Estudo sobre 1 Coríntios 15:25-26
1 Coríntios 15:25-26
Na sequência Paulo se revela como “quiliasta”.392 Obviamente não está mencionando o período de mil anos de senhorio do Cristo. Tanto agora como em todos os pormenores Paulo é extremamente reservado, mas atesta um domínio real de Jesus “depois” de sua parusia e depois da ressurreição e do aperfeiçoamento da igreja crente. Esse é o senhorio de Jesus que o primeiro cristianismo considerou como profetizado no Sl 110.1. “Porque convém que ele reine ‘até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés’.” Nessa frase, quem é o sujeito da segunda afirmação? É o próprio Cristo que submete todos os seus inimigos durante esse seu domínio real? O retrospecto ao v. 24 inicialmente sugere essa ideia. Contudo, também o v. 24 já poderia estar indicando tacitamente uma troca de sujeito. Aquele que “aniquilou todo o principado, bem como toda potestade e poder” bem poderia ser o Deus e Pai, ao qual Cristo entrega a soberania. Por exemplo, em Ef 1.20s o próprio Deus é aquele que age, que fez Cristo “sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio”. É o que, por coerência, igualmente corresponde ao que diz o próprio Sl 110.1. Contudo a ação de Deus não torna o Filho necessariamente inativo. Também a reconciliação é obra do próprio Deus (2Co 5.19) e, apesar disso, acontece apenas pelo empenho extremo do próprio Jesus. Por isso justifica-se pelo próprio assunto que a pergunta pelo sujeito das afirmações do v. 25b não pode ser inequivocamente respondida. O hino da igreja atesta que “Deus põe tudo debaixo de seus pés”. Ao mesmo tempo, porém, o próprio Jesus é aquele que “soberanamente governa”, que calca seus inimigos debaixo dos pés e somente então entrega o reino ao Pai.393
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“Como último inimigo é aniquilada a morte” [tradução do autor]. Isso não precisa ter o sentido de que a morte em si é “o último inimigo”, o maior e pior de todos eles. No entanto é muito necessário que nós reconheçamos o caráter hostil da morte. Assim como entre nós, cristãos, estamos acostumados a sem maiores problemas ver o mundo atual como reino e mundo de Deus, assim também aceitamos a morte como uma parte da ordem natural, sim, até a transformamos em “amiga”, numa contradição expressa com a Escritura.394 Na verdade ela é e continua sendo o “inimigo”, até mesmo para o cristão redimido, cujo corpo está “morto por causa do pecado” (Rm 8.10) e que por isso precisa passar por aquele “despir”, o desmonte do “tabernáculo”, diante do qual também uma pessoa como Paulo sentia medo (2Co 5.4). De acordo com Hb 2.14 o diabo está por trás da morte como o verdadeiro poderoso. Sua queda no charco de fogo (Ap 20.10) é o episódio mais decisivo porque com isso foram aniquiladas a cabeça e a origem de toda a rebelião contra Deus. No entanto, também de acordo com a exposição do Apocalipse, segue-se então, em Ap 20.14: “A morte e seu reino foram lançados ao charco de fogo.” A própria morte precisa sofrer agora a morte, a morte eterna. Assim ela é o “último” de todos os poderes hostis que são expulsos do mundo de Deus. Por meio da expressão “como último inimigo” Paulo visa dizer que a morte somente pode ser aniquilada depois que forem destruídos todos os demais inimigos, em cujo séquito a morte realizou sua entrada na criação de Deus.
Índice:
1 Coríntios 15:25-26
Notas:
392 A partir do terno grego chilia (“mil”) em Ap 20.6 os que acreditavam no reino dos mil anos eram chamados de “quiliastas”, sendo em grande medida rejeitados pelas igrejas territoriais europeias.
393 É questionável quando a “desmitologização” leva ao ponto de retirar da escatologia seu verdadeiro aspecto de futuro e reivindicar o cumprimento das asserções escatológicas já para a atualidade. Por exemplo, foi afirmado no Dia da Igreja em Colônia em 1965 que “A igreja repetidamente se esquece de que Cristo destituiu os poderes da soberania, transformando o aspecto do mundo em que vivemos.” Não! Cristo somente há de realizar isso no futuro. Por isso em todo o Novo Testamento o “mundo” continua sendo a esfera de poder das trevas, à qual a igreja de Jesus precisa se opor com a máxima vigilância. Cf. Ef 6.10-17; 1Jo 2.15-17; Rm 12.2; Jo 15.18s; 17.9; Gl 1.4; 6.14; Tg 1.27; 4.4.
394 Também a expressão frequente “Deus, o Senhor sobre vida e morte” causa a impressão de que “vida” e “morte” seriam dois fatos de igual importância sobre as quais Deus dispõe. Determinações do AT, como p. ex., Nm 19.13; Lv 21.1-4,10s podem nos mostrar em que oposição santa o Deus vivo se encontra contra a morte.