Estudo sobre Apocalipse 2:15-17

Estudo sobre Apocalipse 2:15-17





Apocalipse 2:15-17

O aspecto totalmente inesperado que aparece nessa revelação, bem como a profunda dor sobre ele, reside no tom da palavra final de acusação: Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam (“se apegam”) a doutrina dos nicolaítas. Ou os nicolaítas representam um segundo grupo ao lado dos balaamitas de cunho mais judaico (nota 193), ou o autor está dizendo: assim como Balaque tinha o seu Balaão, assim os de Pérgamo tinham os seus nicolaítas. Os nicolaítas desempenhavam em Pérgamo o papel de Balaão.

16 Ao breve chamado ao arrependimento segue-se a palavra de advertência (excurso 1d): Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca. Essa referência, bem como a outra em Ap 19.11, que falam da “guerra” de Jesus Cristo, previnem-se nitidamente contra um entendimento literal (nota 162). Contudo Cristo julgará, e os Balaãos sempre são tratados com dureza (Nm 31.8; Gl 1.7-9; 5.12; e, a seguir, o v. 22). O tribunal tem capacidade de acertar os causadores com exatidão, mas a comunidade inteira é disciplinada e envergonhada por isso.
17 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas (quanto aos ditos de gravação, cf. excurso 1e). Que é que o Espírito diz à luz precisamente dessa mensagem à comunidade? Ele diz à comunidade sim e não, sim para o seu testemunho para fora, e não para o seu silêncio para dentro de si. Ele lhe diz: “Tua situação de confissão não acaba com ‘aqueles dias’. Ela se prolonga até o teu hoje. De maneira inalterada vives onde se situa o trono de Satanás. Naquela época, a ‘velha serpente’ apareceu como assassina, agora aparece como sedutora. Portanto, duas vezes Satanás. É por isso que a tua fidelidade está em jogo duas vezes e duas vezes a tua vitória. Reconhece a duplicidade dos acontecimentos e não corras para a cilada, depois que venceste no conflito aberto.” No centro da igreja posiciona-se o Senhor da mesma, cuja espada não perdeu o fio num dos lados. Seu alvo é uma vitória redundante.

O oráculo do vencedor reitera no começo, conforme o sentido, o oráculo dirigido a Éfeso: Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido. Tanto lá como aqui fala-se da refeição como sinal da comunhão perfeita com Cristo.212 Bengel observa: “Diante desse manjar o apetite pela carne sacrificada a ídolos deveria desaparecer”. Contudo, é verdade que Ap 2.7 se move de acordo com os parâmetros da ideia do paraíso. Agora, porém, o pano de fundo é a época de Moisés, motivo pelo qual é feita associação com a alimentação no deserto.

A continuação do oráculo evoca Ap 2.10b e o clima de competição: lhe darei uma pedrinha branca. Os vencedores nas olimpíadas eram honrados ao extremo quando retornavam à sua cidade natal, e provavelmente também eram recompensados através de objetos de valor ou reduções de impostos. Necessitavam, porém, de uma autenticação. Para esse fim eles recebiam, por ocasião das honrarias em Olímpia, além da grinalda de louros também tabuletas de mármore branco com o seu nome. Receber a pedra branca explica-se, portanto, como elemento da homenagem ao vencedor.

A continuação atrai sobre si a atenção: e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe. Aqui o Apocalipse menciona pela primeira vez a palavra “novo”. Mais tarde falará sobre novos cânticos, nova Jerusalém, novo céu e nova terra. Tudo novo! Essa é senha do mundo vindouro de Deus. O antônimo é o que atualmente existe. A transição de um para outro não é produzida por um desenvolvimento. Desenvolvimento não renova nada, mas apenas revela de forma nova o antigo. Por isso “novo” designa o ato criador, o milagre (cf. o comentário a Ap 5.9).

Esse ato agora está sendo relacionado com o nome dos vencedores. Assim como nas origens tudo foi chamado pelo nome (Gn 1.5,8), recebendo desse modo sua posição, vocação e destino, assim acontece também na renovação de todas as coisas. A Bíblia conhece a mudança de nomes como mudança de projeto (Abraão em Gn 17.5; Jacó em Gn 32.28; discípulos em Mc 3.16; Jo 1.42). Deus interrompe uma vida e a redireciona. Is 62.2; 65.15; 56.5 anuncia uma mudança do nome de Israel no fim dos tempos. Receberá o nome do vencedor. Com isso está encerrada a existência atual de interminável angústia: “porque já estão esquecidas as angústias passadas e estão escondidas dos meus olhos” (Is 65.16).

Também a igreja em Pérgamo não saía do perigo. Mal tinha superado com êxito uma batalha e pensava poder fazer uma pausa para tomar fôlego, e já tudo corria risco novamente. Contudo, Deus conduzirá desse estado para uma nova situação. Ao que for fiel ele mais uma vez confere um novo nome. A circunstância de que ninguém sabe como soa esse novo nome, exceto o doador e o portador, sublinha a segurança da nova condição. Esse nome é segredo entre Cristo e a comunidade vitoriosa, expressando assim uma comunhão livre de intrusões. Assim como esse nome está garantido contra qualquer abuso por terceiros, assim ninguém poderá violar esse novo relacionamento com Cristo. Finalmente a igreja pode viver sem perturbações para a sua vocação: vida inatacável! (cf. sobre isso Ap 7.9).

O Senhor garante a sua fidelidade duplamente aos que lutam arduamente por se manterem fiéis: “Eu lhe darei, eu lhe darei”.