Explicação de Juízes 6

Em Juízes 6, o foco muda para a história de Gideão, um juiz levantado por Deus para libertar Israel da opressão dos midianitas. O capítulo começa descrevendo a desobediência dos israelitas, que os leva à opressão pelos midianitas e outros povos vizinhos. Os israelitas são empobrecidos e forçados a se esconder em fortalezas nas montanhas para escapar dos ataques midianitas.

Deus chama Gideão, um membro da tribo de Manassés, enquanto ele debulha trigo em um lagar para escondê-lo dos midianitas. Um anjo aparece a Gideão e se dirige a ele como um "poderoso guerreiro", apesar de suas dúvidas e preocupações. Gideão questiona o anjo e pede um sinal, que Deus fornece consumindo uma oferta com fogo. Gideão é então instruído a derrubar o altar de seu pai ao falso deus Baal e cortar o poste de Asherah, símbolos da idolatria.

As ações de Gideão provocam a ira dos habitantes de sua cidade, mas seu pai o defende. Gideão reúne um exército para lutar contra os midianitas, mas pede outro sinal de Deus usando um velo. Deus concede o pedido de Gideão, demonstrando Sua paciência e disposição para confirmar Sua orientação. Juízes 6 apresenta Gideão como um líder relutante, mas obediente, escolhido por Deus para trazer libertação a Israel. O capítulo destaca o tema do poder de Deus operando por meio da fraqueza humana e a importância da fé e da obediência na execução dos planos de Deus.

Explicação

6:1–6 No ciclo seguinte, os israelitas foram oprimidos pelos midianitas. Eram bandos de beduínos saqueadores que realizavam incursões nas plantações de Israel, devastando a terra como gafanhotos e roubando o gado. A apostasia de Israel resultou em pobreza, escravidão e medo. Aqueles que Israel havia conquistado eram agora seus mestres. Quando nos afastamos do Senhor como cristãos, velhos hábitos também nos escravizam e empobrecem.

6:7–16 Quando Israel clamou ao Senhor por ajuda, um profeta foi enviado pela primeira vez para lembrá-los de sua idolatria. Então o Anjo do Senhor, que acreditamos ser o Cristo pré-encarnado (veja o ensaio abaixo), apareceu a um homem de Manassés chamado Gideão enquanto debulhava trigo secretamente em um lagar para escondê-lo dos midianitas. O anjo disse a este “homem valoroso” que Deus o usaria para libertar Israel de Midiã. Apesar dos protestos de Gideão, o Anjo repetiu seu chamado para esta importante tarefa.
O ANJO DO SENHOR
O Anjo do Senhor (Jeová) é o Senhor Jesus Cristo em uma aparência pré-encarnada. Um estudo das passagens em que Ele é mencionado torna claro que Ele é Deus e que Ele é a Segunda Pessoa da Trindade.

Primeiro, as Escrituras mostram que Ele é Deus. Quando Ele apareceu a Hagar, ela reconheceu que estava na presença de Deus; ela se referiu a Ele como “o Deus-que-vê” (Gn 16:13). Falando a Abraão no Monte Moriá, o Anjo se identificou como “o SENHOR” (Heb. YHWH, ou Jeová; Gn 22:16). Jacó ouviu o Anjo se apresentar como o Deus de Betel (Gn 31:11–13). Ao abençoar José, Israel usou os nomes “Deus” e “o Anjo” de forma intercambiável (Gn 48:15, 16). Na sarça ardente, foi o “Anjo do SENHOR” que apareceu (Êxodo 3:2), mas Moisés “escondeu o rosto, porque teve medo de olhar para Deus” (Êxodo 3:6). O Senhor que ia adiante de Israel numa coluna de nuvem (Êxodo 13:21) não era outro senão “o Anjo de Deus” (Êxodo 14:19). Gideão temia morrer porque, ao ver o Anjo do SENHOR, ele tinha visto a Deus (Jz 6:22, 23). O Anjo do SENHOR disse a Manoá que Seu nome era Maravilhoso (Jz 13:18), um dos nomes de Deus (Is 9:6). Quando Jacó lutou com o Anjo, ele lutou com Deus (Oséias 12:3, 4). Estas são provas convincentes de que quando o Anjo do SENHOR é mencionado no AT, a referência é à divindade.

John F. Walvoord (como citado por Chafer) dá quatro argumentos para apoiar isso:

“(a) A Segunda Pessoa é o Deus Visível do Novo Testamento. (b) O Anjo de Jeová do Antigo Testamento Não Mais Aparece depois da Encarnação de Cristo. (c) Tanto o Anjo de Jeová como Cristo São Enviados pelo Pai. (d) O Anjo de Jeová não poderia ser nem o Pai nem o Espírito Santo.”4 Quanto à quarta evidência, Walvoord prossegue explicando que o Pai e o Espírito são invisíveis ao homem e ambos têm o atributo da imaterialidade. Ele conclui: “Não há uma única razão válida para negar que o Anjo de Jeová é a Segunda Pessoa, todos os fatos conhecidos apontando para Sua identificação como o Cristo do Novo Testamento”.

Como o Anjo de Jeová, Cristo se distingue dos outros anjos por ser incriado. As palavras traduzidas por Anjo5 em ambos os Testamentos significam “mensageiro”; Ele é o Mensageiro de Jeová. Assim, como diz Chafer, Ele é um “anjo” apenas por ofício. (Chafer, Theology, I:328.)
6:17–24 Sentindo que estava falando com o Senhor, Gideão pediu um sinal. Então ele preparou uma oferta de um cabrito e de pães ázimos. Quando o anjo tocou a oferta com seu cajado e ela foi consumida pelo fogo, Gideão soube que estava na presença do Senhor e temeu que morresse. Mas o SENHOR o assegurou com as palavras “Paz seja com você”, e Gideão construiu um altar e deu ao lugar o nome de Jeová-Shalom (O-Senhor-É-Paz).

6:25–32 Naquela noite, em obediência ao Senhor, Gideão destruiu um altar que seu pai havia erguido para Baal e a imagem de madeira ao lado dele e, em vez disso, ergueu outro altar para Jeová. Pela manhã os homens da cidade estavam prontos para matá-lo por este ato ousado. Mas seu pai, Joás, interveio, dizendo que se Baal fosse realmente um deus, ele deveria ser capaz de se defender. Joás decretou que qualquer um que defendesse a causa de Baal seria executado. Gideão foi apelidado de Jerubaal, que significa “Deixe Baal pleitear (por si mesmo)”.

Algumas pessoas podem culpar Gideão por derrubar o altar à noite por causa do medo. Mas não devemos perder de vista o fato de que ele obedeceu ao Senhor. Seu medo não o impediu de ser obediente. Todos nós temos medo, e o medo em si não é necessariamente errado. Mas quando nos impede de obedecer ao Senhor, torna-se um obstáculo à fé e é pecado.

6:33–35 Nessa época, os midianitas, os amalequitas e o povo do Oriente se reuniram para guerrear contra Israel ao cruzarem o Jordão e acamparem no vale de Jezreel. O Espírito do Senhor veio sobre Gideão, e ele reuniu um exército das tribos de Manassés, Aser, Zebulom e Naftali. Abiezer (v. 34) foi um ancestral de Gideão. Seu nome é usado aqui (texto hebraico) como um nome de família (os abiezritas, NKJV) para seus descendentes vivos. Veja também 8:2.

6:36–40 Antes de ir para a batalha, Gideão desejou uma promessa de vitória de Deus. A primeira promessa veio quando o orvalho caiu em seu velo de lã, mas não no chão ao seu redor. A segunda veio na noite seguinte, quando o orvalho caiu no chão, mas não no velo.

A lã de Gideão é muitas vezes mal compreendida pelos cristãos. Há duas coisas sobre esse incidente que devemos ter em mente: Gideão não estava olhando para o velo em busca de orientação, mas de confirmação. Deus já havia lhe dito o que ele deveria fazer. Gideão estava apenas buscando garantia de sucesso. As pessoas que falam sobre estender a lã para descobrir a vontade do Senhor em determinado assunto estão aplicando mal a passagem. Em segundo lugar, Gideão pediu um sinal sobrenatural, não natural. Naturalmente falando, o que Gideão pediu nunca teria acontecido sem a intervenção direta de Deus. Hoje as pessoas usam as coisas como um “velo de lã” que poderia acontecer naturalmente, sem intervenção divina. Essa também é uma maneira errada de usar a história. O que vemos aqui é Deus condescendendo com um homem de fé fraca para assegurar-lhe a vitória. Deus pode dar, e dá, tais garantias hoje em resposta à oração.

Notas Adicionais

6.1 Gideão, que recebe um total de 100 vv., e Sansão, com 96, são os juízes que ocupam lugar pitoresco, neste livro.

6.3 Midianitas. Tribo de nômades aliados dos amalequitas, vindos da região de Neguebe, ao sul da Palestina (cf. Gn 25.1-4). Povos do Oriente, seriam os beduínos primitivos do deserto sírio. Esses três povos se uniram em número elevadíssimo, tornando-se capazes de saquear a agricultura e os rebanhos dos hebreus. Atacaram, principalmente, o território de Manassés, sem deixar de devastar também a Efraim, Aser, Zebulom, Naftali (6.35; 8.1) e, sem dúvida, a Issacar.

6.5 Subiam com os seus gados e tendas. Estes invasores viviam de modo nômade. Camelos. Aparecem, aqui, pela primeira vez em grande escala. Utilizados num ataque militar inculcaram terror aos israelitas.

6.6 Os filhos de Israel clamavam ao Senhor. • N. Hom. “Grande é a Misericórdia de Deus”: 1) Ainda que o motivo do clamor fosse por interesse pessoal e não por amor a Deus, Ele atendeu; 2) Ainda que não fosse a primeira vez, nem a última, que o povo se desviara do Senhor, Deus o ouviu e perdoou; 3) Ainda que desprezaram Sua palavra (preservada no Pentateuco de Moisés), Deus lhes falou através do profeta (8). Conclusão. O amor perdoador de Deus é sem limites - arrepender-se, crer e clamar são seguidos do trato imerecido que o filho pródigo recebeu de seu pai (Lc 15.22-24).

6.11 O Anjo do Senhor. Pelo Anjo com o nome próprio do Senhor (Jeová) vê-se que se trata de uma teofania (cf. 2.4). • N. Hom. 6.13-24 “Dúvidas Incoerentes no Serviço: do Senhor”: 1) Sua presença - “O Senhor está contigo” (12, 16) - “então por que nos sobreveio tudo isto?”; 2) Comissão: ”Não te enviei eu?” - “com que livrarei a Israel?” (14, 15); 3) Vitória: “Ferirás os midianitas como se fossem um só homem” - dá-me um sinal de que és tu, Senhor, que me falas” (16, 17); 4) Paz: “Paz seja contigo... não morrerás” Gideão edificou ali um altar e lhe chamou “o Senhor, é paz” (23, 24). Conclusão: Quando o Senhor nos manda, não é hora de duvidar.

6.14 Tua força. Gideão não se apresenta como um homem valente (12), malhando trigo às escondidas (11), desculpando-se diante da tarefa mandada por Deus (15), duvidando que a mensagem a ele dirigida tivesse vindo de Deus (17), temendo os homens da cidade (27) e pedindo dois sinais para confirmação da promessa de Deus (36-40). Mas sua hesitação indica profunda humildade, qualidade esta essencial a todo homem que Deus se digna usar. Desta forma, Deus é exaltado, em contraste com o homem soberbo (Lc 1.52). Não te enviei eu? Há poder na comissão do Senhor (Cf. Mt 28.18, 19). Eu estou contigo (16). Há poder redobrado na companhia do Senhor (Mt 28.20; At 18.1 o).

6.18 Oferta. Heb. minhah, “oferta voluntária”, não pelo pecado.

6.19 Efa. Medida de secos que comportava 20 kg de farinha, presente valioso numa época de muita escassez.

6.21 Fogo do penha. Seria reconhecido como prova de que o próprio Senhor estava presente e que a oferta fora aceita por Ele (cf. Gn 4.4).

6.22 Ai de mim. Um pressuposto do pensamento dos hebreus era que ver a Deus significaria a morte (cf. Gn 16.13; 32.30; Êx 20.19; 33.20; Is 6.5). Em Cristo, podemos ver a Deus e viver eternamente (Jo 1.18, 14.6-9).

6.24 O Senhor É Paz. Heb. Jahweh-shalom, “Jeová está disposto a favorecer-te” (cf. v 23).

6.26 Poste-ídolo. Representação feminina da deusa da fertilidade, cultuada na esperança de maior produtividade da terra (cf. 2.13n).

6.29 Perguntando e inquirindo. Segredo guardado por dez homens (27) deixa de ser segredo.

6.31 Joás. Responde com coragem e sabedoria. 1) Contendei por Baal e travar luta pessoal com Joás; 2) Baal não precisa de intervenção humana se é que é um deus real. Deparamos até onde os israelitas tinham se desviado da verdadeira adoração ao único Deus.

6.32 Jerubaal. Lit. “que Baal dê o aumento”, um jogo de palavras.

6.33 Se acamparam. Deparamos na invasão anual dos midianitas e seus aliados. Chegaram na hora da colheita (cf. 15.5n).

6.34 O Espírito. Cf. 3.10n. Revestiu. No heb, “vestir-se com”. O Espírito tomou posse completa deste servo. Abiezritas. Subtribo de Manassés na região ao oeste do Jordão.

6.36-40 Gideão não está procurando saber qual seja a vontade de Deus. Esta já lhe foi exposta claramente (vv. 14, 16). Pediu sinais de Deus, na lã, com ou sem orvalho, para fortalecer sua própria fé e, ao mesmo tempo, obter evidências para que o povo pudesse reconhecer que sua comissão de líder viera de Deus. Portanto, este não pode ser método bíblico para se conhecer a vontade de Deus (cf. Pv 3.5; Tg 1.5-8).

6.39 Só a lã esteja seco. A segunda prova seria indubitavelmente sobrenatural, posto que a lã absorveria o orvalho muito mais facilmente que a terra e as pedras ao redor.

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