Estudo sobre Apocalipse 11:9
Então… os povos, tribos, línguas e nações contemplam os cadáveres. Não são “alguns” (Lutero) ou “muitos” (Radon, ra) da população mundial que vêem seus cadáveres, mas precisamente a população mundial como um todo. Por meio de uma descrição quádrupla é delineada a esfera pública mundial, a “rua” da Babilônia (v. 8). Foi a esfera pública mundial que ouviu o testemunho, que decaiu para aderir à besta (Ap 13.7), que acompanhou a guerra da besta, para contemplar agora de maneira triunfante os cadáveres das testemunhas. O judaísmo anticristão tornou-se estoque inicial de um anticristianismo de amplitude mundial (cf. nota 461). Representa a semente da Babilônia, que depois cresce para formar a Babilônia global.
Os povos se regozijam ao contemplar os adversários derrotados, não podendo fartar-se de olhar para eles. Por isso os cadáveres precisam permanecer insepultos, como a desonra máxima que a Antiguidade conhecia. E não permitem que esses cadáveres sejam sepultados. Expulsar alguém das fileiras dos vivos e depois não sepultá-lo junto dos mortos, mas deixá-lo largado na sarjeta para ser comido por cães e abutres, significava destruí-lo integralmente e tirar-lhe qualquer chance de futuro.
O acréscimo do aniquilamento moral além da destruição física encontra-se também na paixão de Jesus: o Filho do Homem não teve somente de sofrer, mas também de ser desprezado (Mc 8.31; 9.12). Ele não apenas morreu, mas morreu também a morte vergonhosa na cruz. Se apesar disso não ficou insepulto, mas obteve um enterro honroso, podemos ver nisso um dos sinais muito significativos de Deus, que foi conscientemente incorporado no Credo Apostólico: “morto e sepultado!”
Três dias e meio dura esta exposição pública. São os últimos três dias e meio dos mil duzentos e sessenta dias do v. 3, ou seja, do fim dos tempos. Por ter uma história viva, esse tempo escatológico experimenta crescimento e redução da tensão, crista da onda e refluxo, épocas acirradas e épocas relativamente tranquilas. Os três dias e meio são concentração máxima e adensamento mais escuro, a saber, tempo do fim em ponto de combustão. Neles adensa-se o elemento anticristão, quando “a besta peleja” (v. 7, cf. também o comentário a Ap 13.5-8). Entretanto, adensa-se neles também o testemunho cristão, porque essas testemunhas mortas ainda testemunham (Hb 11.4), e sobretudo agora, ao se igualarem ao aspecto da morte de Jesus (v. 8). Com seu sangue testificam que o Crucificado é um Senhor tão poderoso que ele possui os seres humanos que lhe são fiéis até a morte em todas as ruas do mundo.
Há uma noite em que, por parte dos discípulos, ninguém pode agir (Jo 9.4). Silencia a pregação regular do evangelho e a lei da ação passa integralmente para o lado oposto. As trevas avançam. Nada é capaz de furtar-se ao seu ritmo retumbante. Nessa situação vigora o que diz Ap 13.4-8: “Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?… Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação; e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra.” Não obstante, aqueles cadáveres jazem na rua como prova de um Senhor ainda mais poderoso, de maneira que a besta de fato pode exercer um poder apenas fragmentado e na verdade não é capaz de forçar todas as pessoas a se ajoelharem diante dele. É por isso que as testemunhas não somente possuem autoridade extraordinária durante sua vida (v. 5,6), mas também ainda quando morrem. Como ocorreu com seu Senhor, a morte delas não é um ponto final sem cor nem dor, mas precisamente um ponto culminante: Está consumado! Eles foram vitoriosos sobre o próprio Satanás, porque não amaram sua vida em face da morte (Ap 12.11).
Para os que vivem fora da esfera de irrupção das trevas derradeiras, vale Jo 12.35,36. Será que dormem e sonham na luz, ao invés de se levantarem do sono? Quando sobrevierem as trevas, ninguém poderá levantar-se. Aqueles “três dias e meio” não são tempo apropriado para o arrependimento e a renovação. Isso terá de acontecer antes. “Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da luz”.
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Apocalipse 11:9