Estudo sobre Colossenses 3:5

Estudo sobre Colossenses 3:5


Os fundamentos apresentados até aqui a respeito de nossa santificação agora são desenvolvidos de forma concreta.

“Por isso tende mortas”. Um imperativo estranho. Porém, como não é usada a forma “Matai!”, mas o imperativo do aoristo (um tempo verbal grego que expressa o aspecto concluído do passado), torna-se mais uma vez claro que nem mesmo agora a vida concreta da santificação é um esforço rumo ao alvo, mas um agir a partir do alvo. Vocês morreram, por isso também incluam concretamente nessa morte realizada – o que, afinal? “Os membros que estão sobre a terra.” O que isso significa? Confirma-se que entendemos corretamente justamente quando não temos “mentalidade grega” e passamos a considerar esta terra, o lugar físico, a estrutura material, como algo antidivino e maligno. Porque esses “membros que estão sobre a terra” não são mãos, pés, olhos e ouvidos! (Evidentemente não se deve omitir que nosso corpo é o corpo que agora está determinado pela “carne”. Por isso de fato, como ensina Rm 7.23, nossos “membros” possuem um significado especial para o pecado. Mas Rm 6.19ss mostra que apesar disso o determinante não são os membros em si; esses mesmos membros na realidade podem tornar-se “armas da justiça”. Os “membros” que devem ser mantidos na morte de Cristo são sempre apenas aqueles que Paulo cita na presente passagem.) Não se trata de “ascese” como tal. O objetivo não é ter um corpo tão inerte e imóvel quanto possível. Por isso Paulo não se preocupou com “comida e bebida”, não com a “implacabilidade para com o corpo” (Cl 2.16,23). Porque esses “membros sobre a terra” se chamam “lascívia, impureza, paixão, avidez”. (Os pesquisadores chamam atenção para o fato de que Paulo não criou pessoalmente tais composições, mas que as encontrou presentes em uma “tradição catequética” que remonta até o judaísmo. Isso é historicamente interessante, mas não contribui significativamente para a compreensão da questão em si.) Sem dúvida essas coisas também estão relacionadas com nossa corporeidade e nossa inserção na natureza. Se não fôssemos seres sexuados não haveria para nós “lascívia”. Mas – e é muito importante que observemos isso – mais uma vez o mal não está na sexualidade em si! Somos impuros não porque somos homem e mulher, ou porque temos um corpo de carne e sangue! Pelo contrário, “do coração dos seres humanos partem maus pensamentos, adultério, lascívia…” (Mt 7.21). Não é a sexualidade em si, mas somente a sexualidade egoísta que gera a aflição e culpa. Por isso a aflição e culpa não se concretizam somente pelo ato formal. Fazem parte dos “membros sobre a terra” justamente também os processos ocultos do coração que constituem a raiz de todos os descaminhos e assolações: impureza, paixão, avidez.

Talvez devamos notar particularmente que aqui também é citada a “paixão”, e dessa vez sem qualquer adendo (Rm 1.26 “paixões infames”; 1Ts 4.5 “paixão da avidez”). Porque é justamente para a pessoa moderna que “paixão” possui por princípio uma conotação positiva. Talvez a paixão seja “trágica”, talvez ela lance seu portador e muitas outras pessoas no sofrimento e na perdição, não importa, ela é, em si, grandiosa, “além do bem e do mal”, o verdadeiro motor de tudo o que merece ser retratado artisticamente no teatro e romance, cativante e instigante, enquanto sem ela a vida parece insossa. Paulo, porém, a conta entre os “membros sobre a terra”, que nós podemos “ter mortos”. Isso não significa que alguém como Paulo tenha transformado uma vida morna, medíocre em ideal cristão. Mas quem experimentou uma vida de dedicação a Jesus, “para conhecer a ele e a força de sua ressurreição, bem como a comunhão de seus sofrimentos”, sabe que perigo sombrio a “paixão” representa para toda vida verdadeira. Também uma pessoa que conheceu o amor genuíno e profundo no relacionamento entre homem e mulher dá razão a Paulo em seu veredicto sobre a “paixão”.

Perniciosas não são o corpo e a vida física em um mundo terreno e material, mas o coração deturpado, separado de Deus, o “eu”. Só que esse eu não permanece isolado por trás de uma vida concreta. Somente nos deparamos com ele de forma concreta nesta existência humana sobre a terra. Existem, enfim, essas duas poderosas esferas da vida em que o “eu” se manifesta primordialmente, que o NT por isso cita diversas vezes em conjunto e de forma particularmente enfática: a vida sexual e a busca do sustento. Para um sem-número de pessoas “a vida” de fato se resume a isso: apropriar-se para (de qualquer maneira relacionada com a área sexual) aproveitar e usufruir. Por isso Paulo também cita aqui a “avidez”, um especial “membro sobre a terra”, acrescentando: “que, afinal, é idolatria”. Idolatria por atacado: a propriedade deve realizar precisamente aquilo que é tarefa de Deus, a saber, propiciar-nos segurança, conservar-nos e presentear-nos com felicidade. Idolatria no varejo: com que tenacidade as pessoas constantemente se prendem nesse ou naquele objeto de sua propriedade! Que horrível perversão quando a propriedade, talvez uma joia, assume o lugar em que Deus deveria estar!

Na sequência trata-se da santificação real nessas áreas concretas. Ela não é obtida pela vida ascética. Exercícios exteriores de abstenção não eliminam de fato o coração sequioso, o eu ávido. Cedo ou tarde ele com certeza irromperia com maior força nos antigos pontos ou buscaria novas formas, talvez muito “devotas”, para apesar de tudo atingir a própria satisfação. A verdadeira santificação vem unicamente da fé. Ela vem porque ao morrer Jesus levou consigo para a morte esse nosso eu e porque pela fé abraçamos esse estar morto, podendo assim de fato tomá-lo e recebê-lo. Então torna-se possível “ter mortas” todas essas coisas na constante renovação das tentações para a impureza, avareza, etc.. Jamais nesta vida elas serão definitivamente mortas. Amanhã poderão e hão de brotar novamente do coração. Mas, sempre nova é para elas a mesma morte, a mesma vitória sobre elas, sempre de novo abraçadas concretamente mediante a fé, e apesar disso representando o “estar morto” e “ter morto”, que se tornou nossa propriedade fundamental pela primeira vez na conversão e no renascimento.