Apocalipse 21 — Comentário Bíblico Online

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Apocalipse 21 

Uma mudança surpreendente de tópico ocorre nesse momento. Começando com a abertura dos sete selos (cap. 6), vimos quase que exclusivamente apenas desordem e tribulação, julgamento e morte. Agora, um novo e eterno estado é apresentado; o velho passou para sempre.
a) As coisas antigas já passaram (21.1-4). João viu um novo céu e unia nova terra (1). Já lemos que “fugiu a terra e o céu, e não se achou lugar para eles” (20.11). Isso é reiterado aqui: Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram. Céu aqui não significa o lugar eterno de Deus, mas o espaço astronômico que o homem está agora preocupado em explorar com telescópios e naves espaciais.
O conceito de um novo céu e uma nova terra é encontrado no Antigo Testamento. Isaías profetizou em nome do Senhor: “Porque eis que eu crio céus novos e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão” (Is 65.17). Pedro também faz referência a isso (2 Pe 3.13).
A palavra para novo não é neos, que descreve algo “que veio a existir recentemente”, mas kainos, que ressalta “qualidade, o novo, como contrastando com o que é desfigu­rado pelo tempo”.212 Tudo precisava ser completamente novo.
Pode parecer estranho o acréscimo da seguinte frase: e o mar já não existe. Mas para os antigos, sem bússolas ou outros instrumentos modernos de navegação, o oceano causava grande terror. Para muitos, o mar era um lugar de morte (cf. 20.13). Especial­mente para João ele significava separação de casa e dos seus companheiros cristãos da Ásia Menor. Na nova ordem, não haverá nem morte nem separação.
O relato continua: E eu, João, vi a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido (2). A nova Jerusalém toma o lugar da antiga “Babilônia” (caps. 17-18) como a gran­de metrópole. Jerusalém já tinha sido mencionada como uma cidade “que desce do céu, do meu Deus” (3.12).
Para o povo antigo do Oriente, não havia nada mais bonito do que uma esposa ataviada para o seu marido. Anteriormente, João tinha escrito que a esposa do Cordeiro havia se aprontado (19.7). Agora, ele vai vê-la em toda a sua glória. A descrição das suas vestes ornamentais já começa em 19.8. Uma das características do livro de Apocalipse é a menção por antecipação daquilo que mais tarde é descrito em detalhes.
João ouviu um anúncio importante: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus (3). Esse é um claro paralelo com Levítico 26.11,12; Jeremias 31.33; Ezequiel 37.27; Zacarias 8.8. Há, no entanto, uma mudança significativa. Na Septuaginta, em cada uma dessas passagens do Antigo Testamento encontramos a pala­vra laos, “povo”. Mas aqui em Apocalipse, o povo é chamado de laoi (plural). O povo de Deus não era formado apenas por Israel, mas pelos povos redimidos de todas as nações.
Tabernáculo é skene. Habitará é skenosei — literalmente, “habitará no tabernáculo”. No deserto, o Tabernáculo sempre era montado no centro do acampamento de Israel. A Shekinah no Santo dos Santos do Tabernáculo era o símbolo da presença de Deus no meio do seu povo. Agora Cristo é o “verdadeiro tabernáculo” (Hb 8.2), ou o “mai­or e mais perfeito tabernáculo” (Hb 9.11). Ele é Emanuel, “Deus conosco” (Mt 1.23). A figura que João vê aqui é a obra completa da redenção comprada por Cristo por um preço tão elevado. O propósito final disso tudo era que homens redimidos pudessem viver para sempre na presença do seu Criador.
Ele é “o Deus de toda consolação” (2 Co 1.3). Assim é dito nessa passagem: E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas (4). Muitas vezes tem sido ressaltado que muitas coisas que têm o seu início nos três primeiros capítulos de Gênesis têm o seu fim nos últimos dois capítulos de Apocalipse. Um exercício muito produtivo é fazer uma lista de todas as coisas que não haverá mais, e então ver quantas dessas coisas podem ser encontradas em Gênesis 1-3.
b) Todas as coisas novas (21.5-8). A declaração veio daquele que estava assentado sobre o trono: Eis que faço novas todas as coisas (5). Swete observa: “O Narrador é agora, provavelmente pela primeira vez em Apocalipse, o próprio Deus”.2” Ele já tinha dito por intermédio de Isaías: “Eis que farei uma coisa nova” (Is 43.19). Mas isso se aplicava somente à nação, agora inclui todo o universo.
João recebe a ordem para escrever: porqte estas palavras são verdadeiras e fiéis. Isso é repetido em 22.6. Essa frase é parecida com o que João escreve no seu Evangelho: “Na verdade, na verdade”.
Está cumprido (6) é literalmente: “Elas se cumpriram”. A mesma expressão ocorre em 16.17, mas lá o verbo está no singular, “Está cumprido”. Pelo que tudo indica, aqui o sujeito é “todas as coisas” feitas novas. Nos dois casos, a ênfase está nas profecias cumpridas. O Alfa e o Omega é repetição de 1.8 (veja comentários lá). O significado disso é expresso como: o Princípio e o Fim (telos, alvo). Deus é o Criador e o Alvo da vida. Paulo expressou a mesma ideia em Romanos 11.36: “Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas”.
Uma promessa maravilhosa é oferecida: A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida. Swete observa: “A Fonte e o Fim de toda vida é o generoso Doador da vida em sua mais completa perfeição”.214 Quando Deus dá — e Ele está sempre dando — Ele o faz generosa e gratuitamente.
Quem vencer (7) nos lembra da promessa feita ao vencedor em cada uma das cartas às sete igrejas (2.7, 11, 17, 26; 3.5, 12, 21). Aqui a promessa inclui todas as outras: herdará todas as coisas. O melhor texto grego traz: “essas coisas”; isto é, as coisas da nova criação que João tem considerado. Todas as bênçãos do novo céu e da nova terra pertencem ao que vence. A salvação inicial não é suficiente. Aquele que perseverar até o fim será salvo e desfrutará das bênçãos eternas que a salvação traz (Mt 10.22).
O verbo herdará ocorre somente aqui em Apocalipse. Dalman insiste que uma tra­dução melhor é “tomará posse de”, e observa que “possuir o próprio eu da era futura” era uma expressão judaica popular.' Mas a ênfase de Paulo de que o cristão, como filho, é um “herdeiro de Deus” (Rm 8.17; G14.7), favorece a tradução costumeira aqui. Porque a voz continua: e eu serei seu Deus, e ele será meu filho.
Segue então uma lista considerável daqueles que terão a sua parte [...] no lago que arde com fogo e enxofre, o que é a segunda morte (8; cf. 20.14). Devemos destacar que a lista é encabeçada pelos tímidos. A palavra grega (deiloi) significa (covardes). Swete diz que eles são “membros da Igreja que, como soldados que voltam as suas costas para o inimigo, fracassam diante da prova [...] os covardes [...] no exér­cito de Cristo”.216 O segundo da lista são os incrédulos, que também podem ser inter­pretados como os “infiéis”. Esses dois estão arrolados com os mais vis pecadores ­uma advertência muito séria.
2. A Nova Jerusalém (21.9-22.5)
A descrição da nova Jerusalém estende-se pelo restante desse capítulo até o início do seguinte. Ela é um quadro pintado com cores vivas e tem despertado a imaginação de muitos.
a) A noiva gloriosa (21.9-14). E veio um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias [...] e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei (9). Tudo isso é repetição textual (no grego) de Ap 17.1. Lá era a grande prostituta que o anjo mostrou a João; aqui é a noiva pura do Cordeiro. A semelhança da fórmula introdutória somente serve para ressaltar o contraste impressionante entre as duas visões.
João foi levado em espírito (cf. Ap 1.10; 4.2; 17.3), — não no corpo — a um grande e alto monte (10); isto é: ele foi elevado em espírito para que pudesse observar em deta­lhes essa visão maravilhosa. Lá ele viu a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu (cf. v. 2). O fato de essa Jerusalém ser identificada como a esposa (noiva), a mulher do Cordeiro (9), não nos deixa interpretá-la literalmente. O que segue é uma representação simbólica da beleza e glória da noiva de Cristo refletida na imagem do seu lar — a cidade eterna de Deus.
A esposa (noiva) é descrita como tendo a glória de Deus (11). Isso nos lembra as palavras de Paulo em Efésios 5.27: “para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa”. Assim será a noiva de Cristo nas bodas do Cordeiro (cf. 19.7, 9). A glória de Deus é sua presen­ça Shekinah no meio do seu povo. Toda verdadeira glória que temos é derivada dele.
Agora é feita uma tentativa de descrever, em termos materiais, algo da beleza espiritual da noiva. João diz que a sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente. A combinação das duas últimas frases tem causado alguma dificuldade aos comentaristas porque a pedra de jaspe moderna não é transparente. Simcox escreve: “Embora a pedra de jaspe seja a mesma palavra no hebraico, grego, latim e outras línguas modernas, parece que ela mudou sua aparência. A mais preciosa pedra de jaspe era uma calcedônia verde escura bastante transparente. Nossa pedra de jaspe fosca, a vermelha pura, a verde e negra pura, eram todas usadas na gravação”.217 Tudo que podemos dizer é que essa pedra de jaspe era de grande valor e brilhante.
A cidade tinha um grande e alto muro com doze portas (12), guardadas por doze anjos, e nomes escritos sobre elas (i.e., nas portas), que são os nomes das doze tribos de Israel. Havia três portas (13) em cada um dos quatro lados da cidade. Grande parte dessa descrição é bastante parecida com o que lemos em Ezequiel acerca da nova Jerusalém (Ez 48.31-34). Em relação às doze tribos, Swete diz: “O objetivo do vidente em relação às tribos é simplesmente defender a continuidade entre a Igreja cris­tã e a Igreja do AT”.'
O muro da cidade tinha doze fundamentos e, neles, os nomes dos doze após­tolos do Cordeiro (14). Jesus disse aos seus apóstolos: “também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel” (Mt 19.28). Paulo escreveu que a Igreja é edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas” (Ef 2.20). O simbolismo das doze tribos de Israel (12) e dos doze apóstolos do Cordeiro (14) aponta para a nova Jerusalém.
b) As dimensões da cidade (21.15-21). O homem que falou com João tinha uma cana (vara) de ouro para medir a cidade, e as suas portas, e o seu muro (15). A cidade estava situada em quadrado; na verdade, o seu comprimento, largura e altura eram iguais (16). Essa cidade estava no formato de um cubo perfeito, como era o Santo dos Santos no antigo Tabernáculo. Isso talvez sugira a perfeição e santidade da Igreja. A medida era de doze mil estádios (stadia), que equivale a aproximadamente 2.260 km. Alguns acreditam que esse número representa a circunferência da cidade. Mas a maneira mais natural seria aplicar esse número a cada medição.
O muro media cento e quarenta e quatro côvados, conforme a medida de homem, que é a de um anjo (17; “segundo a medida humana que o anjo estava usan­do”, NVI). Um côvado representava meio braço, cerca de 45 centímetros. Assim, essa medida seria de cerca de 65 metros. Uma vez que a altura da cidade já foi apresentada, é possível que essa medida se refira à espessura do muro. De acordo com o historiador grego Heródoto (i. 178), a antiga cidade da Babilônia tinha muros de 90 metros de altura e 23 metros de espessura.
E a fábrica do seu muro era de jaspe (18). O grego para fábrica é uma palavra rara, endomesis, encontrada somente aqui (no NT). Uma vez que o verbo endomeo signi­fica “construir para dentro”, parece que o sentido aqui é que o muro tinha jaspe “embuti­da” nele. Lenski traduz essa frase da seguinte forma: “A introdução do jaspe tornou o muro mais brilhante como uma pulseira adornada com diamantes”.'
Também lemos que a cidade era de ouro puro, semelhante a vidro puro ­“i.e., ouro que resplandecia com um brilho semelhante a um vidro altamente poli­do”.' João pode ter pensado na abóbada de ouro do Templo, como a havia visto bri­lhando à luz do sol. Josefo escreveu: “A parte exterior na fachada do templo [...] era toda coberta com lâminas de ouro de grande valor, e, ao nascer do sol, refletia um brilho impressionante”.'
Em seguida, temos uma descrição dos fundamentos do muro da cidade (19). Eles estavam adornados (cosmeo, de onde vem a palavra “cosmético”) de toda pedra preciosa. Segue então uma lista das doze pedras que descreviam os doze fundamentos (vv. 19-20). Oito dessas pedras constavam entre as doze pedras do peitoral do sumo sa­cerdote que ministrava no Tabernáculo (Êx 28.17-20).
R. H. Charles ressalta o fato de essas doze pedras no livro de Apocalipse serem exatamente as mesmas que eram encontradas nos monumentos egípcios e árabes e que estão conectadas aos doze sinais do zodíaco — mas em ordem reversa.'“ Ele sugere que João entende que “a Cidade Santa que ele descreve não tem nada que ver com as especu­lações pagãs da sua época e de épocas passadas referentes à cidade dos deuses”.'“ Isto é, a nova Jerusalém é a verdadeira Cidade de Deus.
Um outro aspecto impressionante da cidade era que suas doze portas eram doze pérolas: cada uma das portas era uma pérola (21). Assim, o escritor busca descre­ver, em linguagem humana, a beleza magnífica da Igreja glorificada. A praça (lit.: cami­nho largo) da cidade também era de ouro puro, como vidro transparente. João está estendendo a capacidade da linguagem finita para descrever o indescritível. Mas ele não se delonga com esse pensamento; ele então descreve a maravilha da contínua presença de Deus na cidade. Demorar-se demais na ideia de caminhar em ruas de ouro na vida futura é malograr a verdadeira glória de viver na presença de Deus. Essa atitude mostra uma mente materialista, não espiritual.
c) A luz da cidade (21.22-27). João não viu um templo (22) na nova Jerusalém. Ela não precisa, porque o seu templo é o Senhor, Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. O Templo era um lugar de encontro entre Deus e o homem. Mas na nova Jerusalém, Deus sempre está presente para aqueles que estão lá, e assim nenhum templo é necessá­rio. Sua presença eterna torna toda a cidade um santuário.
Além disso, a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada (23). Exceto a última frase, esse versículo é um reflexo de Isaías 60.19: “Nunca mais te servirá o sol para luz do dia, nem com o seu resplendor a lua te alumiará; mas o SE­NHOR será a tua luz perpétua, e o teu Deus, a tua glória”. No Novo Testamento, não temos apenas a afirmação “Deus é luz” (1 Jo 1.5), mas também as próprias palavras de Jesus: “Eu sou a luz do mundo”.
Essa luz brilhante irradia por toda parte. Lemos: E as nações' andarão à sua luz (24). Isso se cumpriu parcialmente ao longo da era cristã, tal como a Igreja tem sido uma luz para as nações. Infelizmente, na história da Igreja na terra houve algu­mas épocas sombrias. O mesmo não se pode dizer da Igreja glorificada, a nova Jerusa­lém. Lá tudo é luz. E os reis da terra trarão para ela a sua glória e honra. O versículo 26 é praticamente uma repetição do versículo 24b. Essa predição foi parcial­mente cumprida na era da Igreja.
As portas dessa cidade não se fecharão de dia (25; cf. Is 60.11). Uma vez que ali não haverá noite, isso significa que as portas da nova Jerusalém sempre estarão aber­tas. Da mesma forma, as portas do Reino estão totalmente abertas hoje para aqueles que querem entrar por elas. Mas, embora as portas estejam sempre abertas, não entrará nela coisa alguma que contamine e cometa abominação e mentira, mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro (27). Na Septuaginta, as palavras gregas para abomi­nação e mentira são usadas para ídolos. Não haverá idolatria, material ou imaterial, no céu. Somente Deus será amado e adorado. Somente aqueles cujos nomes estão no livro da vida podem entrar na nova Jerusalém.


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