Estudo sobre 1 Coríntios 15:1-2
1 Coríntios 15:1-2
Será que Paulo concluiu a abordagem de tudo o que era necessário aos coríntios? Respondeu a todas as suas perguntas, considerou todas as aflições da vida eclesial. Agora, porém, defronta-se com uma questão que alcança o alicerce da fé e compromete o centro da própria mensagem.361 Paulo soube que: “Afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos” (v. 12). Isso desafia o apóstolo, ele precisa posicionar-se diante disso. Considerando que já nas questões isoladas da vida eclesial ele fazia uma abordagem ampla, a fim de ajudar a igreja a alcançar uma opinião fundamentada, nessa questão ele precisa proporcionar uma instrução ainda mais sólida e abrangente. Por isto a presente carta apresenta o magnífico capítulo 15. Também esse capítulo acerca da ressurreição dos mortos não é o capítulo de um manual de dogmática, mas é a seção de uma carta que reage a determinadas ideias, concepções e objeções dos destinatários da carta. Porém justamente esse capítulo evidencia ao mesmo tempo porque Paulo se chama de “mestre dos gentios na fé e na verdade” (1Tm 2.7).
Justamente nesse ponto Paulo lança um fundamento bem firme. É seu objetivo mostrar aos coríntios que na questão da ressurreição não se trata de “opiniões” que podem ser divergentes ou de um tópico isolado da doutrina, no qual se poderia tranquilamente pensar de outro modo. Aqui está em jogo o evangelho propriamente dito. Por isso Paulo começa com esse mesmo evangelho: “Anuncio-vos, porém, irmãos, o evangelho que vos evangelizei” [tradução do autor]. Por mais doutrina que possa conter, o evangelho em si não é uma doutrina a ser aprendida, mas é “poder de Deus para a salvação” (Rm 1.16), “loucura de Deus” para a redenção dos “que creem” (1Co 1.21).
Leia mais:
É por isso que ele traz consigo imediatamente a ligação plenamente subjetiva com os coríntios: “o qual também aceitastes e no qual ainda permaneceis, e pelo qual também sois salvos” [tradução do autor].362 O evangelho não é apenas aprendido e decorado, mas “aceito” pessoalmente. É um fundamento de vida sobre o qual “permanecemos”, e não um interessante objeto de conhecimento, mas o único meio da “redenção” da perdição eterna. Será que podemos, então, mudar algo desse evangelho, subtrair-lhe algo?363 No entanto, aqui não se trata de um “algo” qualquer sendo subtraído do evangelho, e tampouco do evangelho em geral e como um todo. Paulo não pretende falar com os coríntios sobre o evangelho em si, mas dirige-se a um ponto bem definido que se tornou questionável em Corinto ou está sendo até mesmo negado. Isso se expressa pela construção da frase, que desde cedo já convidou para alterações e simplificações. Paulo coloca diante dos coríntios o evangelho, asseverando-lhes que eles o aceitaram e que nele permanecem e por meio dele são salvos. Agora, porém, ele lhes dirige pergunta: “Com que palavra em vo-la evangelizei?” Porventura “guardastes” o que eu vos testemunhei? Não percebestes que no evangelho eu vos anunciei precisamente a tal ressurreição dos mortos que agora começais a negar? Ou será que no final de contas “chegastes à fé em vão”, apesar de que há pouco assegurei a vós que estais nesse evangelho? Então teria acontecido algo de cuja real gravidade os coríntios precisam conscientizar-se. Ter chegado à fé em vão, não ter guardado o evangelho em seu inteiro teor significaria não ter sido salvo! De forma enfática, Paulo explicitará isso objetivamente nos v. 14-19.
Índice:
1 Coríntios 15:1-2
Notas:
361 Também para nós é benéfico e necessário reconhecer que uma interpretação diferente da ressurreição possui um efeito fatal.
362 Ao escrever a uma igreja, Paulo pode pressupor tudo isso como fundamento do diálogo escrito. Como é diferente a situação em muitas das igrejas atuais! Por isso, como é difícil o serviço da proclamação e do aconselhamento espiritual entre aqueles que justamente não “aceitaram” o verdadeiro evangelho e não “permanecem” nele!
363 Pelo fato de não vermos mais realmente esse caráter redentor da mensagem, existe entre nós essa facilidade e agilidade de mudar e cortar no evangelho de acordo com as nossas ideias e com as supostas demandas da “pessoa moderna”.