Estudo sobre Apocalipse 2:6-7
Estudo sobre Apocalipse 2:6-7
Apocalipse 2:6-7
Depois dessas palavras assustadoras, transparece mais uma vez um tom de reconhecimento, como se a justiça do juiz estivesse preocupada por ter ignorado um aspecto atenuante: Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas.
Essas pessoas não são caracterizadas, mas apenas citadas e condenadas. Acaso a frase posterior deveria remeter ao v. 2, conferindo um nome adicional àqueles apóstolos falsos?193
Quanto aos ditos de gravação cf. excurso 1e, quanto ao oráculo do vencedor cf. excurso 1f. Ao vencedor o Senhor promete dar uma comida, ou seja, uma ceia de vitória: dar-lhe-ei que se alimente. Para entender esse aspecto é preciso permanecer atento ao contexto: vencedores são aqueles que superam a tentação nicolaíta em nome de Jesus. Os nicolaítas (nota 193), afinal, também davam de comer, embora fosse carne maléfica, a saber, “carne sacrificada a ídolos”. No Oriente, porém, comer em conjunto é um gesto de comunhão e reconciliação. O convite de participar de refeições cultuais do contexto gentílico visava a paz entre as comunidades e o paganismo. Uma paz podre e traiçoeira no meio do campo de batalha! A comunidade que se assentasse para tais celebrações com certeza seria devorada em pouco tempo. E o profeta os viu sentados despreocupadamente diante de sua última refeição!
O comportamento oposto, a rejeição dessa tentação, era expressa de forma figurada pela vigilância, pelo jejum, pelo uso da armadura e pela luta até que o Senhor venha e, por seu turno, convide para a refeição. Então há alimentação para a vida, da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus. Essa palavra remete nitidamente a Gn 2.9; 3.22,24 e encerra um trecho que em quase cada versículo denotava uma relação implícita com aqueles capítulos do AT.
Para os autores bíblicos, “paraíso” era um estrangeirismo (oriundo do persa). Naquele idioma designava um parque artificial cercado, como os grandes reis persas os mandavam instalar. Somente filhos do rei e pessoal da corte tinham acesso. Conforme Gn 2, o ser humano foi criado fora do paraíso. Tinha permissão de viver nele não por força de direito de nascimento, mas por pura benevolência de Deus. Consequentemente, viver no paraíso e fruir de seus frutos significa comunhão clemente com o Senhor do paraíso. A quebra dessa comunhão acarreta imperiosamente a expulsão do jardim de Deus.
Ezequiel (36.35) foi o primeiro a anunciar para o fim dos tempos um retorno dos tempos originários e do paraíso, uma ideia que obteve eco não somente no judaísmo, mas muito além dele entre as nações. O discurso de uma era de ouro, de circunstâncias paradisíacas, espelha o anseio da humanidade, que tem consciência de que não está mais em casa.
Finalmente, é instrutiva uma comparação com Ap 22.2,3. Aqui a árvore da vida se encontra no jardim, lá está situada na cidade. Aqui seus frutos são utilizados para satisfazer a igreja (provavelmente essa a acepção vem em consonância com Ez 47.12), lá suas folhas servem para sarar as nações. Aqui o tema é comunhão com Deus, lá o culto a Deus. João, portanto, não aplica mecanicamente a ilustração da árvore da vida, mas seleciona cuidadosamente pontos de comparação, para inseri-los no sentido do respectivo contexto. Para a comunidade em Éfeso, a questão do serviço não sofria nenhuma dificuldade (v. 2,3), ao contrário da comunhão com seu Criador e Redentor. Para este seu ponto mais necessitado ela agora obtém a promessa: comunhão perfeita com Deus em Jesus Cristo. Com essa promessa, o v. 7 retorna ao v. 1, a saber, à ideia do paraíso. Assim como lá Cristo instaura o paraíso por intermédio de seu andar entre as igrejas, assim ele consuma essa comunhão após o oráculo do vencedor, dando de comer da árvore da vida, da qual a humanidade havia sido proibida de comer até agora.
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