Estudo sobre 1 Coríntios 15:18-19

Estudo sobre 1 Coríntios 15:18-19


Essa situação se torna grave quando está em jogo nosso destino eterno. Através da anteposição e da ênfase do “por conseguinte” Paulo está mostrando que no v. 18 ele chega a uma última e mais importante conclusão das consequências acima citadas: “Por conseguinte também os que adormeceram em Cristo estão perdidos” [tradução do autor]. Como assim? Será que sem “ressurreição” não existe mesmo um “viver após a morte”, ao qual se pode tranquilamente entregar os irmãos que adormeceram em Cristo? Paulo não afirma que sem a ressurreição de Jesus aqueles que adormeceram não existam mais, e que sem a ressurreição de Jesus tudo teria acabado com a morte. No entanto, afirma algo infinitamente mais terrível do que qualquer apagar da vida pela morte: os que adormeceram “estão perdidos”. Estão perdidos justamente porque continuam existindo, agora como pessoas não-redimidas, ainda oneradas com seus pecados, sujeitas à ira de Deus.384 Na verdade adormeceram “em Cristo”. Isso os coríntios presenciaram no leito de morte deles. Porém isso foi apenas um terrível engano. Esse Cristo em que confiaram ao morrer na realidade não existe. Caem no vazio, na escuridão do reino dos mortos e, sem o perdão de seus pecados, estão perdidos sob a ira de Deus.


Paulo sintetiza: o que será de todo o cristianismo sem a ressurreição de Jesus? Como cristãos seremos “nada mais do que pessoas que esperaram em Cristo nesta vida”. Justamente as esperanças terrenas, porém, não são cumpridas por Cristo. Aquele que foi crucificado neste mundo oferece aos seus apenas a cruz. Por causa dele precisam assumir penúria e renúncias, perseguição e sofrimento, como Jesus lhes disse de antemão. Contudo, se não existir ressurreição dos mortos e tampouco a ressurreição de Cristo, eles o farão realmente em troca de nada. Então são “mais dignos de pena do que todas as (demais) pessoas”. Muito melhor será a sorte daqueles milhões de pessoas que nem sequer conhecem esse Cristo, que não sofrem nem renunciam por ele, mas aproveitam sem ele, da melhor maneira que podem, sua vida terrena e não se iludem com esperanças vãs.

Esse bloco de 1Co 15.1-19 é percorrido por uma linha homogênea. É a linha de um realismo claro e sóbrio. Os coríntios corriam o risco de sucumbir ao que também nós conhecemos bem demais. Também entre nós, para muitos membros da igreja, o “cristianismo” parece ser formado de “ideias” e “opiniões”, que podemos ouvir de maneiras muito distintas do púlpito e da cátedra, e sobre as quais depois traçamos os nossos próprios pensamentos. Se algumas dessas opiniões são plausíveis, adotamo-las; se outras, como p. ex., a ideia da “ressurreição”, permanecem estranhas para nós, riscamo-las. Apesar disso não deixamos de ser “cristãos”, porque decididamente aceitamos outros pensamentos cristãos. Paulo viu o perigo mortal que se projeta justamente dessa maneira sobre a realidade de toda a nossa existência. Na vida cristã não se trata de opiniões, mas de fatos pelos quais nossa vida é determinada agora e na eternidade. Se riscarmos a ressurreição, não será riscada com isso uma ideia que pudesse ser substituída por pensamentos diferentes, mas terá sido tirada a base de toda a nossa salvação. Proclamação vazia, fé vazia, apóstolos carimbados como profetas de mentiras, fardo permanente do pecado, adormecidos perdidos, miséria sem esperança da existência cristã – esses são os escombros que a pessoa inteligente causou com o que ela imagina ser uma operação mental inofensiva – num ponto da doutrina que lhe é incômodo.


Notas:
384 Nesse ponto reside a verdadeira e fundamental diferença em relação à “fé na imortalidade” dos gregos. Essa é a grande ilusão, quando despreocupadamente igualamos a imortalidade da alma, a continuação após a morte, e a “felicidade”. Nesse ponto se desconhece o relacionamento da pessoa com Deus e todo o peso de seu pecado. A “imortalidade” do ser humano, i. é, o fato de que o ser humano justamente não pode fugir diante de Deus na morte e para o nada, que ele tem de “continuar existindo” sem Cristo e assumindo sua responsabilidade, não constitui a felicidade, mas a aflição eterna da pessoa, sua “perdição” definitiva.