Estudo sobre Apocalipse 11:4

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Apocalipse 11:4

Entretanto, que significa: Darei às minhas duas testemunhas autoridade (“poder” [rc, nvi, vfl, bv])? No original grego ainda se encontra o artigo definindo, que permite constatar um conceito definido. O próximo versículo o esclarece. No estilo explicativo típico (cf. Ap 7.14; 14.4 e nota 462) diz-se primeiramente: São estas as duas oliveiras. Isso constitui uma nítida indicação para Zc 4.1-3,11,14! Lá o profeta viu um candelabro alto e dourado, que trazia um recipiente. Em redor desse recipiente ele constatou vasilhas de óleo, cujas beiradas, no entanto, não tinham apenas um bico, como em lâmpadas comuns, mas nada menos de sete dobras, para poderem conter sete pavios. Ou seja, o profeta viu um candelabro imponente, reluzente de ouro, que fornecia um volume de luz extraordinário com suas sete vezes sete chamas. À direita e à esquerda do candelabro, porém, havia duas oliveiras, que conforme o v. 14 simbolizavam “dois ungidos”. Essas duas pessoas cheias de Espírito estão à disposição do “Senhor de todas as terras”. Proclamam à terra sua inesgotável soberania, sobretudo que ele se torna soberano.

São estas, portanto, as duas oliveiras, bem conhecidas dos judeus por causa de vivas análises. O sentido básico está claro: servem como precursores do Senhor vindouro. Que personagens individuais, porém, estavam ocultos atrás das duas oliveiras?

É agora que o Ap se imiscui na interpretação. As oliveiras não são personagens históricos isolados, pois realizam seu serviço durante todo o tempo escatológico (mil duzentos e sessenta dias), que no tempo de João já durava uma geração inteira. Também atingem a humanidade toda, o que ultrapassaria a força de duas pessoas individuais. Além disso, “seu Senhor”, a quem testemunham, não somente é o vindouro, mas também o que já veio (v. 8). Eles são testemunhas do que já aconteceu.

Desse modo, a passagem de Zacarias foi interpretada com autoridade como se referindo à igreja de Jesus cheia do Espírito. Enfim, é ela que, segundo os escritos de João, “tem a unção” (1Jo 2.20,27) e “tem o Espírito” (1Jo 3.24; 4.13).

Impressão de extraordinária ousadia, porém, com vistas à passagem de Zacarias, causa o adendo acerca das duas oliveiras: e os dois candeeiros que se acham em pé diante do Senhor. Pois Zacarias viu somente um único candelabro, e esse simbolizava o próprio Senhor. O Ap tem conhecimento de dois candelabros, identificando-os com as testemunhas de Jesus, como antes já havia acontecido com as duas oliveiras. Elas são tudo ao mesmo tempo, profetas, oliveiras e candeeiros.

Essas designações estão formuladas geralmente com o número “dois”. Nesse detalhe concentra-se um interesse peculiar. Não se deve pensar em dois personagens distintos com funções distintas (cf. Moisés e Arão). Afinal, conforme os v. 5-12, as “duas testemunhas” atuam ao mesmo tempo, da mesma maneira e experimentam indistintamente o mesmo destino. É melhor levar em consideração o fato de que era um costume estabelecido no judaísmo e no cristianismo primitivo enviar mensageiros aos pares. De conformidade com esse modo de pensar, uma testemunha é igual a nenhuma. Uma questão só recebia validade legal após depoimentos concordantes da boca de duas pessoas. Em decorrência, o número dois no presente texto apregoa a vigência legal e a autoridade do testemunho único de Jesus. Não se deveria depreender daqui uma diferença qualquer no seio da igreja e de seu testemunho, mas precisamente a igualdade. O número dois cria a imagem da força para a igreja do tempo escatológico.

Os v. 5,6 ilustram a autoridade das duas testemunhas, com nítidas semelhanças em relação às duas grandes figuras proféticas do povo de Deus do AT, Moisés e Elias. Nisso deve-se observar que não são atribuídas, p. ex., as características de Moisés a uma e as de Elias à outra testemunha. Pelo contrário, todos os poderes valem para ambas as testemunhas. Não se forma o quadro de duas personalidades distintas, entre as quais estaria, p. ex., um novo Elias do fim dos tempos. Pois, de acordo com a convicção da primeira igreja, esse já se fez presente na pessoa de João Batista (Mc 9.13). De fato, trata-se não tanto de personagens precursores, mas de “pós-cursores”, de testemunhas do Senhor que já veio e foi crucificado, mas que obviamente também é o Senhor do futuro.

As duas testemunhas aparecem como uma só grandeza, nitidamente alçada para a esfera supra-pessoal. Essa comunidade única de testemunhas evidencia-se como verdadeira comunidade de profetas, ao exibir em sua vida o que identificava o ser profeta no AT. Como exemplo da época de Israel no deserto aparece Moisés, e como exemplo do tempo dos reis, Elias.

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Apocalipse 11:4