Estudo sobre Colossenses 3:18
Estudo sobre Colossenses 3:18
“E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em obra, [fazei-o] em nome do Senhor Jesus, agradecendo a Deus, o Pai, por ele.” “Em nome de…” é uma expressão frequente cujo teor também nós percebemos quando, por exemplo, uma prisão acontece “em nome da lei” ou uma grave sentença é promulgada “em nome do povo”. Declarar algo em nome de alguém, por incumbência desta pessoa, acontece de tal maneira que a rigor a própria pessoa representada esteja agindo, falando ou reivindicando. Foi o que aconteceu, por exemplo, na cura do mendigo aleijado diante da porta Formosa do templo em At 3. Não foram Pedro e João que tiveram a capacidade e realizaram algo, foi Jesus que o fez por meio da ordem expressa em nome dele. Por isso somente posso dizer ou fazer algo em nome de outra pessoa quando sei que essa é sua vontade e terá aprovação dela. Sim, preciso até mesmo abrir a mente a ponto de imaginar que a outra pessoa está presente, que ela fala pessoalmente através de minha palavra, age através de minha ação. Portanto o “em nome de” também contém uma força divisória. Por exemplo, quando digo uma palavra em nome do meu pai em algum lugar, preciso deixar de dizer muitas coisas que talvez diria, sem muita reflexão, em circunstâncias normais, ou preciso tocar em assuntos que preferiria omitir.
“Fazei tudo em nome do Senhor Jesus” significa, portanto: lembrem-se de que Jesus é “Senhor” em sentido máximo, Senhor sobre toda a sua vida. Um escravo não pode fazer absolutamente nada em seu próprio nome, “arbitrariamente”, pois não possui a “liberdade” para tanto. Pertence integralmente a seu senhor e agora vive para ele. Entre pessoas isso obviamente possui limitações até mesmo se forem “servos da gleba”. Mas Jesus é verdadeiramente “Senhor”, a ele pertencemos por inteiro. E pertencemo-lhe duplamente: por sermos criados “por intermédio dele e para ele” (Cl 1.16) e porque ele nos redimiu da escravidão da culpa empenhando sua própria vida (Cl 2.14). Por isso já não temos a “liberdade” de tomar qualquer iniciativa vivencial a partir de nós mesmos, e tampouco queremos tê-la. Afinal, “nós” morremos, “nós” fomos sepultados com ele no batismo. Como “co-ressuscitados”, porém, vivemos apenas nele e com ele. Logo também já não há mais nada que quiséssemos dizer ou fazer de outra maneira que não “em seu nome”.
Que luz brilha neste instante! Sob essa luz desaparece toda a diferença entre épocas, lugares, coisas, palavras e ações “santas” e “seculares”! Por isso Paulo não aconselhou os colossenses: façam agora todas as coisas religiosas e devotas em nome de Jesus! Tampouco: tentem realizar o máximo possível em nome de Jesus de maneira bem santa! Mas ele escreveu de forma muito enfática: “Fazei tudo o que fizerdes…”. Somente agora entendemos de modo bem prático o que Paulo queria dizer quando ditou a espantosa frase: quem deixa que outros lhe imponham preceitos ainda tem sua vida no mundo (Cl 2.20).
A mais rigorosa santificação por meio de certos preceitos ainda nos faz viver como se basicamente estivéssemos separados de Deus e tivéssemos de encontrar o máximo de “dias sagrados” em que podemos nos dispor para Deus e cuidar para não afundar demais no mundo por meio do maior número possível de ordens como “Não toque! Não experimente! Não mexa!”. Agora, porém, é totalmente diferente. Afinal, agora Cristo é “nossa vida” (Cl 3.4). Não existe absolutamente mais nada “simplesmente mundano”, “distante de Deus” em nossa vida, porque tudo o que fizermos de agora em diante será realmente feito “em nome do Senhor Jesus”, sob o governo e a direção desse Senhor, diante dos olhares dele, em sua presença, “dignos do Senhor para seu inteiro agrado” (Cl 1.10). Sem sombra de dúvida, também nisso acontece o mesmo que no “estar morto”, “ter-se despido” e “ter-se revestido”: tudo é assim por origem e por princípio, razão pela qual agora tem de ser constantemente praticado. É por isso que Paulo também exorta para isso. Devem concretizar justamente isso porque em Cristo o fim da esquizofrenia da vida já é realidade para eles, de forma que a vida se torna integralmente uma vida “em nome de Jesus” e, portanto, “santa”. Nas palavras de Lutero: por isso também podem e devem substituir a santificação “fragmentada e mendiga” por outra total.
Desse modo acabam-se todas as perguntas maçantes da santificação legalista: ainda posso fazer isso? posso aquilo?, todo o desejo pela lista mais exata possível de coisas proibidas e permitidas! Qualquer lugar em que eu possa estar com Jesus, meu Senhor, é bom, ainda que seja um “banquete de publicanos e pecadores”. Qualquer espaço em que eu não possa levá-lo comigo é impenetrável, ainda que seja um espaço moralmente muito “limpo” ou pelo menos “inofensivo”. Não. Para usar palavras ainda mais graves e explícitas: o caminho autônomo e arbitrário decididamente acabou para mim. Já não sou eu quem anda segundo suas opiniões e desejos, ponderando apenas se posso “levar comigo” a Jesus. Jesus é o Rei e o Senhor que conduz e vai na frente, levando-me com ele “em sua marcha triunfal” (2Co 2.14). Aonde ele não me conduzir, para lá eu tampouco já não desejo ir. Todo dia, toda hora é “tempo santo”. O tempo pertence a Jesus, e não desejo mais ter uma “liberdade” em que existo unicamente para mim mesmo ou posso me entregar ao mundo. Segunda-feira à tarde, entre quatro e cinco horas, em meio ao trabalho profissional, é um momento tão “sagrado” quanto o horário do culto na manhã de domingo. A atuação em palavras e obras “em nome do Senhor Jesus” não acontece mais expressivamente no domingo e menos na segunda-feira. Igualmente meu lazer, meu repouso e minha descontração me são concedidos pela mão bondosa de meu Senhor, da qual não me separo em nenhum lugar. Não estou preocupado por levar desvantagem – junto dele, que até mesmo entregou a vida em meu favor e a quem pertence tudo o que é visível e invisível. Tiro também as férias “em nome do Senhor Jesus, agradecendo a Deus, o Pai, por ele”. Posso usufruir alegremente de tudo que consigo receber “agradecendo” dessa maneira, ainda que seja algo “mundano”. Posso realizar tudo como cristão que se deixa alinhar com o nome de Jesus. Mas não desejo fazer nada que eu tenha de ocultar diante de Jesus, meu Redentor, que não combina com o nome dele. Paulo teria considerado profundamente doentia uma vida cristã em que vou experimentando em que medida o Senhor, enfim, ainda “tolera” as coisas que empreendo puramente em meu nome sem que contradiga o nome de Jesus. Ninguém que compreendeu quem esse Jesus é para ele procura âmbitos “neutros” em que se possa mover “sem Jesus”! Não, está em jogo a totalidade de minha “atuação”, em palavras ou obras, e tudo deve ser um agir genuíno e claro em nome de Jesus.
Que mudanças acontecem em uma vida vivida desse modo! É verdade, torna-se uma vida radicalmente “santificada”! Ademais, situa-se muitíssimo acima de toda “santificação” legalista fragmentária e arbitrária. É assim que uma vida de fato se torna viva, rica, preciosa e compensadora. Como é estranhamente triste, desanimada, decepcionada e amarga a vida dos muitos que correm atrás da felicidade e “ousam tudo”, precavendo-se de “tornar-se devotos cabisbaixos”. Uma vida no Senhor Jesus é perpassada de pura gratidão.
Lançamos um retrospecto sobre todo o bloco. Nele Paulo falou diretamente conosco ao dialogar com os colossenses. Não há necessidade de nenhuma tradução especial para a atualidade. Mas como filhos da Reforma, particularmente da Reforma luterana, devemos ouvir mais uma vez: em momento algum Paulo conhece uma “justificação” que fique estacionada antes da vida real ou que paire acima dela como mero arco-íris da graça. A “santificação” não é um “apêndice” de pouca importância dessa vida. Leremos a carta de maneira totalmente equivocada se a fecharmos no final do cap. 2, pensando: essa foi a parte doutrinária, a parte importante, a palavra de nossa redenção e bem-aventurança; agora vem uma série de “exortações”, que já conhecemos, que na verdade podemos dispensar. Não! O cap. 3 é precisamente o alvo visado por Paulo! Aqui neste cap. 3, na “santificação”, decide-se a questão se fizemos a leitura correta do cap. 1 e 2 e de fato os entendemos! A razão é justamente que não existe uma “santificação” legalista qualquer que seja um “acréscimo” à “justificação”, mas que a “santificação” já resida na verdadeira “justificação” e está dada nela e com ela. Quando a “santificação” não nos interessa tanto, isso apenas demonstra que tampouco captamos realmente, no sentido de Paulo, a “justificação”. Pois, de acordo com Paulo, “santificação” não significa realizar, por várias razões consideráveis, isso e aquilo, além da condição de justificados mediante a fé. Pelo contrário, significa viver real e concretamente na justificação mediante a fé. Separar a santificação, como secundária, da justificação, encerrando a carta aos Romanos no cap. 5 e a carta aos Colossenses no cap. 2, significa: não quero mais saber do matrimônio vivido na prática pelo simples fato de, afinal, estar casado! Ora, a circunstância de estar casado somente se torna realidade quando esse matrimônio é vivenciado dia após dia e, sem ele, se resumiria a uma formalidade puramente jurídica. O cristianismo evangélico tem aqui muito a recuperar em termos bíblicos.
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