v. 1. Paulo e Timóteo: Paulo associa Timóteo a si mesmo tanto como um prezado lolega quanto
alguém que compartilha o seu sentimento de amor pelos filipenses, e
a juem, portanto, ele vai enviar aos seus leitões (2.1-9). Eles são servos
(douloi) de Cristo Jesus, aqueles que livremente
reconhecem o domínio do Senhor sobre eles, com o duplo direito de completa
posse do Senhor sobre eles e de tê-los sempre à sua disposição. Aqui, como
com freqüência nos escritos de Paulo, a ordem é “Cristo Jesus”. Isso o
estabelece como preexistente, mas que ao mesmo tempo se rebaixa e se humilha na
terra. A ordem “Jesus Cristo” o considera desprezado mas depois glorificado
(v. 2.11; At 2.36). A primeira ordem é especialmente apropriada para
essa carta em que Paulo destaca o exemplo da mente de Cristo em sua
auto-humilhação. V. tb. 2.5. (Cf. W. E. Vine, Expository Dictionary,
p. 275.)
Paulo se dirige a três classes de pessoas, santos (hagioi),
bispos (episkopoi) e diáconos (.diakonoi,
“ministros”, que cuidam do bem-estar dos outros). Aqui está de forma bem
simples a constituição de uma igreja. O termo santos é uma
referência a todo o corpo de cristãos que formam o povo santo de
Deus, separado para ele em Cristo. Os bispos (identificados com os
anciãos em At 20.17,28 e Tt 1. 5,7) são um grupo identificável na igreja. Isso não é de
surpreender, pois já em At 14.23 encontramos Paulo e Barnabé apontando
anciãos nas igrejas da Ásia Menor. Os diáconos também são um grupo
identificável, e, de acordo com o uso do NT, incluem os que ministram
as coisas espirituais (cf. ICo 3.5) e as coisas temporais (cf. At 6.3). A
seqüência chama a atenção, visto que os santos são mencionados
primeiro. Os bispos e diáconos existem para os santos, e não os
santos para eles. (V. o artigo “A igreja apostólica”, p. 1499).
A expressão graça e paz (v. 2) combina saudações gregas e hebraicas
conhecidas; o seu tesouro é para todos os crentes.
II. PAULO E A IGREJA DOS FILIPENSES (1.3-26)
1) Gratidão, confiança e oração (1.3-11)
Paulo está tão feliz diante de cada marca da obra de Deus no seu povo
que a gratidão caracteriza todas as suas cartas, a não ser Gálatas. Aqui
ele agradece a Deus toda vez que lembra deles, mesmo que isso
signifique lembranças de açoites e prisões (At 16.23). Com alegria,
toda vez que ora, Paulo lembra deles, pois desde a primeira vez que se
encontrou com eles a sua comunhão tem trazido satisfação para ele. As
palavras “por todos vós” (ARA; na NVI falta “todos”) ocorre
sete vezes na carta; ele não reconhece nenhuma facção, real ou
possível; todo o povo de Deus é precioso para ele. A sua comunhão e a
sua parceria com ele têm sido marcadas pelo interesse especial deles por
ele (4.15, “exceto vocês”), por suas dádivas, sua oração (1.19), por
seu conflito (1.30), e tudo tem sido uma cooperação [...] no
evangelho (v. 5), uma parceria de graça.
v. 6. Estou convencido', sua confiança é forte no fato de que
Deus vai conduzir à conclusão a sua obra neles, o que vai ser visto no dia
de Cristo, na volta dele, pois Paulo sabe que o anseio que ele tem pelos
filipenses é sustentado pelo anseio de Cristo: tenho saudade de todos
vocês, com a profunda afeição de Cristo Jesus (v. 8). Além
disso, eles têm compartilhado com ele quer nas correntes que
o prendiam, quer defendendo e confirmando o evangelho (v. 7),
naquele testemunho corajoso no tribunal ou diante dos homens em geral, de
que o evangelho é verdadeiro. A pureza da motivação de Paulo é demonstrada
por esta afirmação: Deus é minha testemunha (v. 8). Com amor, ele ora
para que o amor deles aumente cada vez mais, não de
forma irresponsável, mas guardado e conduzido em conhecimento e em
toda a percepção (v. 9). Assim, com sensibilidade pelas questões morais,
eles podem discernir o que é melhor (v. 10), distinguindo em que uma coisa é diferente da
outra, e saibam assim escolher o que é de qualidade superior. O seu amor,
então, vai ser puro e intenso na busca do bem do outro. Além disso,
eles serão puros e irrepreensíveis (v. 10) e terão motivações altruístas diante de Deus, e não serão
causa de tropeço para si mesmos ou para os outros até o dia
de Cristo. Finalmente, eles serão cheios do fruto (karpos,
singular) da justiça (v. 11). Isso significa que a justiça produz o
fruto ou que a própria justiça é o fruto? Parece que as duas idéias estão
presentes aqui. Somente aquela “justiça que procede de Deus e se baseia na
fé” (3.9) pode ser adequada para produzir retidão de conduta. Fomos feitos
justos para que nos tornemos justos. Mas esse fruto vem por meio
de Jesus Cristo. Somente nele somos justos, e somente por meio dele a vida
pode ser bela. Tudo isso é para glória e louvor de Deus, para
que a vida dos filipenses possa servir àquele propósito supremo que é o
alvo do próprio Cristo (v. 2.11).
2) As circunstâncias imediatas de Paulo (1.12-20)
Um tom de triunfo marca essa seção. Paulo se alegra na soberania de
Deus que transforma em bem as coisas que poderiam nos desanimar. Ele se
esforça para que o ânimo que recebeu possa ser compartilhado por
eles em seu desânimo. Toda a sua experiência mista tem servido
para o progresso do evangelho (v. 12). Ao lembrarem que as horas de
Paulo no calabouço de Filipos haviam conduzido à conversão do carcereiro,
os filipenses iriam prontamente valorizar esse acontecimento. O evangelho fez
progresso tanto no seu testemunho aos guardas quanto no estímulo
conferido a outros cristãos para pregarem Cristo com mais zelo: tomou-se
evidente a toda a guarda do palácio (v. 13). O Pretório era a
guarda pessoal do imperador, aquela unidade de soldados fortes e às vezes
turbulentos de quem o imperador era o pretor ou comandante-em-chefe. Que
campo missionário eles se tornaram para Paulo! E o seu testemunho foi além
deles para todos os demais, a todos os que ouviram falar
desse prisioneiro. (Se Paulo está escrevendo de outro lugar que não
Roma, então o termo gr. praitõrion aqui significa “residência do
governador”, como em Mc 15.16; Jo 18.28; At 23.35; a formulação da NEB, “a
todos os do quartel-general aqui”, cobre todas as possibilidades.)
O impacto do testemunho de Paulo foi difundido entre os cristãos de
Roma; os irmãos, em sua maioria (v. 14), foram motivados no
Senhor no seu testemunho de Cristo. Contudo, o apóstolo observa duas classes
entre eles. Alguns são motivados por inveja e rivalidade (v. 15); a
sua pregação é feita por ambição egoísta [...] pensando que me podem
causar sofrimento (v. 17). A inveja que eles sentem de Paulo os
impele a tentar ganhar vantagem sobre ele e, assim, deixá-lo
desolado. Outros são motivados pelo seu amor por ele e pela
valorização da posição solitária dele como alguém estabelecido por Deus para
a defesa do evangelho (v. 16). Em ambos os casos, ele encontra razão
para se alegrar no fato de que Cristo está sendo pregado (v. 18).
v. 19. pois sei que o que me aconteceu resultará em minha libertação:
nos lábios de um homem como Paulo, isso significa muito mais do que
livramento de cadeias. Isso é incidental; a sua libertação está
relacionada ao grande propósito da sua vida e consiste em ser
preservado de qualquer falha em honrar Cristo. Isso será atingido graças às
orações de vocês e ao auxílio do Espírito de Jesus Cristo. Em resposta
à oração deles, a provisão (epichorêgia, “rico suprimento”,
“apoio”) do Espírito e suas ricas bênçãos serão derramadas por Deus na
vida de Paulo. A sua ávida expectativa e esperança (v. 20) nos dão o
retrato desse veterano escoriado pela batalha que tem um profundo anseio
agora e sempre: Cristo será engrandecido em meu corpo (v. 20). A
sua preocupação não é se isso significa vida ou morte, mas somente que por
meio dele Cristo seja glorificado diante dos homens e visto na sua
verdadeira grandeza.
3) Paulo e suas perspectivas (1.21-26)
No que diz respeito a ele mesmo, as perspectivas são excelentes. Para
Paulo, a vida encontra toda a sua coerência e significado em Cristo
(v. 21). Isso é que é vida verdadeira. A morte é lucro, pois então aquela
visão momentânea da estrada de Damasco vai se tornar permanente. Se
ele continuar a viver, ele diz, terei fruto do meu trabalho, i.e.,
quanto mais trabalho, mais fruto. O seu dilema é entre duas coisas
boas. Ele está pressionado dos dois lados (v. 23). A sua alegria, o
desejo do seu coração, é partir (analyõ, “levantar
acampamento”, “partir para a última jornada”) e estar com Cristo, o que
é muito melhor do que a experiência mais interessante na terra. Para
os cristãos, a morte é “estar ausentes do corpo e habitar com o
Senhor” (2Co 5.8). Nesse estado desencarnado, a sua condição é
de consciência, de liberdade do pecado e de completude em santidade, e,
além de tudo, da alegria, que a terra não tem igual, de contemplar Cristo
diretamente e habitar em sua presença. Para Paulo, a morte não traz medo, mas somente alegria. Por
outro lado, a alegria e o bem deles estão no fato de ele continuar vivo para
ajudá-los. Afinal, é a alegria dele ou a alegria deles? Essa é a questão,
e defini-la é saber a resposta. Ele vai continuar vivo. O resultado
para os filipenses vai ser a exultação [...] em Cristo Jesus
(v. 26) em virtude da sua bondade em poupar Paulo para eles.
III. EXORTAÇÃO E EXEMPLOS (1.27—2.30)
1) Exortação à coragem (1.27-30)
A escolha altruísta do apóstolo busca dos seus leitores uma resposta
adequada: exerçam (politeuomai, lit. “agir como cidadão”, daí “comportar-se
publicamente”) a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo
(v. 27). O evangelho irradia a dignidade das suas características
celestiais e divinas; assim deve ser a vida de todos os que possuem a cidadania
celestial (3.20). E isso não é de forma alguma impraticável, pois vai se
manifestar na corajosa unidade deles por meio do testemunho do evangelho e
da sua perseverança em meio às perseguições, v. 27. que vocês
permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica-,
unidos em espírito e unidos na alma, unidos na sua percepção do que é
certo, como também na escolha do que é certo. Como Paulo destaca mais
tarde, a tendência deles é lutar entre si; mas eles devem lutar pela fé
evangélica. De acordo com Lightfoot e outros, a fé aqui é
objetiva, aquilo em que se crê, o conteúdo da mensagem do evangelho,
como em Jd 3 (“que batalhassem pela fé”); se for esse o caso, pode ser a
ocorrência mais antiga no NT desse uso da palavra.
v. 28. sem de forma alguma deixar-se intimidar por aqueles que se
opõem a vocês-, os perseguidores se levantavam contra eles e sua mensagem.
Para esses adversários, o deste -mor dos crentes é um sinal (endeixis
“evidência”, “demonstração”) de destruição (apõleia, perdição,
como em 3.19). Por outro lado, vai ser uma evidência da posse que os
crentes têm da salvação, aqui novamente espiritual e eterna, e não
somente a libertação de inimigos. Essa evidência é dada por Deus; só ele
pode conceder tal realidade.
v. 29. a vocês
(enfático pela posição) foi dado (charizomai, dar como favor, ou
marca de aprovação, como em 2.9) como um benefício, o que do ponto de
vista do céu é um privilégio adicional. A sua fé em Cristo
é consumada no seu sofrimento pela causa dele. O conflito deles é
semelhante ao de Paulo. O seu profundo encorajamento em Cristo também
deve ser a experiência deles (v. 30).
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