Estudo sobre Apocalipse 11:8
Estudo sobre Apocalipse 11:8
Apocalipse 11:8
E o seu cadáver (nota 470) na praça (“rua”) da grande cidade! Fazemos a sugestão de não preencher o verbo ausente por “esteve deitado” ou “esteve enforcado”, mas deixar a frase como uma exclamação dolorosa e arrasadora. Eis aí, seu cadáver em Jerusalém! Esta cidade, portanto, tornou-se anticristã, pois acompanha as guerras da besta. O judaísmo não se diferencia mais do mundo. Ao matar estas testemunhas, assassinam seu Moisés e Elias (v. 5,6) e se separam de seus próprios fundamentos. Uma exclamação similar, que grita fatos inconcebíveis, encontra-se em Mt 23.37 na boca de Jesus: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!” Tristeza e dores incessantes por Israel foram testemunhadas também por Paulo (Rm 9.2).
A co-responsabilidade integral dos judeus pode estar sendo manifesta pela expressão na praça (“rua”) da grande cidade, caso deva ser entendida no sentido de “publicamente”. O que aconteceu, portanto, não foi um homicídio, pelo qual realmente não se podia responsabilizar uma cidade inteira, mas uma matança realizada com unanimidade, que por isso onera a sociedade toda.
Em tempos de guerra os cadáveres são empurrados simplesmente para a rua. “Os seus cadáveres são como monturo no meio das ruas” (Is 5.25). Contudo nós os vemos cheios de dor e pavor. No atual caso, porém, tudo é intencional e praticado com sarcasmo, como exporá o v. 9. Embora no Ap a expressão grande cidade por nove vezes designe a Babilônia, aqui está ligada a Jerusalém por meio do adendo: “onde também o seu Senhor foi crucificado”. A “grande cidade” é realmente a “cidade santa” de outrora, do v. 2. Ela se tornou “Babilônia” e segundo o Ap nunca tornará a ser “cidade santa”, mas sucumbirá com Babilônia (cap. 18). O primeiro cristianismo separou-se radicalmente da Jerusalém terrena (cf. Gl 4.25,26; Hb 12.22). Não contava com a reconstrução da cidade na história da salvação. Os documentos do NT não produzem nenhuma conclusão diferente.
Essa deturpação que Jerusalém (e, em decorrência, o judaísmo) sofreu em sua essência continua a ser descrita. Essa é a cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito. Desse acréscimo decorre que João não deseja mais proferir o nome terreno e humano “Jerusalém” para essa cidade, do mesmo modo como em Ap 2.9; 3.9 se nega a conceder o nome honorífico “judeu”. Afinal, João estava “em espírito” (Ap 1.10) e via tudo espiritualmente, i. é, profeticamente. Com olhos de profeta ele também perscruta Jerusalém e a fixa em sua verdadeira natureza. Essas poderosas alterações de nome (cf. vol. i, nota 193) foram e continuam sendo para a igreja um evento espiritual, sendo compromissivas para ela.483
“Sodoma” e “Egito” são conceitos antiquíssimos na proclamação (cf. nota 63). Já na antiga aliança eles concretizam a natureza do mundo gentílico ao redor. Sodoma representa os tentadores vícios gentílicos e, por princípio, a sedução para longe de Deus em direção dos ídolos, ou seja, a “prostituição” religiosa e moral. “Como se fez prostituta a cidade fiel!” lamentava-se Is 1.21. O Egito foi a casa da escravidão de Israel e representa o poder de opressão, que escraviza pela violência, paralisa, maltrata, persegue, dizima e amedronta até a morte. Ambos os elementos, sedução e opressão, unificaram-se mais tarde na “grande Babilônia”, e ambos foram também praticados contra os primeiros cristãos pelo judaísmo. É assim que o espelha o NT.
De acordo com Bill iii, pág. 816, judeus e cristãos daquele tempo usavam a “Babilônia” como criptônimo para a Roma imperial. Por isso Munck também interpretou esse versículo em relação a Roma, onde as “duas testemunhas”, segundo ele Pedro e Paulo, teriam sido executadas. Entretanto, por causa de sua interpretação, Munck é obrigado a cortar a pequena frase do versículo sobre a execução do Senhor, como suposto adendo de mão alheia.
Levaremos a sério essa frase subordinada, que exclui toda hipótese a respeito de Roma e Itália: onde também o seu Senhor foi crucificado. Em todo caso ele foi crucificado em Jerusalém. Na ocasião, é bem verdade que os judeus se mancomunaram com os romanos gentílicos. Herodes, como representante do judaísmo, tornou-se amigo de Pilatos, representante de Roma (Lc 23.12), e os líderes espirituais do povo apelaram para a amizade com César (Jo 19.12). Por inimizade contra o Cristo de Deus eles sepultaram sua inimizade com Roma. Nesse ponto principiou a conformação do judaísmo com o mundo.
Essa conformação continua com o assassinato das “duas testemunhas”. São episódios paralelos ao caso de Jesus. O também unifica a morte deles com a morte de seu Senhor. As testemunhas achegam-se bem perto daquele a quem testemunham. Encontram-se na “comunhão dos seus sofrimentos” (Fp 3.10; cf. o comentário sobre Ap 2.8-11).
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Apocalipse 11:8