Estudo sobre Apocalipse 2:12-13
Estudo sobre Apocalipse 2:12-13
Apocalipse 2:12-13
Quanto à indicação dos destinatários e à ordem para escrever. A auto-apresentação do edito da mensagem (excurso 1b) retoma Ap 1.16. Determinará ela novamente o rumo da mensagem seguinte?
A auto-apresentação é tão breve que nada desvia dela, permanecendo unicamente um ponto central: a espada afiada de dois gumes. Nem mesmo se repete de Ap 1.16 que ela sai da boca do Juiz (o que ocorre, porém, no v. 16). Tudo concorre para uma nitidez contundente. Todas as tentativas de obscurecimento são traspassadas por esse Juiz, todas as misturas e borrões são discernidos. Como tema da mensagem podemos esperar: contra a mistura!
Essa espada é referida expressamente no v. 16 aos balaamitas, respectivamente aos nicolaítas. Várias vezes, a espada desempenhou um papel importante nas histórias de Balaão (Nm 22.23,31; 31.8; Js 13.22). Desse modo, delineia-se um quadro: esta missiva à igreja aborda a perigosa mistura do povo de Deus, tendo como pano de fundo a tribulação de Israel em sua época no deserto (cf. nota 193).
No v. 13, o inquérito judicial (excurso 1c) traz um grande elogio.
Conheço o lugar em que habitas. Contra as expectativas, o Senhor não começa, como tantas vezes, com a atuação da igreja, mas com o seu lugar de moradia. Entretanto, como o lugar de atuação é importante para a atuação em si de uma pessoa (cf. o significado fundamental do “lugar”, nota 192)! Cristo não julga ignorando o poder das circunstâncias e da atmosfera. A igreja em Pérgamo vive num conjunto habitacional com Satanás. Como poderá viver aí como uma igreja?
Todas as cidades citadas eram áreas de influência de Satanás (Ap 2.9,24; 3.9). Contudo, Pérgamo era o trono de Satanás, centro da estratégia satânica. Qual era a razão dessa leitura profética? Visto que no Apocalipse o trono de Deus constitui a imagem central, estaremos lidando aqui com a figura contrária decisiva.
Será que se faz alusão ao fato de que o procurador romano residia nessa antiga cidade real (enquanto sua sede administrativa situava-se na capital daquele tempo, Éfeso)? Ou deve-se lembrar que já em 29 a.C. um templo fora dedicado ao imperador romano Augusto em Pérgamo, como local mais antigo e mais importante do culto ao imperador que vinha se alastrando? Ou será que Pérgamo se destacava como cidade do primeiro martírio (v. 13) na província? Ou será essa afirmação causada já pelo aspecto exterior, a saber, que o olhar era atraído para o gigantesco e imponente altar a Zeus, visível de longe a uma altura de 300 metros acima da cidade, e uma das sete maravilhas mundiais da Antiguidade? Contudo, é igualmente plausível a relação com o florescente culto à serpente salvadora (Asklepios – Soter), que naquela época mantinha duzentos santuários no mundo inteiro, e cuja sede central era representada por Pérgamo. Ainda hoje pode-se visitar uma piscina de mármore que fazia parte da atividade balneária e curativa. Mais tarde, atuou ali Galeno, o médico mais famoso da Antiguidade. Peregrinavam para lá enfermos de todo o mundo, e transmitiam-se anedotas e títulos (p. ex., salvador) que evocam os evangelhos. Os cristãos podiam perceber muitas dessas coisas como uma imitação diabólica de seu Salvador. Sobretudo a confecção e a adoração da serpente impelia o pensamento bíblico diretamente para a lembrança de Satanás. Finalmente, também a arte e a ciência experimentaram pontos altos nesse local. Recordemos o sistema de bibliotecas, igualmente o couro especialmente fino para a escrita, desenvolvido e produzido ali, que levou o nome da cidade ao mundo ao ser chamado de “pergaminho”.
Diante de todo esse quadro, recomenda-se não relacionar “trono de Satanás” com determinados prédios, mas antes com a cidade inteira, na qual os membros da comunidade viviam dispersos. Estava em questão algo ligado à atmosfera, a Pérgamo enquanto centro helenista em sua totalidade impressionante, com tudo o que dela irradiava em termos religiosos, culturais e políticos de forma tão atordoadora. Entretanto, quem diz helenismo, diz fusão (qi 11). A comunidade vivia no centro de um forno de fundição.
Considerando isso, o pensamento retorna à história de Balaão. Quem lê aqueles capítulos do AT sente como ele estremece diante da consciência de um ataque geral de Satanás ao povo de Deus. Está em jogo ser ou não ser. Ao mesmo tempo, um segundo paralelo merece ser preservado: Israel caiu nessa provação imediatamente após uma série de vitórias (Nm 21.21-35). Esse aspecto abriga uma tática do inimigo: ele espera pela tendência para a leviandade por parte do vitorioso. Também à igreja em Pérgamo se atesta uma vitória recentemente conquistada:
Conservas o meu nome (“Manténs firme o meu nome”). O termo “conservar” é demasiado inexpressivo. A questão era apegar-se com toda a força e agarrar-se com unhas e dentes. Algo estava para ser arrancado da igreja (cf. Ap 2.25; 3.11). Convidava-se para soltar. Uma onda de perseguição passou por cima da comunidade. A luta girava em torno do nome Jesus.
Como tantas vezes no NT, a controvérsia com o ambiente inflamava-se nesse nome (Mt 10.22; 19.29; 24.9; Jo 15.21; At 5.41; 9.16; 21.13; 15.26; 1Pe 4.14; Ap 3.8): no choque com o culto à serpente poderia ter sido o nome do Salvador (cf. acima), contra o culto ao imperador mais tarde o nome de Senhor, diante do judaísmo a designação de Jesus como Messias ou Filho de Deus. Todos esses títulos são entendidos na confissão cristã como “nome acima de todo o nome”, elevando Jesus sobre todas as grandezas e solicitando ao imperador e aos deuses para que “se dobrem” (Fp 2.9,10). Muitas vezes o mundo em redor era magnânimo e teria tolerado a veneração de Jesus, se paralelamente pudesse ter prosseguido com a veneração de outros senhores e salvadores. Contudo, elevar esse Jesus como o único e verdadeiro Senhor e Salvador representava, enfim, o estopim, tão logo essa demanda era entendida. O mundo humilhado então se amotinava contra o nome Jesus e exigia da igreja que revogasse essa confissão.
As frases seguintes ampliam a impressão obtida.
E não negaste a minha fé (“E não negaste a fidelidade para comigo”). A acepção mais singela de “negar” é dizer não quando perguntado. Seu oposto é “confessar”: dizer sim diante de uma declaração (ambas as expressões em Jo 1.20). Consequentemente, havia em Pérgamo discussões duras e pressão maciça para que se renunciasse à fidelidade ao Senhor Jesus. Contudo, a igreja foi aprovada ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. Entrementes ficaram para trás os dias difíceis, repletos de trevas satânicas. Toda a comunidade havia se tornado o foco de ataques públicos, contudo Antipas foi a única vítima. Ele recebe o mesmo título de Jesus Cristo em Ap 1.5. Nisso expressa-se a estreita união de destinos. O Senhor o atrai para bem perto de si.
Quanto ao aspecto exterior do episódio, apenas se podem levantar suposições. T. Zahn associa a menção expressa de Satanás no presente texto ao culto à serpente. Talvez naquela exata oportunidade se realizasse em Pérgamo uma festa em honra dessa “salvadora mundial”. Confluíam peregrinos da província toda. As ruas, pelas quais se movia a procissão, estavam lotadas, num clima extremamente tenso. Então Antipas, conhecido como cristão, é notado e encarado como espectador crítico. O mero silêncio já pode ser eloquente! Ele é desafiado, mas permanece firme até a morte. Parece que se tornou vítima do fanatismo. Nada denota uma perseguição planejada e um processo judicial.
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