Estudo sobre Colossenses 3:21-22
Estudo sobre Colossenses 3:21-22
“Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem desanimados.” Na índole dos cristãos ainda persiste o modo de ser dos adultos. O abuso da força física e intelectual diante da criança também faz parte dos “membros que estão sobre a terra”, que os pais cristãos podem “ter mortos”. Na sequência Paulo antecipa, com a sabedoria concedida pelo Espírito Santo, a mais moderna psicologia. “Desanimar”, afinal, é uma das principais palavras da psicanálise. Por intermédio de inúmeras pesquisas com pessoas “difíceis” e “nervosas” constatou-se que a aplicação excessivamente dura (ou também excessivamente carinhosa) da superioridade do adulto “desanima” a criança e que desse desânimo brota a maior parte daqueles “recalques”, “complexos de inferioridade” e “distúrbios nervosos” que dificultam a vida das pessoas e também de seu entorno. Pessoas redimidas por Cristo podem ser tão “sóbrias” em sua função de pais que não prejudicarão os filhos nem pela “dureza” nem pela “moleza”. Quem vive debaixo de Cristo também se despiu, com o “velho ser humano”, da vontade de se impor e preservar a própria honra. Aliás, é isso que “irrita” um filho: a percepção instintiva de que estão em jogo não a causa e as necessidades, mas o eu do pai e seus desejos e caprichos egoístas. Quando o filho se vê confrontado com necessidades e verdades divinas, às quais os próprios pais também se submetem, ele aprende – talvez com lágrimas, mas sem “desânimo” – a obedecer.
Naquele tempo obviamente também “escravos” faziam parte da “casa”. O relacionamento com eles se tornava problemático todas as vezes que o cristianismo tomava conta do lar, seja quando o senhor, seja quando o escravo, seja quando ambos abriam o coração para o evangelho. Será que essa questão se tornou particularmente candente em Colossos por causa de sua indústria? Será que a fuga do escravo Onésimo da casa de um líder cristão contribuiu para essa questão, ou será que ela era evidência das dificuldades surgidas? Porventura Onésimo se dirigiu conscientemente ao apóstolo Paulo, e não apenas atravessou por acaso seu caminho em Roma? Não sabemos. Contudo chama atenção que na presente carta Paulo debate a questão dos escravos de forma tão exaustiva como nenhum outro escrito, nem mesmo na carta aos Efésios. Será que por isso o presente trecho se reveste apenas de interesse histórico? Não seria melhor enfocá-lo desde já sob essa perspectiva histórica? Contudo em qualquer estrutura social existem as circunstâncias de superioridade e subordinação, nas quais cabe a um ordenar e determinar, a outro executar e cumprir. Ainda que nos dias de hoje um ser humano graças a Deus não possa mais ser comprado como mercadoria e, sem direitos, entregue ao açoitamento, as relações de dependência entre as pessoas continuam suficientemente complicadas para ambas as partes. Justamente o poder público pode ser um “senhor” muito duro. Precisamente onde a liberdade foi mais alardeada é que as pessoas muitas vezes têm de cerrar impotentemente os punhos, às escondidas ou de forma mais acerba. Hoje as circunstâncias são infinitamente mais complexas (não simplesmente “melhores”) que naquele tempo, quando “senhor” e “escravo” se encontravam frente a frente como pessoas. Tanto mais importante é para nós que Paulo também aqui se restringe a linhas básicas simples, de modo que as diretrizes continuam norteadoras mesmo na confusão da realidade moderna.
Paulo não menciona em nenhum momento a “abolição do escravismo”. Não aconselhou os proprietários em Colossos que chegaram à fé que libertassem seus escravos. Será que devemos criticá-lo por isso? É sempre muito fácil emitir entusiasmadas palavras de ordem, e quem as emite obtém prontamente os louros da fama. Contudo a execução pesa sobre os ombros dos outros. Paulo deve ter constatado as grandes dificuldades: somente uma parcela dos escravos convertidos também tinha proprietários cristãos. Como são penosas as ações isoladas em um sistema global estruturado de modo diferente! Que indagações surgiam quanto à existência posterior dos ex-escravos, da mesma forma como para a vida dos lares e empreendimentos! Acontece que Paulo não queria nem podia ligar essas questões com o evangelho. O evangelho causou fortes consequências políticas e sociais em todas as épocas. Contudo o evangelho sempre é colocado em risco quando essas consequências são visadas diretamente como alvo. Paulo não queria nem escravos que se tornassem “cristãos” esperando vantagens civis dessa conversão, nem senhores que se fechavam de antemão ao evangelho porque ele ameaçava lhes tirar a indispensável força de trabalho. Basta que inicialmente ambos se tornem de fato convertidos e renascidos; então certamente haverá diversas mudanças em sua vida e em seu relacionamento mútuo!
Paulo é bem capaz de explicitar o que o evangelho significa para cada realidade da vida, e quanta luz, alegria e revolução interior ele traz justamente para dentro da mais escura e pesada situação.
Em que consiste essa revolução? Em acabar com a desarmonia e a insegurança interiores que deixam a pessoa tão cansada. O escravo cumpria o que lhe competia, ele obedecia, mas não “em tudo”, porque quando o olhar do patrão não notava, ele se esquivava. Interessava-lhe apenas “agradar o ser humano”. Afinal, respondia apenas ao seu senhor humano. Será que este destino não era injusto ou pelo menos cego, fazendo dele um escravo e do outro, o senhor? Porventura não tinha razão em fazer o menos possível, mantendo-se tão ileso como podia? Desde que agisse bem perante a vista e satisfizesse o proprietário, por que se esforçaria além disso? Contudo assim jamais haverá uma vida satisfatória e de fato realizadora. Esse tipo de vida e trabalho perverte o ser humano, lançando-o em desarmonia e amargura.
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Colossenses 3:21-22