Estudo sobre 1 Coríntios 15:12-13

Estudo sobre 1 Coríntios 15:12-13


Paulo confrontou a igreja com a mensagem fundamental que todos os apóstolos anunciam concordemente e que também os próprios coríntios aceitaram e creem. A partir daí investe contra as dúvidas que se manifestaram em Corinto com vistas à ressurreição dos mortos. A partir da posição firme e clara da proclamação e da fé ele dirige a pergunta aos coríntios: “Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?”380

Paulo não deixa transparecer em que sentido e com que justificativa a ressurreição era negada em Corinto. Não se detém para analisar e refutar razões dos adversários. No entanto, fica claro que se trata apenas de inícios de uma perigosa deturpação. Apenas “alguns dentre vós” afirmam: “Ressurreição de mortos não existe.” Os que afirmavam isso não avançaram a ponto de negar a ressurreição de Jesus, e de forma alguma assumiam as consequências de sua afirmação. Paulo combate o erro incipiente demonstrando as consequências inevitáveis e apontando para o fato da ressurreição do Senhor. Paulo evidentemente teme que o erro possa penetrar mais na igreja e causar graves danos. De tudo isso resulta que os referidos coríntios sem “razões” especiais e reflexões mais profundas simplesmente acompanhavam o pensamento e sentimento “gregos”, para os quais a “ressurreição de mortos” era um assunto constrangedor ou ridículo. Cf. At 17.32. Será que era necessário onerar o cristianismo com este fato que era um escândalo para seu contexto de vida, quando na verdade se possuía grandes experiências atuais como, p. ex., o “falar em línguas” ou os profundos pensamentos da “sabedoria” cristã, que podiam impressionar os próprios fiéis e ao mesmo tempo também os de fora da igreja? Em vista de uma atitude interior como a descrita em 1Co 4.8, era possível que se abrisse mão da esperança da ressurreição. Quem não sofre profundamente a dura limitação da salvação atual facilmente perderá a ansiosa “expectativa” da salvação vindoura (1Co 1.7; Fp 3.20; 1Ts 1.10). Para nós é importante ouvir as exposições subsequentes de Paulo com vistas ao que nossa própria época nega ou modifica na mensagem da ressurreição. Então notaremos que a rejeição da ressurreição, por trás das múltiplas e variáveis “justificativas”, em última análise possui sempre a mesma razão verdadeira. A mensagem da ressurreição dos mortos é o ataque mais acirrado contra toda a nossa autoconfiança terrena, justamente também em seu verniz religioso. Ela é também a ruptura e anulação de qualquer visão de mundo fechada, independentemente de ser uma visão “grega” ou “gnóstica” ou “moderna”.


Para Paulo interessa sobretudo que os coríntios vejam a contradição em que estão caindo contra sua própria fé e contra a mensagem que a sustenta. Não se pode negar a ressurreição de mortos e ao mesmo tempo sustentar que Jesus Cristo foi ressuscitado.381 As pessoas em Corinto que hoje rejeitam a ressurreição como tal amanhã também terão de riscar de sua mensagem a ressurreição de Jesus dentre os mortos. “E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou.” Paulo espera que os adversários reconheçam essa consequência. Contudo, espera também que declarem: ainda que esse ponto isolado da mensagem tenha de ser cortado ou modificado em nome da coerência, será que isso altera algo no ser cristão em si? Nesse ponto inicia toda a discordância do apóstolo. Todo seu empenho é mostrar a toda a igreja a corrente das inevitáveis consequências que resultam da negação da ressurreição. Não foi retirada uma pedra isolada do edifício, da qual se possa prescindir sem problemas, sim, que até poderia parecer um estorvo para o prédio.



Notas:
380 É digno de nota que o Novo Testamento nunca diga: Cristo foi ressuscitado “da morte”, mas sempre formula “ressuscitado dentre os mortos”. Nisso se evidencia que o Novo Testamento não pensa em imersão na “morte”, em não-existência, mas conta com o reino dos mortos, no qual também Jesus entrou ao morrer. Agora ele é chamado para fora da multidão infinita de mortos como “primícias” para a nova vida num corpo de glória e para a nova atuação no poder divino. Isso é significativo também para nosso pensamento em vista de nossa própria morte.

381 Isso seria como se por volta da virada do século xix para o século xx alguém tivesse reconhecido os fatos da navegação aérea do conde de Zeppelin e ao mesmo tempo tivesse negado, por princípio, a viabilidade de balões dirigíveis.