Livro de Juízes

Livro de Juízes
O Livro de Juízes é o sétimo livro da Bíblia, um dos livros históricos do Antigo Testamento. Narra a história de Israel desde a morte de Josué até o tempo de Samuel, período em que o povo de Israel era governado por juízes.



Introdução

O livro de Juízes, como qualquer outro do Antigo Testamento, é sobre liderança. Juízes, o segundo dos doze livros históricos do Antigo Testamento, descreve doze líderes que Deus levantou em Israel. Não sabemos exatamente quantos anos de história o período de Juízes cobre porque não sabemos a data exata do Êxodo do Egito. Ele cobre um período entre dois e quatro séculos e termina, aproximadamente, em 1050 a.C., época em que foi instituída a monarquia com Saul como rei. Podemos dividir o livro em três partes. Os capítulos 1-2 são introdutórios. Os capítulos 3-16 cobrem o período dos doze juízes, e os capítulos 17-21 mostram o declínio moral que caracterizou grande parte da nação. Para nosso estudo, quero resumir o livro em quatro sentenças e ver o que podemos aprender, principalmente sobre o tipo de líder de que precisamos.

Título

Nos documentos judaicos mais antigos, ele recebe o nome de sepher shophetiym, ou “um livro de Juízes ou governadores” ou simplesmente shophetiym, “Juízes ou governadores”. Orígenes transliterou este título, mas as versões modernas seguiram a Septuaginta, o Peshitta e a Vulgata como base para traduzi-lo. Shophetiym é derivado da palavra hebraica que tem o significado de “julgar, governar, regulamentar”. Os Juízes foram os governadores de Israel desde o tempo de Josué até o reinado de Saul (At 13.19,20). Eles não eram Juízes no sentido moderno, mas lembravam os arcontes entre os antigos atenienses ou os ditadores entre os romanos. Os Juízes dos tempos bíblicos eram comandantes militares com poderes administrativos absolutos, mas seu ofício não era hereditário. Eles também não eram selecionados a partir de alguma tribo em particular, nem mesmo “eleitos” pelo voto popular. Em vez disso, eles eram escolhidos pelo próprio Deus de alguma maneira sobrenatural e governavam estritamente dentro de um arcabouço teocrático. O verdadeiro rei de Israel era Yahweh. Os Juízes eram meramente seus representantes na terra. Eles não tinham poder para legislar ou alterar as leis existentes. Sua única tarefa era cumpri-las. O ofício não foi contínuo porque houve intervalos nos quais nenhum juiz governou naqueles momentos. Os Juízes eram pessoas extraordinárias que Deus levantava em tempos de emergência nacional como instrumentos em suas mãos para libertar Israel da tirania e da opressão. Temos como exemplo Otniel, Eúde, Sangar, Débora (e Baraque), Gideão, Tola, Jair, Jefté, Ibsã, Elom, Abdom e Sansão (Eli e Samuel também foram contados entre os Juízes, mas nenhum dos dois é mencionado neste livro). Temos conhecimento do nome de 14 Juízes, mas, provavelmente, existiram outros anônimos como, por exemplo, o líder que libertou o povo dos maonitas (10.12).


Autoria

Não se sabe quem é o autor de Juízes. Já se supôs que cada um dos Juízes escreveu sua própria história e que a obra atual representa uma coleção desses relatos individuais. Outros estudiosos já atribuíram a autoria a Fineias, a Ezequias e até mesmo a Esdras. O Talmude considera que Samuel é seu autor. Os críticos modernos frequentemente negam a unidade literária deste livro e consideram-no uma “elaborada” compilação de diversas fontes. Alguns desses estudiosos acham que a obra foi finalizada no ano 550 antes de Cristo. O cristão atento vai ponderar sobre os seguintes fatos: (a) Se Isaías 9.4 é uma alusão a Juízes 7.21-25 (a derrota de Midiã), o livro já existia no século VII a.C. (b) Os cananeus viviam em Gezer (1.29); portanto, devemos datar o livro como anterior a 992 a.C., quan do o faraó do Egito presenteou à filha dele, uma das esposas de Salomão, com essa cidade (1 Rs 9.16). (c) Os jebuseus ainda habitavam em Jerusalém (1.21). Desse modo, ele foi  escrito antes de 1048 a.C., quando a fortaleza foi capturada por Davi (2 Sm 5.6-9). (d) A recorrência do refrão naqueles dias, não havia rei em Israel (17.6; 18.1; 21.25; cf. 19.1) aparentemente reflete o período anterior à monarquia, quando suas bênçãos renovadas estavam evidentes a todos. Por esta razão, este autor conclui que as evidências internas (embora não conclusivas) apontam para o reinado de Saul ou de Davi como a data de composição da obra. Alguns podem colocar objeções, ao afirmar que a expressão até ao dia do cativeiro da terra (18.30) refere-se a um tempo posterior, a saber: (a) meados do século VIII a.C., quando Tiglate-Pileser assolou a Galiléia (2 Rs 15.29); ou (b) o ano 721 (ou 722) a.C. quando Samaria caiu diante dos assírios (2 Rs 17.6). Mas a palavra traduzida como cativeiro é um infinitivo, e a passagem poderia ser entendida da seguinte maneira: “... até o dia quando a terra foi devastada”, palavras que poderiam muito bem descrever o Israel dos dias tanto de Débora (4.3; 5.6-8) como de Gideão (6.2-6,11). Não é contraditório nem absurdo presumir que o autor de Juízes possa ter sido inspirado por Deus a usar fontes, mas a notável unidade estrutural sozinha já é suficiente para-descartar como indefensável a hipótese de uma coleção posterior de documentos independentes. 

Tema

O tema central de Juízes confirma a lei espiritual segundo a qual a obediência a Deus traz suas bênçãos, enquanto a desobediência resulta em castigo e maldições (cf. Êx 19:5-6; Lv 26:3-28; Dt 28:1-68). Ao longo de todo o livro, tão certo como a noite vem depois do dia, o pecado do povo é seguido de sofrimento. No entanto, sempre que os israelitas clamam a Deus, ele os atende e os perdoa. Tais realidades são unidas de forma inextricável, indicando que colhem os aquilo que semeamos. Mas, assim como o pecado e o sofrimento são inseparáveis, a súplica e a salvação também andam juntas. Os episódios descritos no livro tratam, ainda, de vários problemas graves enfrentados na África, apresentando os males decorrentes do tribalismo, nepotismo, liderança incompetente, corrupção, má administração, pobreza e potências estrangeiras opressoras. Além disso, Juízes mostra vários problemas morais, retratando líderes escolhidos por Deus, com o Gideão, Jefté e Sansão, que não agiram de acordo com as leis de Deus declaradas no Pentateuco. Ainda assim, Deus operou por meio deles para livrar seu povo. Diante desse mistério, só nos resta agradecer a Deus o fato de ele usar servos imperfeitos para realizar seus propósitos, pois, do contrário, também não poderíamos servi-lo! A consciência disso, porém, não deve tornar-nos acomodados, mas, sim, nos colocar de joelhos em oração. Estamos desfrutando confortavelmente das bênçãos de Deus e, ao mesmo tempo, deixando de honrar a Deus com nossas atitudes e comportamentos? Nosso mau testemunho está levando outros a se afastar de Deus?

Significado: Juízes 1 Juízes 2 Juízes 3 Juízes 4 Juízes 5 Juízes 6 Juízes 7 Juízes 8 Juízes 9 Juízes 10 Juízes 11 Juízes 12 Juízes 13 Juízes 14 Juízes 15 Juízes 16 Juízes 17 Juízes 18 Juízes 19 Juízes 20 Juízes 21

Composição

Estudiosos discernem três estágios. (A) O primeiro é a coleção do salvador (Retterbuch), que incluía primeiramente os relatos de Aod, Débora e Gedeão. Como to das as versões subsequentes do livro, esta foi, até certo ponto, uma coleção exemplar (cf. o motivo do teste em 3,1-2). Uma revisão compreensiva de todos os juízes ainda não estava em vista; note-se, por exemplo, o juiz "perdido" Badã, mencionado apenas de passagem em ISm 12,11. A seção de Otoniel foi escrita como um tipo de resumo ou sumário, e o material de Abimelec foi acrescentado. Os cinco juízes tratados brevemente (10,1-5; 12,8-15) foram acrescentados posteriormente, juntamente com o material de Jefté e, eventual mente, toda ou a maioria das histórias de Sansão foram acrescentadas. A geografia esquemática da forma final era evidente neste último trabalho pré-deuteronomista. Não há mais do que um juiz especificado por tribo, e os inimigos obedecem ao sentido do norte (Aram, 3,8), para o sudeste (Moab, 3,12), para o norte novamente (Hazor, 4,2), então para o sul (Madiã, 6,1) e leste (Amon, 10,7), e final mente para o oeste (Filisteus, 13,1). 7 (B) Os redatores da OHD (Js-2Rs), no final do séc. VII, acrescentaram um prólogo (2:6-3,6, esp. 2:11-19) e escreveram ou reformaram várias seções pontes (3:7-10; 10:6-16; 13,1; 15,20; 16,31), introduzindo, concluindo e esboçando juntos os juízes. A cronologia esquemática e, geralmente, exagerada (provavelmente ligada a lRs 6 e calculada retroativamente a partir daí) é também deuteronomística (ver Richter, Retterbuches 132­ 41; de Vaux, EHI 689-92). Os quatro séculos e meio das supostas ações do livro devem cor responder a um espaço histórico de dois séculos. Os editores pós-deuteronomistas, trabalhando em uma situação muito diferente daquela de seus predecessores, reformaram muitas passagens na história como um todo, mas fizeram pouco em Juízes (note 18,30).

Eruditos pós-deuteronomistas acrescentaram a primeira introdução ao livro (1:1­, 2:5), que quebra o fluxo de Js 24,28 a Jz 2,6, e o epílogo, caps. 17-21, que interrompe a sequência de Jz 16:31 (Sansão) até ISm 1,1 (Eli, o próximo juiz). Este material acrescentado pode ser pré-exílico em sua origem e, de fato, é bem antigo. E por causa desse material que derrubou o alcance cronológico que os estudiosos se referem aos capítulos 17-21 (e às vezes o 16). Estas adições dão ao livro sua forma global descronologizada. A localização de Dã, por exemplo, primeiramente se pensava que fosse ao sul (1,34), e então ao norte (5,17), novamente ao sul (13,25; 18,2), e depois novamente ao norte (18,28); geralmente pensa-se que Dã estava inicialmente ao sul e então migrou para o norte. Sobre a OHD, ver M. Noth, The Deutero nomistic History (JSOTSup 15; Sheffield, 1981); F. M. Cross, CMHE 274-89; R. E. F reedman, The Exile and Biblical Nanative (HSM 22; Chico, 1981); Gottwald, Tribes 142-75.

Conteúdo

O livro começa com um resumo da conquista israelita de Canaã (Jz 1:1-2; 5). Registradas são a invasão do sul por Judá e Simeão (1:1-21), a conquista incompleta pelas tribos de José, Efraim e Manassés (vv. 22-29), e as fortunas das tribos do norte (incluindo Dan, aqui). ainda localizado a oeste de Benjamim, ao longo da planície filisteia, vv. 30-36). A introdução conclui com uma avaliação religiosa da Conquista:tendo desobedecido a ordem de Yahweh de não fazer nenhum pacto com a população indígena, Israel agora os enfrentaria como adversários (2:1-5).

O núcleo do livro centra-se nas atividades dos vários juízes (hebr. Šp̱eṭîm, do qual deriva o seu nome) que “salvaram” e “julgaram” (ou “governaram”) Israel na época da Confederação (2:6–16:31). Uma introdução teológica (2:6–3:6) distingue os israelitas do tempo de Josué da geração atual (2:6–10) e estabelece o padrão cíclico da desobediência de Israel, uma punição divinamente designada, arrependimento e o envio de uma “Salvador” e um período de “descanso” sob a administração do juiz (vv. 11-19); 2:20–3:6 vê os eventos a seguir como o “teste de Israel” de Javé. Seguem resumos das carreiras de dois juízes “principais” - Othniel de Judá, que libertou Israel da opressão por Cushan-Rishathaim (3:7–11), e o benjaminita Eúde, que frustrou o rei Eglom, de Moabe (v. 12-30) - seguiu-se uma breve menção a Shamgar, que massacrou seiscentos filisteus (v. 31). Caps. 4–5 relata a derrota de Sísera e dos cananeus na planície de Esdrelon, Débora de Issacar, auxiliada por Baraque de Naftali; CH. 4 é uma conta em prosa e ch. 5 o século XII aC Canção de Débora. A narrativa referente a Gideão (Jerubaal) de Manassés (6:1-8:32) inclui um relato detalhado de seu chamado e a expulsão dos midianitas invasores (caps. 6-7), o desprazer dos efraimitas por não ser convocado mais cedo (8:1-3), a contínua busca de Gideão pelos midianitas (vv. 4-17) e sua recusa em aceitar a realeza (vv. 22-23). Por outro lado, seu filho Abimeleque busca abertamente a realeza, massacra a todos, mas Jotão, de seus setenta irmãos, reprime a rebelião em Siquém e é mortalmente ferido por uma mulher em Tebez (cap. 9). Breve aviso é feito dos juízes Tola de Issacar e Jair de Gileade (10:1–5), seguidos de uma introdução aos cinco juízes remanescentes:a apostasia de Israel e a resultante opressão (vv. 6–16). A próxima pericopia relaciona a convocação de Jefté, filho ilegítimo de Gileade e líder de um grupo fora da lei em Hauran, e sua derrota dos amonitas (10:17-11:33); O infeliz voto de Jefté (vv. 30–31, 34–40); e sua punição dos recalcitrantes efraimitas (o incidente de “Shiboleth”; 12:1-6). Os juízes Ibzan de Belém (em Judá), Elon de Zebulom e Abdon de Efraim são mencionados nos vv. 8–15. A carreira de Samson de Dan é preservada em chs. 13–16:seu nascimento e voto de nazireu (cap. 13), seu casamento com uma mulher filistéia e vários feitos poderosos contra os filisteus (caps. 14–15), seu relacionamento e traição por Delilah (16:4–22) e sua destruição do templo filisteu de Dagon - e ele mesmo (vv. 23-31).

Os capítulos finais registram outros eventos do período. Para expiar o roubo de prata de sua mãe, Miqueias, o efraimita, constrói um santuário e alista um levita como sacerdote (capítulo 17); os danitas migram para um novo território no norte, sequestro no levita de Micah e o instalam como sacerdote de seu santuário em Laish (cap. 18). Caps. 19–20 relata o assassinato por estupro da concubina de um levita pelos benjaminitas de Gileade e as guerras punitivas das outras tribos contra Benjamim; Cap. 21 retrata medidas para obter esposas para os benjaminitas e assim preservar a tribo.

Interpretação: Juízes 1 Juízes 2 Juízes 3 Juízes 4 Juízes 5 Juízes 6 Juízes 7 Juízes 8 Juízes 9 Juízes 10 Juízes 11 Juízes 12 Juízes 13 Juízes 14 Juízes 15 Juízes 16 Juízes 17 Juízes 18 Juízes 19 Juízes 20 Juízes 21

Contexto

Os eventos registrados no livro de Juízes fornecem informações sobre o período formativo de Israel em Canaã (séculos XII a XI). Os vários relatos concordam com a compreensão do Israel antigo como uma confederação solta de tribos basicamente autônomas (por exemplo, 17:6; 21:25, “todo homem fez o que era certo aos seus próprios olhos”; cf. também as variedades da prática religiosa eg, caps. 17-18). Embora os juízes sejam retratados como entregando ou governando “o povo de Israel”, as narrativas sugerem que suas esferas de influência na verdade estavam limitadas a uma tribo particular (cf. 3:27-29; 12:8-15) ou uma coalizão improvisada. (por exemplo, 5:13-18; 6:34-35). Casos de amargo conflito entre as tribos (12:1-6; cap. 20) são temperados pela preocupação com a sobrevivência da comunidade da aliança (cap. 21).

As referências cronológicas no livro de Juízes, que totalizam 410 anos, são difíceis de correlacionar com um período de pouco mais de dois séculos entre o Êxodo e o reinado de Saul, delimitado por fontes literárias e arqueológicas. Algumas das figuras dadas podem ser números arredondados ou figurativos (por exemplo, quarenta, oitenta e vinte anos, provavelmente múltiplos de uma geração padrão); no entanto, mesmo se uma geração fosse considerada de forma mais realista aos vinte e cinco anos, o total não poderia ser razoavelmente reduzido para menos de 280 anos. Isso sugere que os julgamentos individuais não eram apenas restritos geograficamente, mas também frequentemente contemporâneos.

Contexto Socio-Histórico

O cenário histórico e social. Josué e Juízes são as principais fontes para a re construção do período entre 1200 e 1050. Outras fontes incluem o estudo geográfico (Geografia Bíblica, 73:70-81), achados arqueológicos da primeira metade do Período do Ferro I (Arqueologia Bíblica, 74:94­-111), e reconsiderações de dados geográficos básicos inspirados pela arqueologia (ver, p.ex., C. L. Meyers, BASOR 252 [1983] 47-59). Os principais eventos contemporâneos na Palestina e na Transjordânia são reações às calamidades da época do Bronze Tardio; na visão bíblica, o principal acontecimento foi o estabelecimento de Israel como um povo Cam, 2,6,7; 5,11; 14,3; 20,2, etc.) ou nação (gôy, 2,20). Josué apresenta este acontecimento como um evento amplamente militar, enquanto Juízes 1 o vê como um processo lento e mais com plexo. A oposição entre estas visões tem sido exagerada; como observado acima, a primeira introdução se mantém fora da estrutura cronológica das edições mais antigas do livro e, assim, sua reivindicação histórica é difícil de especificar.

O restante de Juízes apresenta uma visão de Israel como uma federação, uma associação de tribos com uma descontínua autoridade central de ué modo que a liderança interina é proporcionada pelos juízes. (Esforços para associar esta federação com as confederações gregas arcaicas têm sido amplamente desacredita dos; ver A. D. H. Mayes, em I JH 297-308; Juízes 56-62.) Os relatos são contos de juízes liderando uma tribo ou um grupo de tribos; o maior grupo está no cântico de Débora e inclui, aparentemente, todas as tribos do norte, expeto Judá e Simeão. A estrutura editorial expandiu o escopo das atividades dos juízes para todo o Israel. O sistema social implícito em Juízes tem sido mais proveitosamente estudado no contexto de outras estruturas sociais pré-indus triais; o Israel primitivo foi um grupo de cultura amplamente agrícola e não urbano, uma sociedade camponesa. As estruturas tribais e suas similares (chamadas pelos antropólogos de “estruturas segmentarias”), refletem uma variedade de circunstâncias, incluindo o local e a ideologia juntamente com o parentesco.

Os líderes que surgem em tais sistemas são temporários e seu serviço é baseado não em uma posição herdada (como um rei o é) nem em estruturas permanentes (tal como as eleições em uma oligarquia ou democracia), embora nelas haja uma tendência a considerar “juízes menores” como funcionários públicos (ver abaixo). Max Weber (1864-1920), o cientista social alemão, chamou a base para tais lideranças de “carisma” seguindo a palavra neotestamentária para o dom divino. Nessas últimas décadas a noção de liderança carismática tem sido rebaixada à vulgariza­ção como charme ou popularidade; no entanto, a visão dos juízes como líderes caris máticos reflete algo da visão dos escritores bíblicos. O abandono, por parte de Israel, de uma sociedade segmentada foi motivado por vários fatores, embora os historiadores bíblicos se refiram mais frequentemente à pressão interna dos filisteus. Assim, a nação acompanhou os estágios de liderança (sob Saul e Davi), do estado central completo (sob Davi), e do império (sob Salomão). 9 Dois pontos de importância literária às vezes obscurecem o estudo histórico:

(1) Os ciclos deuteronomísticos de pecado-aflição-salvação, etc., são freqüentemente descartados como inteiramente artificiais. Embora a insistência no pecado reflita uma visão teologizada da história, o entendimento cíclico não deve ser rejeitado: “O contexto desta estrutura não é, necessariamente, (apenas) a expressão de um conceito ideológico tardio... Ele possibilita e, provavelmente, até mesmo contenha reflexões autênticas e elementos preservados da antiga realidade histórica” (Malamat, “Charismatic”155). (2) Algumas figuras são tratadas de forma extensa e outras de forma bastante breve. Desta diversidade, os eruditos têm tentado extrapolar a noção de duas classes de juízes: maiores (os carismáticos e militares) e menores (jurídicos e oficiais eleitos). Um estudioso escreve: “Há, essencialmente dois diferentes tipos de registro literário e dois diferentes tipos de indivíduos” (Mayes, Juízes 17). Na verdade, a extrapolação dos dois tipos de pessoa é ilegítima (ver Boling, Judges 7-9; E. T. Mullen, CBQ 44 [1982] 185­, 201), como é fortemente sugerido pelo conhecido desacordo acerca de quem é o menor juiz. Todos os eruditos incluem os cinco juízes de 10,1-5 e 12,8-15, mas muitos acrescentam, por uma variedade de razões, Jefté, Otoniel, Samgar, Sansão, ou algumas dessas combinações. Na realidade, a distinção maior/menor não é historicamente útil.

Aspectos Literários

Uma grande variedade de material é preservada no livro de Juízes, incluindo o que pode ser uma testemunha ocular. Com base em seu estilo arcaico e alusões históricas, o Cântico de Débora (5:2-31) foi datado de ca. 1125, tornando-se uma das porções mais antigas do Antigo Testamento. Outras contas podem ter sido preservadas como tradição oral pelas várias tribos e clãs. De fato, a fábula de Jotão (9:7–15) e os enigmas de Sansão (14:14, 18; 15:16) sugerem tradições preservadas no folclore tribal.

As várias narrativas foram preservadas dentro de uma estrutura teológica caracterizada por um padrão clássico: o povo de Israel “fez o que era mal” servindo a outros deuses, um Yahweh enfurecido envia uma nação estrangeira para puni-los, o povo clama ao Senhor por ajuda , ele levanta um libertador que derrota ou expulsa o opressor, a terra tem descanso. Estudiosos têm procurado nos sumários dos doze juízes uma tentativa esquemática de representar todo “Israel”, com um juiz para cada tribo, mas isso é problemático; os gileaditas Jair e Jefté podem representar o leste de Gileade e Gade, o vagamente identificado Shamgar pode se alinhar com Rúben ou Simeão, e Débora de Issacar pode ser associada a Naftali através de seu general Baraque. Essa intenção também pode explicar a inclusão dos juízes “menores” - talvez mais uma indicação do acesso do compilador às tradições do que ao real significado desses indivíduos. Outros padrões literários também foram propostos, como a alternância de juízes exemplares e não exemplares (por exemplo, Othniel e Ehud, Jefté e Sansão).

Embora o texto hebraico dos juízes seja considerado há muito tempo preservado, os principais manuscritos da LXX (Alexandrino e Vaticanus) são amplamente divergentes e, portanto, ambos são impressos em edições modernas. Alexandrino é geralmente considerado mais confiável.

Origem

A tradição rabínica atribui juízes ao profeta Samuel, mas o livro em si não contém referência à autoria. Estudiosos críticos anteriores viram em seus vários componentes semelhanças com as fontes do Pentateuco e assim a consideraram, com Josué, como parte de uma obra maior, continuando (se não concluindo) a narrativa iniciada em Gênesis. Estudiosos recentes colocam o livro dentro da “história deuteronômica”, Josué - 2 Reis.

Referências aos eventos registrados antes do estabelecimento do reinado em Israel (18:1; 19:1) sugerem que o livro foi composto na época da Monarquia Unida. Acadêmicos críticos, identificando o arcabouço teológico do livro com o trabalho do historiador deuteronômico (s), apontam para novas etapas de edição nos séculos oitavo-sétimo e sexto.

Teologia

O livro dos Juízes deve ser considerado como história religiosa, como é prontamente aparente a partir da estrutura dada às carreiras dos juízes. Essa orientação teológica também pode explicar a divergência entre a descrição da conquista israelita em 1:1–2:5 e a de Josué. 14-15.

Por toda parte Deus é retratado como soberano sobre a história, empregando povos não-israelitas como seus instrumentos para testar e punir seu povo do convênio. Central em sua direção de eventos históricos é a fidelidade de Israel ao relacionamento de aliança:quando Israel desobedece, Deus castiga; quando o povo se arrepende e obedece, ele envia um libertador, demonstrando assim sua própria fidelidade constante (2:1–5, 11–19; 2:20–3:6).

Propósito

Este livro apresenta-nos uma época quando não havia rei em Israel (18.1) e cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos (21.25). É uma história escrita a partir de um ponto de vista religioso. Seu propósito divide-se em três partes: primeiro, ele mostra a necessidade de haver líderes consagrados. Este livro é um triste comentário sobre a futilidade de se tentar fazer uma obra permanente para Deus com a ausência de uma forte organização central. Sem a liderança apropriada, o resultado é a confusão civil e o caos moral. Israel precisava de liderança contínua; a igreja de hoje precisa de um ministério ordenado, de obreiros e de ordenanças (1 Co 14.40). Quando empregadas adequadamente, essas coisas tornam-se canais para a bênção espiritual e o crescimento, em vez de se colocarem como empecilhos. O protestantismo livrou-se das cadeias do papado; que ele agora esteja ciente de que não deve ir para o extremo oposto e afastar-se dos meios da graça. Em segundo lugar, esta obra concentra nossa atenção na longanimidade de Deus. Se Jó enfatiza a paciência do homem, o livro de Juízes apresenta a paciência de Deus. A nota principal desta obra é a desobediência. As expressões chaves são: (a) fizeram os filhos de Israel o que parecia mal, (b) a ira do Senhor se acendeu, (c) os filhos de Israel clamaram ao Senhor e (d) levantou o Senhor juízes, que os livraram da mão dos que os roubaram (2.11,14; 3:15; 2.16). Seis servidões e o mesmo número de libertações são registradas em detalhes “para aviso nosso” (1 Co 10:11). A sequência normal é: (a) apostasia, (b) servidão, (c) aflição, (d) oração, (e) libertação. A palavra chave é repetição. O esquema geométrico é um círculo. A missão principal é: “guardai-vos dos ídolos” (1 Jo 5.21). Uma vida separada sempre é o preço de uma vida vitoriosa (2 Co 6:17). Uma vez que “tudo isso lhes sobreveio como figuras” (1 Co 10:11), nenhum de nós deve abusar - pois Deus é justo - e nem se desesperar - pois o Senhor é misericordioso. Em terceiro lugar, este livro é um testemunho do fato de que, até mesmo numa era de profunda apostasia, ainda existiam alguns poucos que se apegavam à fé e à adoração ao Deus verdadeiro (10:10-16; 1Rs 19:18). Pode-se encontrar evidência para isso nas seguintes considerações: (a) o tabernáculo foi mantido em Siló (18:31); (b) pelo menos uma das festas anuais era celebrada (21.5); (c) o ritual da circuncisão foi observado (14:3; 15:18); (d) os sacrifícios eram oferecidos (11:31; 13:15,16,23; 20:26; 21.4); e, (e) os votos com o Senhor foram mantidos (11:30; 13:5).