alianças do Antigo Testamento. Veja Lucas 1:30-33,46-55,67-80.
Esses judeus, cheios do Espírito, sabiam que Cristo viera para libertá-los dos
gentios e para estabelecer o reino prometido.
Contudo, o que aconteceu? Em três ocasiões, o povo de Israel rejeitou seu
Rei: (1) permitiu que Herodes matasse o mensageiro do Rei, João Batista; (2)
pediu que Cristo fosse morto; e (3) ele mesmo matou Estêvão. Os evangelhos e
Atos afirmam que se propagou o evangelho “primeiro [para o] judeu”. O reino
seria instituído, e as bênçãos fluiriam para os gentios por intermédio da
nação de Israel convertida, se a nação tivesse recebido a Cristo. Em Romanos
9—11, Paulo já mostrou que, por causa da queda de Israel (não de sua ascensão
em glória), agora o evangelho da graça de Deus alcançou os gentios. Os
versículos 9-11 apresentam um padrão progressivo: os gentios ouvem a Palavra
(SI 18:49), alegram-se com os judeus (Dt 32:43), todos os gentios louvam a Deus
(SI 11 7:1), e crêem em Cristo e desfrutam o reino dele (Is 11:10). Esses
versículos praticamente resumem a história espiritual de Israel: versículo 9
(veja Atos 10-14), os judeus testemunham aos gentios; versículo 10 (veja Atos
15-28), judeus e gentios compartilham testemunho na igreja; versículo 11 (Atos
28), por fim Israel é posto de lado, e os gentios ganham o lugar de destaque
no projeto de Deus (como Paulo descreve em suas cartas aos Efésios e aos
Colossenses); e versículo 12, o reino futuro compartilhado pelos gentios.
O tema do louvor gentio é Cristo. O versículo 12 afirma: “Nele os
gentios esperarão”, ao falar do dia vindouro em que o Rei governará. A seguir,
na oração do versículo 13, Paulo volta ao tema da “esperança”. Não precisamos
esperar para ter alegria, paz e esperança; o Espírito nos dá essas bênçãos
hoje.
Paulo está ansioso para
enfatizar que é o apóstolo dos gentios. O estudo bíblico fica confuso se não
percebermos o lugar especial do ministério de Paulo no projeto de Deus. No
versículo 16, Paulo se retrata como um ministro do Novo Testamento que oferece
os gentios a Deus como seu sacrifício de louvor. Cada alma que ganhamos para
Cristo é uma oferta de sacrifício para a glória dele.
O ministério especial dele envolvia uma mensagem especial (o evangelho
da graça de Deus; v. 16), milagres especiais (vv. 18-19) e uma metodologia
especial (v. 20; ir aos lugares em que Cristo não pregara). Paulo foi um
pioneiro e não misturou, como fazem alguns professores de hoje, Lei e graça,
fé e obras, ou Israel e a igreja. Sabemos que os judeus pediram um sinal (1 Co
1:22), mas Deus também deu milagres aos gentios (por exemplo, em Éfeso — veja
At 19:11-12). Portanto, o fato de que, a partir de Atos 7 (a rejeição final de
Israel), haja registro de milagres não quer dizer que Deus ainda lida com a
nação de Israel.
Paulo foi impedido de ira
Roma por causa das exigências do ministério nos muitos lugares em que o
evangelho ainda não fora pregado, e não por Satanás. Agora, ele estava pronto
para sua visita a Roma, pois já cobrira toda a extensão de terra possível. A
disposição de Paulo de pregar em Roma indica que nenhum outro apóstolo estivera
nessa cidade (por exemplo, Pedro), pois tinha a política de ir a regiões ainda
não alcançadas pelo evangelho.
A Bíblia não relata se
Paulo concretizou sua vontade de ir à Espanha. A tradição diz que ele realizou
essa vontade. De qualquer maneira, na época em que escreveu essa carta, ele
estava ocupado com a tarefa de levar auxílio, das igrejas gentias que fundou,
para os judeus pobres da Palestina, afetados pela fome. Para mais detalhes a
respeito disso, veja 1 Coríntios 1 6 e 2 Coríntios 8—9.
Paulo apresenta vários motivos para esse auxílio:
(1) Obrigação espiritual (v. 27). Os gentios deviam devolver, em parte, com bens materiais,
todas as bênçãos espirituais que receberam por intermédio dos judeus. Os cristãos
de hoje devem ter em mente que os gentios estão em débito com os judeus.
(2) Amor pessoal (v. 29). Paulo tinha uma grande preocupação com os judeus e poderia expressar
seu amor por eles com a oferta.
(3) União cristã (v. 31). Alguns crentes judeus (lembre-se de Atos 15) não estavam satisfeitos
com a entrada dos gentios no rebanho. Essa oferta ajudaria a amenizar a ruptura
que alguns judeus causaram ao dizer que os gentios tinham de se tornar judeus
antes de ser cristãos.
Essa passagem levanta a questão da responsabilidade que os cristãos
gentios de hoje têm em relação aos judeus. Com certeza, o plano “primeiro do
judeu” (1:16), válido para a época dos evangelhos e de Atos 1—7, não se aplica
hoje. A Grande Comissão, a graça do Senhor que nos escolheu e nos enxertou na
oliveira (Rm 11:20ss) e a lógica clara de Romanos 10:11- 17 determinam nossa
obrigação para com os judeus. Não há diferença entre judeus e gentios no que
diz respeito à condenação, como também não há em relação à salvação. No
entanto, Israel ainda é o povo escolhido de Deus, essa nação ainda é amada por
causa dos patriarcas (Rm 11:28), embora tenha sido posta de lado e cegada
temporariamente. Nenhum cristão deveria ser culpado de sentimentos ou de
práticas anti-semitas. Melhor, temos de tentar testemunhar a eles e ganhá-los
para Cristo. Israel, como nação, ainda está cego, mas o judeu individual, à
medida que o Espírito abra-lhe os olhos, pode encontrar a Cristo.
No versículo 31, veja que Paulo prevê problemas com os judeus descrentes,
e teve-os! Reveja Atos 21:15ss e observe como os judeus não-salvos trataram
Paulo.
Esse capítulo enfatiza, mais uma vez, a importância da distinção entre
o judeu, o gentio e a igreja (1 Co 10:32). Na verdade, as últimas palavras de
Paulo na carta aos Romanos (16:25-27) tratam do grande mistério da igreja que
o apóstolo deveria revelar por meio de sua mensagem. Que possamos não fracassar
como mordomos, ou administradores, dos mistérios do Senhor!
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