Estudo sobre Apocalipse 2:23

Estudo sobre Apocalipse 2:23





Apocalipse 2:23

A palavra de advertência encerra com um anúncio, cuja interpretação não é unívoca: matarei os seus filhos (“e a seus filhos matarei pela peste” [tradução do autor]). Novamente enseja-se uma relação com a Jezabel do AT, cujos filhos tiveram o destino descrito em 1Rs 21.21,29; 2Rs 10.7. Será que no presente caso também se trata dos filhos físicos dessa mulher, ou de seus alunos? No segundo caso haveria uma afirmação paralela ao v. 22. Ambos os trechos prometem tribulações aos adeptos. Aqui, porém, são ameaçados depois que rejeitaram o arrependimento e não podem mais ser designados de “servos de Jesus”, mas se tornaram definitivamente “filhos” da herege.

Como o juízo no monte Carmelo em 1Rs 18, o julgamento destes filhos é ao mesmo tempo ação de Deus na igreja toda: e todas as igrejas conhecerão (“reconhecerão”). Deve voltar à consciência das igrejas o que lhes foi dissipado devido ao seu esquecimento: Eu sou, de maneira tal que acaba todo “manquejar de ambos os lados”. Esse “Eu sou” não é pronunciado apenas como sinal de consolo (Ap 1.4,5,17) para a comunidade, mas também uma vez sob o estrondo do juízo. A primeira fonte de reconhecimento com certeza é a bondade de Deus (Rm 2.4). Contudo, quando a bondade de Deus não conduz ao reconhecimento da verdade e da realidade, mas repetidamente ao desconhecimento, à inocuidade de Deus e de seu evangelho, existe ainda essa segunda fonte de conhecimento: o juízo na igreja. Jesus promete acabar com essas distorções do entendimento: Eis!

Ele é o Juiz da comunidade, que sonda mentes (“rins” [teb]) e corações, ou seja, desejos e pensamentos, e vos darei a cada um segundo as vossas obras. Os “olhos como chama de fogo”, na auto-apresentação do Senhor (v. 18) já indicavam um processo infalível que atravessa toda a dissimulação espiritual, e os “pés como fogo” indicavam a sagrada execução judicial “segundo as obras” (quanto a pormenores, cf. o comentário a Ap 1.14).

“Segundo as obras” é uma expressão bíblica geral (p. ex., Pv 24.12). Ela transparece também em Paulo, p. ex., em Rm 2.6. As fórmulas, no entanto, sempre carecem de interpretação de acordo com o respectivo contexto. Nele contrapõe-se “eu darei” a “eu dei”, no v. 21: portanto, quando alguém obtém vida eterna no juízo “conforme as obras”, terá de ser glorificado aquele que realizou nele a bondade, paciência e longanimidade de Deus. Não há como afirmar que alguém alcança sua salvação por méritos. Por outro lado, “eu darei” no presente versículo contrapõe-se a “eu darei” nos v. 26,27. As dádivas de salvação ali arroladas ultrapassam qualquer mérito (cf. excurso 1f, no final). Consequentemente, nosso versículo se encontra entre as clemências de Deus. Caminhamos de graça em graça e, por isso, estão em jogo, com seriedade máxima, também as obras.